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Contrato de produtividade não funciona para atleta de ponta, avalia mercado

Mauricio Duarte

Do UOL, em São Paulo

05/12/2013 06h00

Assim como fez com o treinador Gilson Kleina, o Palmeiras quer implementar para seus atletas o modelo de contrato por produtividade. O mercado, no entanto, enxerga a iniciativa com restrições. Empresários ouvidos pelo UOL Esporte acreditam que esse tipo de vínculo só irá funcionar para promessas ou atletas em fim de carreira. Jogadores de ponta dificilmente aceitarão esse tipo de acordo.

Adriano Spadoto cita um exemplo bastante claro. Empresário de Bernard, revelou que o primeiro contrato profissional do atacante com o Atlético-MG foi por produtividade. Hoje, sendo um dos nomes mais promissores da seleção brasileira, uma negociação desse tipo seria inviável. Apesar disso, recomenda o modelo para jovens jogadores terem a oportunidade de vestir a camisa de um clube grande.

“É um risco para os dois lados, tanto para o clube quanto para o jogador. Do jeito que está a crise de clubes, vale a pena. É complicado, o mercado hoje está muito supervalorizado. O jogador brasileiro não quer mais ir para fora, ele ganha muito bem aqui hoje”, comentou o agente.

O empresário Guilherme Miranda, que trabalha com o lateral direito Luis Felipe, que está deixando o Palmeiras, afirma que um atleta de ponta sempre terá uma proposta melhor do que o contrato por produtividade na hora de escolher. Desta forma, quem optar por oferecer esse tipo de contrato vai perder na concorrência.

“Jogador muito bem remunerado não vai correr risco. A máxima é que jogador que joga é sempre barato para o clube. Ele dá retorno. O problema é que tem quem receba muito e não jogue. Se for para apostas, nomes menos tarimbados, ou em final de carreira, aí é válido”, avaliou.

“É o método deles agora. Vai depender de um monte de coisa, tem que ver os parâmetros que vão colocar. Nossa cultura não é essa, mas eles têm todos os direitos de apresentar, e o jogador de aceitar ou não. Os clubes faziam isso quando o jogador tinha histórico de contusão, de balada. Não sei se isso pega”, acrescentou Cláudio Guadagno, empresário do volante Márcio Araújo, que negocia para renovar contrato com o Palmeiras.

Junior, agente que trabalha com Wagner Ribeiro, empresário de nomes como Neymar e Lucas, vê a iniciativa com bons olhos na teoria, mas sabe que, na prática, dificilmente funcionará no Brasil. Só seria viável caso os clubes se unissem para adotar esse modelo, algo que está longe de acontecer. “Você evita erros e os clubes contratam com mais segurança. Mas a verdade é que jogadores renomados não gostam disso. Apesar disso, se pratica muito na Europa”, disse. Outro problema, segundo ele, é a alta rotatividade de técnicos. “Chega um novo treinador, saca o cara do time e ele perde as bonificações”, justificou.

Paulo Nobre, presidente do Palmeiras, defende a ideia de que o atleta pode vir a receber muito mais com a produtividade atrelada ao contrato do que ele receberia com o salário normal. É uma prática muito comum no mundo dos executivos de grandes corporações, mas encontra resistência no futebol brasileiro.

“Em toda mudança você encontra uma resistência inicial, até as pessoas envolvidas entenderem a filosofia. Com o Kleina foi mais fácil devido ao ótimo relacionamento dele com o clube, sempre tivemos um diálogo transparente. A minha transparência me deu credibilidade para que ele entendesse a filosofia da ideia”, afirmou.

O contrato de produtividade prevê bonificações de acordo com metas atingidas. No caso, podem ser a quantidade de jogos disputados, títulos etc. “Já iniciamos o conceito da produtividade na hora de pagar o ‘bicho’, foi assim que fizemos em 2013. Estamos tentando chegar a uma forma ideal para deixar essa produtividade muito clara. O conceito da produtividade não é pagar menos, mas pagar muito mais do que receberia”, explica Nobre.

O Bom Senso FC, movimento encabeçado por diversos atletas e que luta por mudanças no futebol nacional, prefere não opinar sobre o tema por enquanto. Por meio de sua assessoria de imprensa, disse que “o foco do momento não é esse. Não é debater isso agora, e sim o calendário”, completando que o modelo de negócios é uma “opção de cada clube”.

Já a Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf), por meio de seu presidente, Rinaldo Martorelli, afirmou “que só poderá avaliar de forma jurídica o contrato se tiver o modelo. Não tem como avaliar se é bom ou não baseado em hipótese, já que nenhum jogador se manifestou sobre o assunto”.