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Clubes queriam mais gringos no Brasil. Mas agora podem e não aproveitam

Guilherme Ceciliano, Fernando Stella, José Ricardo Leite e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

05/02/2014 06h00

A economia e moeda mais fortes do Brasil em relação às dos “hermanos” sul-americanos ainda não têm feito a diferença dentro do mercado do futebol, apesar das facilidades criadas pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) no ano passado para se ter mais estrangeiros em campo.

Há dois meses, depois da reivindicação de alguns clubes, a entidade máxima do futebol brasileiro aumentou de três para cinco o limite de gringos que podem atuar por equipe em campo. Mesmo assim, a aquisição de atletas de fora diminuiu, ao invés de aumentar. 

Se comparados os elencos dos 20 times que terminaram a Série A do ano passado com o dos 20 que começarão na elite em 2014, houve decréscimo de um estrangeiro. Isso porque existiam 42 gringos ano passado nos clubes da primeira divisão, enquanto agora são 41.

O curioso é que alguns dos clubes que mais pleitearam pelo aumento do número de estrangeiros não usaram bem a nova regra. Um deles foi o Internacional, que terminou 2013 com quatro estrangeiros (D’Alessandro, Bolatti, Forlán e Scocco), mas tem apenas dois esse ano (D’Alessandro e Aránguiz).

Outros dos que mais fizeram lobby também pouco aproveitaram os dois meses de mercado para obter êxito em negociações com estrangeiros. O Grêmio tinha quatro estrangeiros no ano passado e agora tem o mesmo número (fez uma contratação, Alan Ruíz, e perdeu Vargas e deve manter Canavesio no time B). Mesmo caso do Vitória, que também queria mais gringos e tem três em seu elenco, assim como ano passado (perdeu Maxi Biancucchi e contratou Ferrari).

O clube colorado reforça o interesse em jogadores de fora, principalmente dos sul-americanos, e justifica a queda de gringos no elenco por outros motivos, como o alto custo que alguns deles tinham.  “O Scocco quis sair do clube, o Forlán custava muito caro e o Bolatti não vinha sendo aproveitado. Foi algo circunstancial, já que o Inter gosta de estrangeiros e em breve deve ter mais. É um mercado importante e estamos em uma situação econômica melhor do que a dos países vizinhos”, falou Eduardo Lacher, diretor de futebol.

A explicação do Vitória é a de que a luta pra aumentar o número de vagas significa ter mais opções de mercado, mas não que necessariamente é o estrangeiro que vai ser o melhor negócio. Por isso, aumentar ou não o número não significa não estar desejando esses atletas.

“Não preenchemos as cinco vagas porque ainda não deu certo. Mas tem que ter qualidade e estar dentro do orçamento do clube. Brigamos pelo aumento pra aumentar o mercado novo, mas analisamos caso a caso”, disse Epifânio Carneiro, vice-presidente de futebol do Vitória.

O time que melhor negociou em dois meses com atletas de fora do país foi o São Paulo. Antes apenas com Clemente Rodríguez, a equipe do Morumbi tem agora três estrangeiros a mais contratados na janela ou que voltaram de empréstimo; Álvaro Pereira, Pabón e Cañete. A diretoria do clube avalia que esse tipo de jogador é o que pode trazer melhor custo benefício e ser uma aposta mais segura.  “O conceito de importação é um conceito universal. Você importa pessoas qualificadas da mesma maneira que você importa produtos ou serviços. Quando pensamos em trazer alguns jogadores de fora, avaliamos a grande vantagem em relação às possibilidades brasileiras, levando em conta questões técnicas e financeiras”, falou João Paulo de Jesus Lopes, vice-presidente de futebol do clube.

Há clubes da Série A que não têm nenhum estrangeiro desde 2013, como Chapecoense e Figueirense. Mas ambos se posicionam a favor de estrangeiros e dizem que em breve seus elencos podem ter esse perfil de atleta, desde que se enquadrem na política salarial. “O mercado argentino é um dos alvos. Isso não ocorreu no Campeonato Catarinense porque temos uma receita menor para trabalhar”, falou Cadu Gaúcho, gerente de futebol da Chapecoense.

“Não temos nada contra atletas estrangeiros. Mas só iremos atrás desse atleta caso esteja inserido em nosso perfil esportivo, na necessidade de nosso treinador e, principalmente, dentro da limitação financeira do Figueirense. Hoje, esses atletas querem vir para o Brasil e ganhar muito mais do que ganham em seu país. Isso é outro complicador. Seria necessário um salário compatível”, endossou Rodrigo Pastana, superintendente do Figueirense.

O empresário Régis Marques, que é um dos principais agentes que negociam jogadores sul-americanos com o futebol brasileiro, cita dois pontos para explicar porque entende que o volume de contratações tem sido baixa. “Eu acho que a grande contratação vai ser pro Campeonato Brasileiro. Os clubes não vão gastar para os Estaduais. O salário do estrangeiro é baixo perto do Brasil, mas tem o preço da contratação. Os clubes estão sem dinheiro, e esse ano de 2014 não teve nenhuma grande negociação, é mais por causa de dinheiro mesmo, pois os times estão voltando à realidade pé no chão”, argumentou.