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Os 10 maiores acertos e os 10 maiores erros de Juvenal no SP

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo

14/04/2014 06h00

Após oito anos, chegará ao fim na noite da próxima quarta-feira a gestão de Juvenal Juvêncio na presidência do São Paulo. Ele será substituído pelo candidato que indicou, Carlos Miguel Aidar, que deverá vencer a eleição por cerca de 30 votos de vantagem. De 2006 a 2014, Juvenal fez do São Paulo o melhor time do Brasil, o Soberano, para depois ver o clube decair e não conseguir se equiparar aos principais concorrentes. Entre os elogios colhidos pelos títulos conquistados, ouviu também inúmeras críticas pelo modo como governou. Tricampeão brasileiro, mudou até o estatuto do São Paulo para ficar no poder. Para mostrar os pontos mais altos e mais baixos de sua gestão, o UOL Esporte conversou tanto com dirigentes que trabalharam e trabalham com Juvenal Juvêncio como seus opositores. Agora, o resultado: 

OS 10 MAIORES ACERTOS:
 
1- O tri do Brasileirão 
A gestão de Juvenal Juvêncio deu ao São Paulo metade dos títulos do Brasileirão que o clube tem. Mais do que isso, elevou o São Paulo ao patamar que bem ou mal apelidado o clube resolveu chamar de "soberano", pois o tri aconteceu entre 2006 e 2008, em sequência. Méritos de Rogério Ceni, Muricy Ramalho e resto do elenco, mas sob o comando e a montagem do presidente, que era diretor de futebol de Marcelo Portugal Gouvêa, até 2006, quando assumiu a gestão. 
 
2- Estrutura do dia a dia
Nos primeiros anos de sua gestão, nos quais o São Paulo se tornou tricampeão brasileiro, Juvenal Juvêncio chegou a dizer que a estrutura, que o CT da Barra Funda, ganhava jogos. A estrutura virou propaganda e diferencial para o clube, não só pelos benefícios no dia a dia, mas também na hora de contratar. Os jogadores queriam jogar no São Paulo. 
 
3- O primeiro a utilizar a Lei Pelé
Juvenal Juvêncio foi o primeiro a compreender e se valer das mudanças da Lei Pelé para contratar. Foi assim que o São Paulo montou os times campeões brasileiros. O clube passou a observar e negociar com jogadores que estavam a seis meses do fim de seus contratos com outros clubes. Muitos dos reforços que foram ao Morumbi até 2010 não custaram nada ao São Paulo. Aquilo que era visto como aliciamento virou prática comum no futebol brasileiro. 
 
4- Manutenção dos principais atletas
Juvenal Juvêncio também se valeu de outra prática incomum no futebol brasileiro, que acabou rendendo frutos: segurou alguns dos principais jogadores do time. Foram muitas as propostas milionárias por Hernanes, Miranda e Richarlyson enquanto jogaram no Morumbi. O presidente preferiu não vende-los quando teve as melhores oportunidades, pois acreditou que se beneficiaria com o trio no elenco. Apostou certo. 
 
5- O tal teto salarial
Se há uma questão que o departamento de futebol da era Juvenal Juvêncio se vangloria é do teto salarial do São Paulo. Foi comum nos últimos anos ouvir dos dirigentes que tal atleta se encaixa ou não se encaixa naquilo que o São Paulo tem como política de pagamentos. Era fato. O clube pagava menos do que os concorrentes e teve estabilidade financeira nos últimos anos por não fazer loucuras no mercado. 
 
6- Otimização de Cotia
O centro de formação de atletas de Cotia foi uma obra de Marcelo Portugal Gouvêa, em 2005, mas que virou o rótulo de Juvenal Juvêncio. Apesar de ainda contestado pelo grande investimento, é inegável que o São Paulo se beneficiou nos últimos anos pelo que investiu na base. Nos últimos anos, produziu jogadores como Breno, Oscar, Casemiro, Lucas, Lucas Piazon e Rodrigo Caio. Agora, em 2014, tem no elenco safra populosa de promessas: Rodrigo Caio, João Schmidt, Lucas Silva, Lucas Evangelista, Gabriel Boschilia, Ademilson e Ewandro.
 
7- Grande vendedor
O São Paulo de Juvenal, apesar de segurar os principais jogadores diante das primeiras propostas, ficou marcado como bom vendedor. Lucas saiu para o Paris Saint-Germain por R$ 116 milhões. Foi a maior venda da história do futebol brasileiro, pagou o investimento em Cotia e liquidou grande parte das dívidas bancárias do clube. Além dele, Hernanes, Marlos, Diego Lugano, Ilsinho e Josué foram alguns dos que saíram por valores altos. 
 
8- Financeiramente saudável
O São Paulo, até pouco tempo atrás, era um dos únicos clubes do Brasil que não antecipava receitas de direitos de TV da Rede Globo. Juvenal sempre teve prazer em dizer que o clube era saudável em termos financeiros. Quando vendeu Lucas ao PSG pelo valor astronômico, usou a maior parte para quitar dívidas. 
 
9- Obras no clube
O Morumbi não foi reformado, mas o clube mudou nos últimos anos. Mesmo que alguma parte dos investimentos na sede social tenha sido feita em períodos eleitorais, a gestão de Juvenal mudou o clube também para o sócio. 
 
10- A força contra Teixeira
Até quem faz oposição hoje a Juvenal Juvêncio no São Paulo admite que o presidente foi fundamental na batalha pela queda de Ricardo Teixeira da presidência da CBF. Juvenal comprou a briga após saber em 2010 que o Morumbi ficaria fora da Copa do Mundo de 2014. Depois, resistiu à ruptura do Clube dos 13 e passou a disparar contra o dirigente.
 
OS 10 MAIORES ERROS
 
1- A mudança de estatuto
Assim como os opositores admitem alguns elogios, há erros que até os aliados apontam. É o caso da segunda mudança de estatuto do clube, proposta na forma de uma nova interpretação que permitisse a segunda reeleição e, logo, o terceiro mandato. Era para Juvenal ter deixado a presidência em 2011, mas ele conseguiu ficar até 2014. Nestes últimos três anos o clube viveu o principal período negativo. O fundo do poço aconteceu no segundo semestre de 2013, quando o São Paulo lutou contra o rebaixamento no Brasileirão. 
 
2- Troca do comando do futebol
Em abril de 2011, após a segunda reeleição amparada pela interpretação do estatuto, Juvenal Juvêncio nomeou o diretor de marketing Adalberto Baptista como novo diretor de futebol. Um mês antes Baptista havia viajado à Espanha e retornado com Luis Fabiano na bagagem. A partir daí o São Paulo mudou completamente. Deixou de ser o clube que contratava discretamente para investir alto em reforços. Em campo, o retorno não veio. Baptista ainda colecionou inimizades e acabou pedindo afastamento após atrito público com Rogério Ceni, em meio à crise de 2013. 
 
3- Máquina de demitir treinadores
Muricy Ramalho, Ricardo Gomes, Sergio Baresi, Paulo Cesar Carpegiani, Adilson Batista, Emerson Leão, Ney Franco e Paulo Autuori: Juvenal Juvêncio teve oito treinadores em oito anos, sendo que Muricy durou de 2006 a 2009. O presidente demitiu todos eles após fracassos. 
 
4- Libertadores virou obrigação
Muricy Ramalho era tricampeão brasileiro - 2006, 2007 e 2008 - quando foi demitido em 2009 por Juvenal Juvêncio após cair pela quarta vez seguida na Copa Libertadores. Mesmo com o feito inédito no campeonato nacional, o técnico não resistiu às críticas no Morumbi. A Libertadores, para Juvenal, havia se tornado conquista obrigatória. Depois da troca, o São Paulo nunca mais foi o mesmo. 
 
5- Erros em contratações
Saavedra, Wagner Diniz, Jean Rolt, Adrian Gonzalez, Francisco Alex, Eduardo Costa, André Lima, Andre Luis, Carleto, Samuel, Cleber Santana, Léo Lima, Juan, Edson Ratinho, Ivan Piris, João Filipe, Rivaldo, Cañete, Cortez, Fabrício, Paulo Assunção, Clemente Rodríguez, Roger Carvalho, Caramelo, Roni, Negueba, Wallyson, Silvinho... Depois de 2009, aquilo que funcionava de forma cirúrgica no São Paulo passou a ter pouca precisão. 
 
6- Contratos longos
Pior do que as contratações que não deram certo foram aquelas que deixaram o São Paulo refém dos atletas. O zagueiro João Filipe, que veio do Botafogo, por exemplo, tem contrato com o clube até 2015. Clemente Rodríguez, que não jogou nem cinco partidas e hoje está afastado, também. Cañete renovou no ano passado após três boas atuações. Agora, está liberado para sair. 
 
7- Afastamentos
Algo que é criticado também pelos próprios aliados: os afastamentos de jogadores como punição. O maior exemplo aconteceu em 2013, após a queda do São Paulo na Copa Libertadores. Juvenal Juvêncio convocou entrevista coletiva com um papel em mãos para anunciar que sete atletas serias isolados e passariam a treinar em Cotia. Na semana passada, o volante Fabrício - que esteve na lista dos sete e depois foi reintegrado - e o lateral Clemente Rodríguez foram mandados para Cotia. 
 
8- A troca dos profissionais do Reffis
Entre outros funcionários, Juvenal Juvêncio tirou do São Paulo o fisioterapeuta Luiz Rosan, o fisiologista Turíbio Neves e o ex-superintendente de futebol e médico Marco Aurélio Cunha, que participaram da construção do Reffis no CT da Barra Funda, que viraria sinônimo de excelência no tratamento a lesões. Hoje, a estrutura permanece, mas com outros profissionais.
 
9- Camisa desvalorizada
O São Paulo teve com a LG o melhor contrato de patrocínio master do futebol brasileiro. Ano após ano foi decaindo. Nas últimas temporadas, chegou a passar dois períodos diferentes de oito meses sem publicidade no principal espaço da camisa. A receita que não entrou fez com que o clube perdesse para outros, como o Corinthians de Ronaldo, que no mesmo período fez contratos monstruosos de publicidade. 
 
10- Morumbi para trás
É ponto pacífico que a ausência do Morumbi na Copa do Mundo fez com que Juvenal assumisse papel fundamental na luta pela queda de Ricardo Texeira na CBF. O São Paulo, porém, não conseguiu renovar seu estádio após 2010. Enquanto isso, viu o Corinthians erguer uma arena que abrigará a abertura da Copa do Mundo e o Palmeiras fazer um estádio moderno sem investimentos públicos. A obra de cobertura do Morumbi, orçada em R$ 460 milhões, irá à votação nesta quarta-feira. Mas não tem construtora...