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Equipe feminina da Bahia diz ter sido discriminada por torcedores paulistas

Bruno Thadeu

Do UOL, em São Paulo *

07/03/2014 12h45

* Texto atualizado às 16h09

As jogadoras e a comissão técnica do São Francisco do Conde, time baiano de futebol feminino, afirmam ter sido alvos de ofensas por sua origem nordestina em jogo disputado em Araraquara, na terça-feira. A equipe acabou sendo goleada pela Ferroviária em jogo válido pela Copa do Brasil, 5 a 0. O resultado em campo eliminou o time do interior baiano da competição.

Ao UOL Esporte, o técnico e coordenador do futebol feminino do São Francisco, Mário Augusto, e a lateral Norma disseram que pelo menos 40 torcedores do time de Araraquara proferiram palavras preconceituosas antes, durante e depois da partida.

“Eles falavam que ‘nordestino tinha que sumir do mapa’ que a gente ‘comia ração’ e que ‘nordestino era a vergonha do país’. Foi uma coisa horrível, relatou Norma, que afirma ter levado cusparada no rosto.

Em nota oficial, a Ferroviária repudia qualquer manifestação preconceituosa e destaca que as jogadoras do clube paulista são orientadas a não reclamar com arbitragem e adversárias.

Ofensas que demonstrem preconceito por origem são consideradas crimes, cuja pena varia de 1 a 3 anos, e multa.

Norma conta que levou cusparada no rosto, e uma outra atleta foi atingida no braço. De acordo com a jogadora e técnico, foram arremessados tênis, sandálias e copos em direção às atletas.

O treinador da equipe sofreu corte no nariz, segundo ele em razão de uma pilha vinda da arquibancada onde estava a torcida do Ferroviária. Com receio de que a provocação da torcida pudesse gerar invasão em campo, o técnico do São Francisco acionou a quarta árbitra para que tomasse providência.

Eles [torcedores da Ferroviária] falavam que ‘nordestino tinha que sumir do mapa’, que a gente ‘comia ração’ e que ‘nordestino era a vergonha do país’. Foi uma coisa horrível

relata a lateral Norma, do São Francisco do Conde, time do interior da Bahia

Dois policiais foram destacados para ficarem próximos ao banco de reservas do São Francisco. Mário Augusto acusa a arbitragem de ter sido conivente em meio aos gritos preconceituosos.

“Nós avisamos a quarta árbitra sobre o comportamento agressivo dos torcedores, mas ela disse apenas ‘não liga, não’, ‘isso é besteira’, ‘deixa para lá’”, disse o técnico.

A súmula do jogo não faz referências a gritos ou menções preconceituosas por parte da torcida da Ferroviária.

A diretoria do São Francisco destaca que não registrou boletim de ocorrência devido à falta de tempo. O elenco tinha voo de retorno à Bahia pouco depois do jogo no interior paulista.

“Confesso que na hora nem pensamos em fazer B.O porque ficamos tão surpresas com essa reação. Nós jogadoras descemos correndo para o vestiário porque pensávamos que seríamos agredidas”, diz a lateral Norma.

“Se ainda tivéssemos ganhado o jogo e provocado alguém, mas perdemos de 5 a 0. Em vez deles comemorarem a classificação, preferiram nos xingar só porque somos nordestinas”, completa.

Confira a nota oficial da Ferroviária sobre o episódio: 

1- Entende a República Federativa do Brasil como uma confederação, em que todas as federações, seja ela São Paulo ou Bahia, tem a mesma importância e peso para a nação;

2- Repudia qualquer manifestação de discriminação (étnica ou religiosa) que, eventualmente, possa ter atingido comissão técnica e atletas do São Francisco, do município de São Francisco do Conde, na Bahia;

3- A arbitragem da partida nada relatou na súmula enviada à CBF, o que equivale a afirmar que qualquer desentendimento pós-jogo foi interpretado pela equipe de árbitros como pertinente a um confronto decisivo, sem maiores desdobramentos;

4- A Ferroviária/Fundesport respeita, dentro e fora de campo, o São Francisco (BA), e continua focada em seu objetivo: vencer a Copa do Brasil de 2014 e erguer o (virtual) troféu de Fair Play (jogo limpo), lembrando que as jogadoras da Ferroviária/Fundesport são proibidas pela comissão técnica de reclamar com as arbitragens;

5- E, finalmente, o São Francisco (BA) foi, é e sempre será bem-vindo a Araraquara. O clube baiano tem uma história no futebol feminino, admirada pela Ferroviária/Fundesport.