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Craques que quase apanharam da torcida preveem: "Vai ter jogador morto"

Luis Augusto Símon e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

05/02/2014 06h00

Edílson, o Capetinha, e Freddy Rincón foram campeões mundiais pelo Corinthians em 2000 e deixaram o clube após brigas terríveis com a torcida. Hoje, têm pensamento muito parecido sobre o momento atual, com torcedores invadindo o centro de treinamento da equipe e agredindo jogadores. Eles acham que isso só vai acabar depois de acontecer uma tragédia.

“Estão esperando alguém morrer para tomar alguma atitude. Aí, vão correr atrás e será muito tarde. Vai ter um jogador morto e uma família abandonada”, diz Rincón. “A situação está descontrolada e vai ter um final muito dramático. Se não houver reação das autoridades, pode ter morte, sim”, lamenta Edílson.

Os dois craques pedem atitude aos poderes governamentais – Edílson fala na presidente Dilma Rousseff e Rincón no governador Geraldo Alckmin – por serem descrentes de algum ação mais concreta do clube.

“Olha, eu vejo isso com uma tristeza muito grande. Quando saí do Corinthians fiquei triste mas me consolei pensando que meu sacrifício iria servir para alguma coisa. Já passaram 13 anos e tudo está igual. Entra presidente, sai presidente e a relação com as organizadas continua. Ninguém quer romper com eles. Então, tem de esperar ajuda é da presidente mesmo”, analisa Edílson.

Para Rincón, é necessário aprender com outras experiências. “Os ingleses acabaram com os hooligans. Mandem alguém lá para aprender. Para ele, relação entre diretoria e torcida nunca vai mudar, por um motivo simples. “É uma ligação que interessa para os dois lados e que ninguém quer mudar. É só prestar atenção. Sempre foi assim e o clube é que sai prejudicado, perdeu o Tevez e o Edílson, só para lembrar dois nomes”.

Eles acham que todos os avisos já foram dados. Não há mais desculpas. “Como a diretoria vai dizer que não sabe o que as organizadas fazem se houve até morte lá na Bolívia. O que isso traz de bom para o clube? Mesmo assim, continuam apoiando”, reclama Edílson.

Quem também sofreu com a violência dos torcedores foi o lateral Roberto Carlos. Ele foi um dos maiores alvos da fúria da torcida após a eliminação do Corinthians para o Tolima na pré-Libertadores de 2011. Segundo ele, a atitude dos torcedores no último sábado pode ter sido motivada por interesses políticos dentro do clube.

"Isso aí é coisa de oposição. Os caras da oposição dão dinheiro para a torcida organizada e esses bandidos acabam invadindo o campo de treinamento. O que eu vivi depois do jogo contra o Tolima foi a mesma coisa. Os caras jogando bomba no Ronaldo, jogando bomba para cima de mim, dos meus seguranças, do meu carro. O clube também tem que parar de ficar facilitando a entrada dessas pessoas no treinamento e viagens. A culpa maior aí é do Corinthians por ter liberado e facilitado. É só o Corinthians que pode por um basta", afirmou o ex-jogador.

Roberto Rivellino, ídolo do Corinthians que também sofreu com essa situação, pensa diferente. "Daqui a pouco eles estarão brigando novamente no estádio, porque não acontece nada. Não vai ganhar jogo, pelo contrário. A diretoria do Corinthians e de outros clubes deveria fazer um movimento, tomar algumas atitudes. Tem de banir as uniformizadas do futebol, porque amanhã vai ter uma morte. Como vai ficar a situação? Não para nunca? É uma bola de neve, infelizmente", diz ele. 

Rincón lembra que passou por uma situação muito difícil e que não teve apoio de ninguém. “Nós perdemos um jogo do Santos, na Vila, e quando saímos no carro fomos cercados. Eu estava com o Valdson e pedi para o motorista abrir a porta para enfrentar os caras, mas ele não quis. Aí, fomos para o ônibus e a coisa piorou".

Na subida da serra, houve uma emboscada. Torcedores esperavam pelo ônibus e tentaram agredir os jogadores. “Foi uma situação terrível porque a gente ficou preso dentro do ônibus, levando pedrada e também galhos de árvore. Não tinha como reagir. Era dramático. Falei para o motorista abrir a porta porque eu não ia ficar parado. Ia sair e fazer com eles o que queriam fazer com a gente. Ele ficou com medo e não fizemos nada. Até quando, vamos ficar calados?", completou Rincón.

Edílson e Rincón discordam quando se fala sobre a melhor maneira de reagir. O colombiano acha a greve natural. Edílson, não. “Eu não estou dizendo que devem fazer greve, que é o único caminho, não é isso. Mas é uma opção sim. Por que não? Os jogadores precisam se unir e fazer alguma coisa, buscar apoio na federação, na CBF e até na greve, se for necessário”, diz Rincón.

“Sou contra a greve porque vai atrapalhar a Copa no Brasil. A Copa está aí, vai ser bom para a Bahia, já estamos no clima. Sou fã do Paulo André e do Bom Senso, acho que estão fazendo coisas boas, mas greve eu não concordo, não”, termina Edílson.