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Medo de brigas em seus restaurantes faz Levir vetar Curitiba como destino

Levir Culpi durante passagem pelo Atlético-MG, em 2007, seu último ano no Brasil - Folhapress
Levir Culpi durante passagem pelo Atlético-MG, em 2007, seu último ano no Brasil Imagem: Folhapress

Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

15/10/2013 06h00

Louco para voltar para o Brasil. É assim que está atualmente o técnico Levir Culpi após aproximadamente sete anos distante do país e no comando do Cerezo Osaka, do Japão. O bom salário e a estabilidade no cargo já não são mais as prioridades.

O treinador se diz cansado de ficar tanto tempo fora do país de origem e ficará disponível ao mercado nacional a partir de dezembro.

“Estou com saudades do Brasil, este ano já deu pra mim, chega de Japão. Está encerrado o ciclo do Levir Culpi no Japão, só se acontecer uma situação anormal muito especial, caso contrário acabou”, falou.

Levir, curiosamente, só coloca restrição a um centro do país: Curitiba, sua cidade natal e onde foi revelado como jogador, no início da década de 70, pelo Coritiba. Como treinador, já passou por todos os grandes clubes da capital, mas a chance de trabalhar lá agora não existe.

O motivo, segundo o técnico, é o fato de possuir dois restaurantes na capital paranaense. Um de comida mineira, chamado “Tempero de Minas”, e outro de comida japonesa, “Azuki Sabores do Japão”.  O receio do técnico é de que seus estabelecimentos comerciais sejam vítima de vândalos caso tenha a imagem associada à de um clube da cidade.

“Já decidi que não trabalho em Curitiba. Abrimos recentemente o Azuki Sabores do Japão e há 18 anos temos o Tempero de Minas. Mas pense bem, imagine eu sendo derrotado em um Atlético-PR x Coritiba, o que pode acontecer com os restaurantes? Pensei bem e não tem chances. Em Curitiba, é só para me divertir e encontrar minha família”, relatou.

O ex-técnico de Cruzeiro, Atlético-MG, Palmeiras, São Paulo e Botafogo, entre outros, diz que vai lançar um livro no começo do ano que vem, chamado de “O Burro com Sorte”. O nome faz referência a um episódio em que assim foi chamado por um torcedor no alambrado que questionava suas substituições em uma partida. Ganhou o adjetivo citado ao rebater o torcedor que o xingava dizendo que o jogador que colocara em campo havia decidido o jogo.

A obra, segundo Levir, falará de outras histórias vividas pelo técnico e também mostrará sua visão crítica quanto à estrutura profissional em geral no Brasil. Ele diz que muitos profissionais ocupam vagas para as quais não têm qualificação necessária, inclusive os treinadores de futebol.


“O maior problema que temos no Brasil é a educação. Nós não temos curso para qualificação de técnicos. Não temos um cara qualificado para ser treinador profissional. E você coloca uma pessoa que acha que vai dar certo em muitas outras áreas do país. Para ser presidente, você não precisa nem ter o segundo grau completo. O Ministro da Agricultura é engenheiro, e daqui a pouco o médico vai trabalhar com finanças”, reclamou.

“Infelizmente, as coisas acontecem dessa maneira. Eu defendo cursos para treinadores, como ocorre na Europa. Lá você não treina um clube se não tiver um curso de capacitação. No Brasil, é só o cara ter um dom de se expressar e liderar que ele vai e assume alguma coisa, entendeu?”, questionou.

Rebaixamento no Palmeiras

Levir Culpi foi um dos treinadores que passaram pelo Palmeiras durante o Campeonato Brasileiro de 2002, quando a equipe foi rebaixada pela primeira vez para a segunda divisão nacional. Foi ele quem ficou até o final.

Na época, Levir foi “absolvido” pela maioria dos torcedores, que culpam até hoje Vanderlei Luxemburgo por ter desmontado o time e dispensado vários atletas e depois acertado saída para o Cruzeiro. Depois dele, ainda passaram pelo time Murtosa e Wilson Macarrão.

O treinador paranaense conta que queria ter comandado o time na Série B para pagar a dívida e que nem discutiria salários para isso.

“Lembro que quando chegamos de Salvador (local do rebaixamento), a torcida não me cobrou muito. Ela via que eu não podia fazer muita coisa, então na chegada a São Paulo, os jogadores ficaram no meio do caminho. Eles pegaram táxi e foram pra casa. A conclusão é que eu cheguei no hotel, sozinho, e falei: 'Olha não quero nem falar em dinheiro. Se quiserem que eu fique aqui para recuperar o time no ano que vem, por mim eu fico tranquilamente'. Eu ficaria sem discutir base salarial".

Como ironia do destino, Levir acabou acertando na temporada seguinte com o Botafogo, que também havia sido rebaixado. O clube carioca e o paulista conseguiram acesso à Série A no mesmo dia. “Quando os dois times subiram juntos, me senti aliviado. Mas não tenho mágoa do Palmeiras.”