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Advogado do Flu no 'tapetão' é artilheiro de pelada com rebaixados de 97

Renan Rodrigues

Do UOL, no Rio de Janeiro*

26/12/2013 06h00

Ele teve o nome gritado pela torcida na porta do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva). Um sósia foi carregado nos ombros pelos tricolores e até rivais brincam pedindo o ‘reforço’ de Mário Bittencourt para suas equipes. Mais que simples advogado do Fluminense no processo que pode manter o clube na série A em 2014 e rebaixar a Portuguesa, o jurista reforçou o status de ‘estrela’ nas Laranjeiras e é até artilheiro de peladas com ex-jogadores.

No Fluminense desde 1998, quando começou como estagiário não remunerado – o clube vivia crise financeira, devendo meses de salários a funcionários e jogadores – Bittencourt já passou até mesmo pelo departamento de futebol profissional.

Em 2009, na arrancada que evitou um rebaixamento praticamente certo, e 2011, assumiu o posto de diretor executivo, negociando jogadores e tendo relação direta com Celso Barros, presidente da patrocinadora Unimed Rio. Nos corredores do clube, o advogado não esconde o sonho de um dia ser mandatário do tricolor carioca.

Fora dos julgamentos e salas de reunião, Bittencourt adota estilo irreverente e até caricato. Funcionários do clube destacam o bom-humor do defensor. Conta piadas, ‘causos’ e vantagem sobre o desempenho como atacante amador em peladas. Além disso, os anos de trabalho no Fluminense criaram uma amizade forte com diversos ex-jogadores.

Muitos deles, como o goleiro Wellerson, que esteve presente no título Carioca de 95, do 'gol de barriga', e na campanha do time rebaixado à série B do Brasileirão em 1997, participam das peladas de Bittencourt. As partidas são disputadas também com integrantes do escritório do advogado, o ‘Bittencourt & Barbosa Advogados Associados’.

“Ele é um bom atacante, leva jeito para a coisa. Sabe chutar e se posiciona bem. Prepara até comemoração especial e dá nome aos gols. É um personagem”, contou o ex-goleiro Wellerson ao UOL Esporte.

Os volantes Duílio e Marcão, também campeões com o Fluminense, são outros integrantes das partidas. Alguns participam de maneira fixa, enquanto outros ex-atletas vão aos jogos esporadicamente. 

Outros ex-jogadores que não defenderam o Fluminense também comparecem ao encontro. Nomes como Carlos Alberto Santos, que atuou no Botafogo, e Mauro Galvão, que se destacou por Grêmio e Vasco. A habilidade de Bittencourt vem do tempo em que o advogado foi jogador de futsal na infância.

A pelada que acontece todas as sextas-feiras em um clube na Barra da Tijuca é coisa séria para Bittencourt. Com direito a contagem do número de gols em um caderno e relato dos jogos no site do escritório de advocacia. O advogado-artilheiro tem 215 gols em 88 jogos e detalha até os tentos marcados de cabeça, pênalti, perna esquerda ou direita.

“O esquadrão jurídico futebolístico é uma máquina. A noite foi de Christiano Campos, já que Mário Bittencourt estava exausto em razão do processo no STJD que debatia a perda de pontos de Flamengo e Portuguesa”, diz trecho do relato de uma das peladas do advogado, que teve arbitragem de ‘Kadu Moliterno’, um 'sósia' do ator.

Presidência e Unimed
Bittencourt nutre o sonho de um dia ser mandatário do Fluminense. O nome inclusive foi cogitado por grupos políticos neste ano, mas Siemsen optou por tentar a reeleição após um período de dúvida e era nome de concesso da situação. Durante o julgamento do caso de escalação irregular da Portuguesa no STJD, tricolores gritaram o nome do advogado e pediram que ele assumisse o comando do clube.

Na Unimed, porém, uma possível candidatura de Bittencourt é vista com ressalvas. Funcionários da empresa de saúde dizem que o advogado não é entusiasta do modelo de patrocínio da cooperativa de saúde e que faz críticas a Celso Barros. O ‘Flusócio’, grupo de Siemsen, também defende maior independência do time carioca nas decisões do futebol, como contratações e escolha de treinadores, preparando o Fluminense para uma possível separação.

A participação de Bittencourt em outras áreas se mantém mesmo com a função exclusiva de advogado do clube. Durante a reta final do Campeonato Brasileiro deste ano, na luta do Fluminense contra a queda, o defensor visitou o vestiário tricolor. Convidado pelo presidente e pelo ex-diretor de futebol Rodrigo Caetano, conversou com os jogadores por alguns minutos e fez um discurso motivador.

Além disso, o advogado também tornou-se o principal defensor da imagem do Fluminense na imprensa. Fez críticas à acusação de que o clube estaria ‘virando a mesa’ e disse que não iria comemorar a decisão nos tribunais.

“Houve um massacre para transformar este julgamento em um clamor público e afastar ele do que determina a legislação. O curioso é que as teses foram mudando conforme o julgamento prosseguia. Nitidamente é um movimento contra o Fluminense, que a gente repudia e que vamos lutar até o final para que se cumpra o contrato da competição” disse o advogado em entrevista à Rádio Tupi.

Julgamento
Bittencourt estará presente no julgamento das escalações irregulares de Héverton, da Portuguesa, e André Santos, do Flamengo. O caso será analisado nesta sexta-feira, às 11h, pelo Pleno do STJD, na última instância do órgão. Na condição de ‘parte interessada’, o advogado tricolor pode pedir a palavra e apresentar alegações favoráveis à condenação dos clubes.

No primeiro julgamento, Bittencourt levou a melhor sobre os outros advogados defendendo a tese de que o regulamento deveria ser cumprido para que não se criassem brechas e interpretações da lei. Com atuação até mesmo teatral em alguns momentos, ele conseguiu manter os auditores imunes às tentativas de convencimento de Flamengo e Portuguesa.

CONFIRA OUTRAS DECISÕES POLÊMICAS DO STJD

  • 2004 - São Caetano - São Caetano punido com a perda de 24 pontos no Campeonato Brasileiro pela suposta escalação irregular do zagueiro Serginho, que morreu cerca de uma hora após desmaiar durante jogo contra o São Paulo, no Morumbi.

    2005 - Brasileirão - O Campeonato Brasileiro de 2005 vivenciou uma das maiores polêmicas do futebol nacional, quando foi descoberto que o árbitro Edílson Pereira de Carvalho havia manipulado 11 jogos por um esquema de apostas. A polêmica aumentou porque o STJD decidiu anular os 11 jogos e repeti-los novamente. O Corinthians tinha dois de seus jogos entre os 11. Não havia feito nenhum ponto nestes duelos, mas, com a repetição, fez quatro. Foi campeão com três pontos acima do Internacional, o vice-campeão.

    2008 - Grêmio - O zagueiro Léo foi punido com 120 dias de suspensão, o também defensor Réver pegou gancho de três jogos, e o atacante Morales não poderá atuar por oito partidas. Os três jogadores foram julgados por lances ocorridos na partida contra o Botafogo, no último dia 4, em que o Grêmio venceu por 2 a 1. Léo, que foi expulso na oportunidade, foi indiciado por chutar Jorge Henrique, do time carioca, sem a bola estar em disputa. Já Rever foi punido por empurrar o meia Carlos Alberto, e Morales era acusado de fazer falta violenta no lateral Alessandro.

    2009 - Coritiba - O Estádio Couto Pereira será interditado até serem atendidas melhorias de segurança a serem determinadas pela CBF. Depois de cumprida esta pena, passa a valer a cassação de 30 mandos de campo, válida para os jogos da Série B e da Copa do Brasil. Além disso, o clube terá de pagar multa de R$ 610 mil. Acabou cumprindo dez perdas de mando.

    2009 - Botafogo - Pego no doping, o atacante Jobson foi punido com dois anos pelo STJD. Porém, depois teve pena abrandada para seis meses. Ele foi flagrado pelo uso de cocaína em dois exames antidoping realizados na reta final do Brasileirão- contra Palmeiras e Coritiba.

    2010 - Canedense - A briga que envolveu torcedores da Canedense e jogadores do Vila Nova-GO deixou um jogador do time visitante queimado e fora dos gramados por 40 dias. Após a confusão, o STJD resolveu interditar o estádio por 30 dias.

    Mamoré 2010 - Vitinho foi escalado de maneira irregular em jogos do Módulo II e o Clube Patense foi derrotado. Os auditores entenderam que houve a irregularidade e por 8 votos contrários decretaram o Mamoré culpado e decretaram a perda de 7 pontos dentro do Módulo II.

    2010 - Grêmio Prudente- A equipe do interior paulista escalou o zagueiro Paulão em partida contra o Flamengo, pela 3ª rodada do Brasileirão, no final de semana. O problema é que o defensor havia sido suspenso pelo STJD na sexta-feira, e não poderia ter entrado em campo no Macaranã. A defesa do Prudente alegou que o tribunal só notificou o clube na segunda-feira, mas não houve conversa: o time teve três pontos subtraídos e ainda teve que pagar multa de R$ 1 mil. Paulão também foi julgado e corria risco de ser suspenso por um ano, mas foi absolvido.

    2011 - Rio Branco, do Acre, foi desclassificado da Série C do Campeonato Brasileiro 2011. O clube foi punido pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e, além da eliminação, teve que arcar com mais de R$ 13 mil em multas. O time infringiu o artigo 231 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) ao mandar um jogo na Arena da Floresta, que havia sido interditada.

    2013 - Carlos Alberto - Carlos Alberto, atualmente sem clube, foi condenado a um ano de suspensão por doping.

    2013 - Paysandu - Perda de seis mandos de campo e mais R$ 80 mil de multa pecuniária. O clube foi julgado na sede do órgão, no Rio de Janeiro, por conta dos incidentes que aconteceram na partida contra o Avaí, no dia 18 de outubro, no Estádio da Curuzu. Na ocasião, um grupo de torcedores bicolores arremessaram objetos ao gramado, inclusive bombas caseiras, e a partida foi encerrada pelo árbitro Grazianni Maciel Rocha aos 37 minutos do segundo tempo.

*Atualizado às 17h25