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Abrangência de manifesto no futebol preocupa federação dos atletas

Guilherme Costa e Gustavo Franceschini*

Do UOL, em São Paulo

26/09/2013 06h01

Oficialmente, os dois lados dizem que estão abertos a diálogo e aproximação. Contudo, a criação do Bom Senso F.C., movimento de um grupo de jogadores de futebol para pleitear mudanças na gestão do esporte, colocou esses atletas em colisão com as entidades de classe. Um dos motivos para isso é a proposta abrangente do coletivo.

A abrangência foi a principal alegação dos atletas para justificar por que eles não recorreram a entidades de classe. Segundo líderes do grupo, a ideia era mostrar que o movimento não seria focado apenas nos interesses dos jogadores de futebol.

“Não acho que isso tenha coerência. Se for verdade, começo a me preocupar com a possibilidade de não apenas os jogadores estarem envolvidos. Já deve ter mais gente interessada nessa situação, e isso me preocupa. Atleta tem de discutir seu bem-estar e questões como o calendário, o intervalo de jogos, a concentração e a viagem”, disse Alfredo Sampaio, presidente em exercício da Fenapaf (Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol).

Lançado na última terça-feira, o manifesto dos jogadores de futebol foi assinado por 72 atletas das duas principais divisões do Campeonato Brasileiro. Em primeiro lugar, o grupo pede uma reunião com a CBF para discutir o calendário do próximo ano.

O que preocupa a Fenapaf é o segundo foco do grupo. Os jogadores querem adotar uma bandeira de fair play financeiro, conceito criado no futebol europeu para controlar as dívidas e condicionar gastos de clubes às receitas.

“Fair play financeiro não é um assunto que cabe ao atleta. Isso já me deixa um pouco preocupado”, ratificou Alfredo Sampaio.

Quando tomou conhecimento do movimento, o presidente da Fenapaf mandou e-mails individuais a capitães de times do futebol brasileiro. Ele lamentou a exclusão das entidades de classe – Sampaio também preside o Saferj (Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Rio de Janeiro).

Alguns dos atletas responderam e disseram que o movimento não se opõe às entidades. Além disso, as mensagens endereçadas a Sampaio cogitam uma articulação de união entre Bom Senso F.C. e instituições que defendem os jogadores.

 

As ações dos últimos dias, porém, desmentem esse discurso conciliador das duas partes. Enquanto atletas se distanciam do modus operandi das entidades de classe, dirigentes de sindicatos e da Fenapaf fizeram críticas abertas ao comportamento do grupo.

Na terça-feira, em entrevista à “ESPN”, Sampaio defendeu uma greve nas duas últimas rodadas do Campeonato Brasileiro de 2013 e chegou a dizer que o zagueiro corintiano Paulo André, um dos líderes do movimento de atletas, “fala demais”.

Ao contrário dos sindicatos e da Fenapaf, que defendem uma ruptura, o Bom Senso F.C. alardeia uma postura voltada ao debate. Por isso, uma das metas do grupo é ser recebido pela CBF.

“Não me preocupo com um racha”, minimizou Sampaio. “Estou à frente do sindicato de atletas do Rio de Janeiro há muitos anos e sei o trabalho que eu faço. Os jogadores de futebol não se resumem a esse grupo, e eu penso no todo. Esse grupo é apenas uma parcela”, finalizou o dirigente.

A CBF diz que ainda não recebeu nenhum comunicado ou documento oficial do manifesto de atletas. Por causa disso, a entidade evita se pronunciar sobre o assunto.

* Colaborou Paulo Passos

JUCA CHAMA SINDICATO DE 'OPORTUNISTA'; BIRNER PEDE MENOS JOGOS

  • JUCA KFOURI - Como era de se esperar, os acomodados “sindicalistas do futebol” que há décadas fazem de seus cargos meros cabides de empregos, agora surgem radicalizando, propondo até greve e querendo tomar para si as conquistas trabalhistas dos atletas que jamais tiveram o dedo deles.

  • VITOR BIRNER - A reformulação do calendário do futebol brasileiro é muito importante. Se houver menos jogos, a qualidade deles aumentará. Com os atletas mais bem preparados na parte física, o nível técnico das partidas ficará mais alto.