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Justiça não liga crime de chefão da MSI ao Corinthians e livra Kia e Dualib

Do UOL, em São Paulo

04/04/2014 16h38

A Justiça Federal do Estado de São Paulo absolveu, na última segunda-feira, todos os réus do caso MSI/Corinthians, que tramitava desde 2007, das acusações de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Em sua sentença, o juiz Marcelo Costenaro Cavali, seguiu a recomendação do Ministério Público e livrou Kia Joorabchian, Alberto Dualib e outros quatro réus por não conseguir provar que o dinheiro desviado por Boris Berezovsky foi investido no clube do Parque São Jorge.

Além de Dualib e Kia, se livram de qualquer punição o advogado Alexandre Verri, o dirigente Paulo Angioni e Nojan Bedroud, iraniano que atuava com Kia como representante da MSI no Brasil. Boris Berezovsy e Nesi Curi, que também foram indiciados, morreram antes do fim do processo.

A sentença foi publicada e está disponível no site da Justiça Federal. Em seu veredicto, Cavali confirma que Boris Berezovsky é, de fato, o real investidor do grupo MSI. Ao longo dos anos, as defesas sempre negaram essa hipótese. Em 2013, chegaram a apresentar Rafael Filinov, empresário russo, como o dono do dinheiro que ajudou o Corinthians a vencer o Brasileiro de 2005.

“A tentativa de "apresentar" um suposto investidor, chamado Rafael Filinov, no fim da instrução, mostrou-se absolutamente infrutífera. Ninguém no Corinthians jamais ouviu falar de tal pessoa e Kia não deu nenhuma razão plausível do anonimato de tal pessoa desde o início da parceria”, escreveu o juiz.

Comprovado que era Berezovsky o dono do dinheiro, Cavali caracterizou o russo, morto em circunstâncias suspeitas no ano passado, como autor de crimes na Rússia na década de 1990. “Os crimes imputados a Boris seriam enquadráveis, no Brasil, grosso modo, na figura típica do peculato, dado que houve desvio de valores aos quais Boris tinha acesso em razão de sua função na Administração Pública russa”, disse o juiz.

Esses crimes renderam uma condenação de 16 anos de prisão a Berezovsky, que desviou cerca de US$ 8 milhões (o equivalente a R$ 18 milhões em valores atuais). O problema é que a investigação no Brasil não conseguiu rastrear esse montante e, ao fim do processo, não comprovou que ele tenha sido investido no Corinthians, o que caracterizaria lavagem de dinheiro.

Em sua sentença, o juiz ainda levanta a hipótese, com base em leis e jurisprudências internacionais, de que poderia considerar todo o dinheiro de Boris suspeito caso ele tivesse um estilo de vida criminoso, como um gângster ou um traficante de drogas. No entendimento de Cavali, porém, ao menos parte da arrecadação do russo tinha origem lícita, e por isso ele não poderia ser tipificado como uma espécie de “mafioso”.

Sem a comprovação da ligação, o juiz absolveu todos os envolvidos. “O que se verificou, na prática, foi apenas a atuação de cada um dos acusados com seus papéis sociais com a finalidade de realizar os investimentos combinados no clube de futebol”, escreveu Cavali, que por consequência também livrou todos do crime de formação de quadrilha.