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Boa fase na Inglaterra coloca espanhol como futuro técnico de Neymar

Fernando Duarte

Em Londres (Inglaterra)

26/03/2014 07h09

Em meio a uma rodada marcada por resultados de impacto para alguns dos principais times ingleses, em especial a demolição do Manchester United pelo Manchester City em pleno Old Trafford, a partida entre Everton e Newcastle passou relativamente despercebida. No entanto, a vitória por 3 a 0 do primo pobre de Liverpool tornou a temporada tresloucada da Premier League  ainda mais interessante: o Everton subiu à quinta colocação e, como um jogo a menos e oito rodadas pela frente, tem chances matemáticas de ficar com uma das vagas para a Liga dos Campeões da Europa.

Nada que deveria ser notícia na Catalunha. No entanto, o sucesso da equipe inglesa poderá ter desdobramentos para a rotina de Neymar e Messi. Os milagres que vem operando com um orçamento ínfimo e um elenco sem grandes estrelas fizeram do treinador espanhol Roberto Martinez mais do que uma aposta futura para a seleção de seu país: Martinez, é um dos nomes ventilados pela mídia espanhola como um possível ocupante do cargo de técnico do Barcelona – especialmente se o argentino Tatá Martino não resistir a uma complicada primeira temporada.

Um ex-volante que nos tempos de jogador nunca fez sucesso nos grandes times da Espanha, Martinez reinventou-se na Inglaterra ainda cedo: tinha 22 anos quando aceitou um convite do Wigan, então na Terceira Divisão inglesa, em 1995. Rodou por outros clubes nanicos da Inglaterra e da Escócia até se aposentar, 12 anos mais tarde. Na época já era uma mini-celebridade por participar como comentarista de um programa de TV sobre a Liga Espanhola, cuja audiência tinha disparado em função da ida de David Beckham para o Real Madrid.

Mas quando levou o Swansea ao título da Terceirona de 2007, à frente do tradicional Nottingham Forest, Martinez começou a chamar a atenção como ‘’estrategista”. Dois anos depois estava a bordo do Wigan, já na Premier League, e com a missão de evitar que uma das equipes de menor orçamento da liga caísse para a Segunda Divisão. Em três das quatro temporadas que passou no clube do norte inglês, Martinez fez isso. Na última (2012-13), a lógica finalmente prevaleceu, mas não sem uma zebraça na forma do título da FA Cup, em que os comandados de Martinez derrotaram na final os bilionários do Manchester City.

Depois de ser sondado por uma série de clubes, incluindo o Liverpool, Martinez ironicamente foi parar no primo pobre da cidade dos Beatles, que tinha acabado de perder o treinador David Moyes e um dos seus principais jogadores, o meia belga Marouanne Fellaini, para o Manchester United. Pois bem: passadas 30 rodadas, o Everton do espanhol está à frente do atual campeão na tabela. Enquanto Moyes é visto como uma espécie de paciente terminal pela mídia inglesa, Martinez, de 40 anos, é um darling, exaltado por métodos de trabalho como assistir a diversas vezes consecutivas replays dos jogos do seu time e rotinas de treinamento que não diferenciam os treinos físicos dos treinos com bola.

Matematicamente, o Everton não tem uma missão muito fácil para voltar à Liga dos Campeões pela primeira vez desde 2005, quando caiu no qualifying para o Villarreal, da Espanha: a diferença para o quarto colocado, o Arsenal, é de seis pontos. E o time de Martinez ainda terá que jogar com os dois Manchester e o próprio Arsenal. No entanto, o treinador espanhol parece ser o homem certo para empurrar o primo pobre de Liverpool ladeira acima. Até porque a recompensa poderá ser a chance de trabalhar  - quiçá bem brevemente - com jogadores, orçamentos e um clima bem melhor que o chuvoso norte da Inglaterra.