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Luta continua, mas o sistema cansa. Paulo André em entrevista exclusiva

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

13/02/2014 06h00

Paulo André vai sair do país animado com a perspectiva de mais três anos estáveis de carreira e uma experiência em um país desconhecido, mas algo frustrado com o que deixa para trás. Embora reafirme a confiança de que as propostas e os projetos do Bom Senso caminharão sem a sua presença, o agora ex-zagueiro do Corinthians não faz uma avaliação muito bondosa do que vê.

“Acho que é um momento complicado no futebol do país. Conturbado, político. Acho que o que o Bom Senso está propondo é tão à frente do que estão enxergando que realmente vai demorar um pouco para entenderem. Brasileiro tem grande rejeição a mudanças. É muita gente lutando contra”, disse Paulo André, duro com a estrutura vigente.

“[Às vezes] entra em um campo político que não é meu forte e não é do meu interesse. Me dá prazer estudar, desenvolver um projeto, batalhar por ideias inovadoras. Quando entra nesse campo de política, não a política original, mas essa atual, que é muito mais pela manutenção do poder e da sobrevivência... Isso cansa um pouco e tira o prazer”, disse o zagueiro, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Só que a “luta continua”, como diz o próprio jogador. Paulo André acertou com o Shanghai Shenhua no mesmo dia –a última segunda - em que o Bom Senso definiu suas plataformas de trabalho para os próximos meses. Ele crê que nomes como Dida, Fernando Prass, Juan e o ex-lateral Paulo César podem assumir o papel de liderança que era dele, talvez sem atrair tanta atenção quando o ex-capitão corintiano.

O foco nas críticas custou caro a Paulo André. Campeão brasileiro de 2011, da Libertadores e do Mundial de 2012, e do Paulista e da Recopa de 2013, ele viveu sob pressão da torcida nos últimos meses de clube, especialmente por sua atuação fora dos gramados.

O sistema viciado que ele criticou nos anos de Corinthians pode ter interferido em seu futuro profissional. Na entrevista coletiva em que anunciou sua despedida do clube, Paulo André revelou que recusou propostas para sair no meio e no fim do ano passado. O que fez o zagueiro mudar de opinião agora?

“Acho que algumas coisas. A cidade me despertou interesse, tenho muitas referências positivas de Xangai. O contrato, a segurança de ter mais alguns anos de contrato. Aqui eu só tinha mais um. E a fase atual da vida, ou seja, qualidade de vida e tranquilidade foram fatores que pesaram na decisão”, disse o zagueiro.

Paulo André não revela, mas deixa o clube frustrado com a diretoria. Com contrato até o fim de 2014, o jogador queria uma posição da diretoria sobre a possibilidade de renovação para saber se aceitava, ou não, uma proposta da Itália. A resposta não saiu a tempo, fez com que ele perdesse a transferência e pesou para que ele dissesse sim quando a chance de ir à China apareceu. 

Depois de cinco anos de serviços prestados, havia a expectativa de um tratamento melhor, que não veio. Essa, aliás, tem sido a toada da diretoria com os campeões mundiais de 2012. Desde a conquista, Jorge Henrique saiu pela porta dos fundos por indisciplina, Chicão foi para o Flamengo descartado pela diretoria e Emerson teve de esperar até a última hora para assinar a renovação.

Hoje, Danilo vive situação parecida. O meia está a quatro meses do fim do compromisso e ainda não sabe até quando ficará no clube. Questionada, a direção responde que “ainda é cedo” para discutir o assunto.