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Marroquinos reprovam guia do Atlético-MG e veem preconceito de estrangeiros

Aberta a novas culturas, Marrakech reúne pessoas do mundo inteiro - AFP PHOTO /ABDELHAK SENNA
Aberta a novas culturas, Marrakech reúne pessoas do mundo inteiro Imagem: AFP PHOTO /ABDELHAK SENNA

Luiza Oliveira

Do UOL, em Marrakech (Marrocos)

12/12/2013 11h10

Uma viagem ao Marrocos desperta uma série de receios por causa da diferença de cultura e o a rigidez da religião islã, algo tão distante de um país liberal como o Brasil. Mas os marroquinos vão contra essa ideia e reclamam de preconceito por parte dos estrangeiros que não conhecem a cultura local do país.

O radicalismo dos muçulmanos a submissão das mulheres aos homens na religião são algumas das preocupações comuns aos brasileiros. Até o Atlético-MG se precaveu para não desrespeitar os costumes locais e criou uma cartilha para seus jogadores com dicas e ensinamentos sobre o estilo de vida do país antes do Mundial de Clubes.  

Mas o marroquinos reprovaram o guia e acreditam que há um exagero. Eles dizem que alguns itens são falsos como não poder beber e comer na rua, não poder festejar nas ruas e ser crime fotografar pessoas sem autorização.

Na visão da estudante Wassima Anwar, há preconceito na interpretação dos costumes. “Você pode fazer o que quiser, menos beber bebida alcoólica e cumprimentar as mulheres. É uma falsa ideia sobre as tradições marroquinas, eles não sabem as coisas corretas. É preconceito. Talvez porque seja a primeira vez no Marrocos”, disse.

O educador físico Yassine Aneijax diz que é preciso viver no país para aprender.“Eu acredito que muitas pessoas não vão entender a cultura marroquina até eles viverem no país. Muitos estrangeiros têm um julgamento errado sobre nós”, disse.

Outras recomendações presentes na cartilha são regras apenas para os muçulmanos e não precisam ser seguidas pelos estrangeiros que visitam o país. Por exemplo, lavar as mãos nos jarros de águas santas antes das refeições e comer com a mão direita são atitudes típicas apenas de quem cumpre os ensinamentos do Corão.

De acordo com os locais, também não há uma proibição de mulheres irem a bares e ingerirem bebida alcoólica. A administradora de empresas Laila Hadi explica que as muçulmanas não frequentam este tipo de local por serem recatadas, e bebidas alcoólicas são proibidas no Islã.

No entanto, quem não segue a religião está liberado para agir como quiser e usar as roupas da sua preferência, inclusive as mulheres, apesar de as muçulmanas usarem roupas longas e largas e lenço para cobrir os cabelos. "Claro que o bom senso é sempre bem-vindo e roupas muito decotadas são sinais de desrespeito", conta Laila.

Em cidades grandes como Marrakech, Agadir e Casablanca, principalmente, outras culturas são bem aceitas e respeitadas. Andar pelas ruas de Marrakech é bem mais tranquilo do que o esperado pela maioria dos brasileiros. As mulheres são respeitadas mesmo andando sozinhas e sem usar roupas largas e lenço.

Apesar de não ser a maioria, é frequente ver mulheres em bares, especialmente as estrangeiras. É também normal a venda de bebidas alcoólicas de todos os tipos em bares, restaurantes, casas noturnas e hotéis sem qualquer tipo de retaliação dos habitantes locais.

“O Marrocos é um país muçulmano liberal e é tem um ótimo mix entre a cultura muçulmana e a modernidade. É um país cheio de diversidade. É um dos melhores países para turismo. Não há com o que se preocupar”, conta Laila.

Veja algumas recomendações da cartilha do Atlético-MG para seus jogadores:
 
– Beber e comer na rua é desrespeito
– Bebida alcoólica apenas em bares, restaurantes e hotéis
– Mulheres não podem ir aos bares
– Fotografar e filmar pessoas sem autorização é crime
– Roupa provocante é sinal de desrespeito
– Ficar sem camisa é atentado ao pudor
– Lavar as mãos nos jarros de águas santas antes das refeições
– Comer com a mão direita
– Não pode gritar e festejar nas ruas, é crime
– Não pode cumprimentar mulheres
– Usar roupas compridas, short e camisetas não são costumes bem aceitos
  • Luiza Oliveira/UOL

    Jovens muçulmanas em Marrakech consideram que têm mente aberta para outras culturas