Atletas se fecham, intrigam dirigentes, e manifesto ganha ar de maçonaria
Há um grande mistério no futebol brasileiro. Depois de lançar um manifesto criticando o calendário e cobrando mudanças no esporte, um grupo de 75 jogadores das duas primeiras divisões nacionais agendou uma reunião para a próxima segunda-feira. O encontro será realizado em São Paulo e servirá para debater os próximos passos do movimento. E isso é tudo que se sabe sobre o tema. O silêncio dos atletas intriga dirigentes de equipes e chegou a ser chamado de “maçonaria”.
A comparação deve-se a alguns dos atributos básicos da maçonaria. Trata-se de uma sociedade fraternal em que alguns dos alicerces são a discrição e o silêncio sobre o que acontece nas reuniões.
Nos últimos dias, o UOL Esporte entrou em contato com dirigentes da maioria das equipes representadas no manifesto. Alguns desses profissionais chegaram a questionar diretamente os atletas signatários sobre a reunião e os próximos passos do movimento. Como resposta, receberam negativas e silêncio.
A discrição também atingiu outros profissionais ligados aos atletas, como empresários e assessores de imprensa. Entre eles, foi praticamente unânime a ideia de que o silêncio é uma das provas mais contundentes da força do movimento.
“Eles não falam nada. Parece uma maçonaria”, disse um profissional que trabalha com alguns dos atletas que assinaram o manifesto.
O coletivo de jogadores foi lançado oficialmente na última terça-feira, quando o grupo publicou um manifesto contra o calendário proposto pela CBF para 2014. A entidade programou o início dos Estaduais para o dia 11 de janeiro, o que obrigaria os atletas a fracionar férias e impediria a realização da pré-temporada.
Depois da publicação do manifesto, os jogadores ainda admitiram que têm em mente um segundo objetivo para o grupo. A ideia deles é brigar pela adoção de práticas de fair play financeiro no futebol brasileiro.
A escolha do segundo tema reflete uma das características do grupo. Os jogadores querem mostrar que não trabalham apenas pensando no próprio bem e que a prioridade deles é melhorar o futebol.
Também é essa a justificativa para a formação do grupo, que priorizou atletas mais experientes e badalados. “É uma coisa importante para nós. Não estamos fazendo nada para atrair mídia. Queremos conversar e ver o que podemos reivindicar para o futuro”, explicou o lateral-direito Paulo Cesar, 35, que está sem clube e é um dos signatários do manifesto.
Até a questão das lideranças do manifesto mostra o quanto os jogadores estão fechados. O grupo é capitaneado por Alex (Coritiba), Juan (Internacional), Juninho Pernambucano (Vasco), Paulo André (Corinthians) e um quinto nome, que é mantido em sigilo pelos atletas.
O grupo começou a ser formado quando alguns desses jogadores perceberam que possuíam ideias e anseios comuns sobre o futebol brasileiro. Eles começaram a conversar, mantiveram contato via celular e passaram a monitorar a TV em busca de atletas que tivessem linha de pensamento parecida.
Então, os próprios jogadores fizeram contato com atletas de outras equipes para montar o grupo que assinou a primeira versão do manifesto. Essa é a justificativa deles, aliás, para algumas ausências na lista – nomes com os quais o grupo não tinha contato ou não conseguiu falar diretamente.
Até o lançamento, tudo foi feito em conversas diretas dos atletas. Isso preservou uma série de informações e moldou a discrição do grupo.
JUCA CHAMA SINDICATO DE 'OPORTUNISTA'; BIRNER PEDE MENOS JOGOS
JUCA KFOURI - Como era de se esperar, os acomodados “sindicalistas do futebol” que há décadas fazem de seus cargos meros cabides de empregos, agora surgem radicalizando, propondo até greve e querendo tomar para si as conquistas trabalhistas dos atletas que jamais tiveram o dedo deles.
VITOR BIRNER - A reformulação do calendário do futebol brasileiro é muito importante. Se houver menos jogos, a qualidade deles aumentará. Com os atletas mais bem preparados na parte física, o nível técnico das partidas ficará mais alto.
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