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Ex-dirigente da Portuguesa diz que Sestário confessou erro e pediu desculpa

Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

28/01/2014 06h01

O Ministério Público de São Paulo ainda tenta entender se alguém na Portuguesa agiu deliberadamente ao escalar o meio-campista Heverton, pivô de uma polêmica que fez a equipe rubro-verde perder quatro pontos e ser rebaixada para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Para uma pessoa no Canindé, porém, está claro quem é o culpado nessa história. Valdir Rocha, que ocupou até o fim do ano passado a vice-presidência jurídica do time paulista, responsabilizou Osvaldo Sestário, advogado que representou o clube no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva). Segundo o ex-dirigente, o jurista chegou a admitir o erro e pedir desculpas.

“Na terça-feira depois do jogo contra o Grêmio, o presidente Manuel da Lupa ligou para o Sestário, que disse: ‘Me desculpem. Foi um lapso e eu assumo a culpa’. O filho do [então] presidente estava na sala, ouviu a conversa e pode confirmar a história”, relatou Rocha em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

A Portuguesa foi punida por ter escalado o meio-campista Heverton, que estava em situação irregular na última rodada do Campeonato Brasileiro de 2013. Ele entrou no lugar de Wanderson aos 32min de um empate sem gols com o Grêmio.

Heverton havia sido expulso em jogo contra o Bahia. Ele cumpriu suspensão automática na rodada seguinte, diante da Ponte Preta, mas foi julgado pelo STJD na sexta-feira que precedeu o embate com o Grêmio. Pegou dois jogos.

O julgamento foi realizado no Rio de Janeiro, e a Portuguesa foi representada no local por Osvaldo Sestário. O advogado trabalha para mais de uma centena de clubes em sessões do STJD.

“O doutor Sestário foi muito sacana. Ele tirou o nome dele da reta e colocou o meu. Não sei se foi descuido dele, que tinha muitos julgamentos, mas ele fala que avisou e não avisou. Acho que ele só disse que falou conosco para não perder a clientela, mas eu conversei com todo mundo na Portuguesa e expliquei que ele não entrou em contato. Estou há 11 anos no clube e não ia cometer um deslize assim”, disse Rocha.

A antiga diretoria deixou a Portuguesa no fim do ano passado. Manuel da Lupa foi substituído por Ilídio Lico no comando do clube, e Orlando Cordeiro de Barros assumiu a vice-presidência jurídica. Valdir Rocha seguiu trabalhando no Canindé.

Neste ano, questionado sobre isso, Cordeiro de Barros disse que não podia dispensar Rocha porque não tinha qualquer certeza de envolvimento dele no caso. Sestário foi dispensado e não trabalha mais com a Portuguesa.

“Eu não posso dizer que foi premeditado, mas é o seguinte: o Sestário esqueceu de nos avisar. Eu sei que ele tem ligação com o advogado do Fluminense e que defendeu o Fluminense na semana anterior a esse julgamento. Não posso afirmar que tenha sido premeditado, mas não vou deixar falarem que ele me ligou. Ele não me ligou! Eu liguei diversas vezes para ele no sábado, e depois de uns 15 ou 20 minutos ele falou que estava com um problema porque tinha trocado de celular. Se houvesse uma sistemática para transmitir as gravações feitas, sem dúvida alguma a verdade viria”, declarou o ex-vice-presidente jurídico da Portuguesa.

O MP-SP instaurou no início de janeiro um inquérito sobre o dispositivo usado para condenar a Portuguesa. A punição foi baseada no artigo 133 do CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva), mas o entendimento da Promotoria do Consumidor é que esse texto foi revogado em 2010 pelo Estatuto do Torcedor.

Paralelamente, o MP-SP tem feito uma investigação sobre o que levou a Portuguesa a colocar Heverton em campo. Na última segunda-feira, em entrevista à “Rádio Bandeirantes”, o promotor Roberto Senise Lisboa disse que há “fortes indícios de que alguém no clube recebeu vantagem”.

Senise Lisboa já ouviu pelo menos cinco dirigentes ligados à Portuguesa, além do técnico Guto Ferreira. Oficialmente, todos negaram qualquer ciência sobre a situação de Heverton.

Enquanto isso, a Portuguesa tem feito uma sindicância interna. O novo presidente do clube, Ilídio Lico, já admitiu que ao menos duas versões de funcionários sobre o caso “não foram convincentes”.

A versão de Valdir Rocha é que ele e Sestário conversaram na sexta-feira do julgamento, mas às 10h. No sábado, o então vice-presidente de futebol da Portuguesa, Roberto dos Santos, telefonou para o vice jurídico. Perguntou sobre o que havia acontecido no STJD na sexta-feira, sobretudo por uma preocupação com o atacante Gilberto.

“A gente tinha essa praxe: quando ele não me ligava era porque o atleta tinha pego uma partida ou sido absolvido. Nós estávamos tentando um efeito suspensivo do Gilberto e o tiramos do jogo. Também não escalamos um volante que havia recebido o terceiro cartão amarelo”, relatou Rocha.

Procurado pelo UOL Esporte, Sestário não atendeu as ligações até a publicação da reportagem.