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Vivendo o sonho: conheça os caras que são pagos para apenas jogar Fifa

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

14/04/2014 06h00

Qual amante de videogame nunca imaginou uma vida em que pudesse apenas sentar em frente à tela, jogar seus títulos favoritos e ainda ganhar um bom salário de quatro dígitos para isso? Os viciados já podem respirar tranquilos porque o sonho de ser um gamer profissional já é uma realidade no Brasil. Que o digam dois jovens pioneiros no país, que com seus vinte e poucos anos foram contratados apenas para mostrarem seu talento.

Algo já presente em outros jogos, mas ainda com pouco impacto em games de futebol, o Fifa World agora atrai jogadores profissionais. É no que aposta o time de esportes eletrônicos Keyd, que contratou dois paulistas para o representarem: Julio Ucker, de 22 anos, e Gustavo Chaves, de 21. Traçando um paralelo, é como se eles fossem jogadores profissionais contratados por um clube de futebol “real”.

O Fifa World é um jogo gratuito da Electronic Arts para computadores e tem experimentado um grande crescimento, principalmente por conta de seus campeonatos com prêmios que chegam a R$ 4 mil para o vencedor. A chegada da Copa só deve ampliar seu alcance.

Observando o bom desempenho de Julio e Gustavo em campeonatos, a Keyd fez proposta aos jogadores no último mês de março e, como era de se imaginar, eles não pensaram duas vezes antes do mergulho de cabeça no sonho de jogar videogame para viver.

“É um sonho para quem joga. Sempre me imaginei sendo um gamer profissional, remunerado. Então fiquei muito feliz, é uma realização”, conta Julio, que já foi office-boy, trabalhou em escritórios e até em lan houses – “aproveitava para trabalhar de dia e ficar jogando à noite”, admite. Atualmente, ele estava completando os estudos quando recebeu o convite.

A reação ao contar a novidade aos amigos é de incredulidade. “O pessoal fica me pedindo para contar como é, quer saber como eu consegui isso. Eles veem como é legal, é poder trabalhar com o que gosto e ganhar o necessário para viver só de Fifa”, adiciona ele.

Gustavo foi mais longe. Ele é de Sorocaba e trancou a faculdade de Educação Física para se aventurar na empreitada.

“Sempre gostei de videogame, mas foi a partir do ano passado as coisas começaram a dar certo e vi que queria viver disso”, conta o jovem. Gustavo se tornou campeão brasileiro e chegou a disputar o Mundial de Fifa 14, na China.

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Ah, e se você acha que viver na frente da tela jogando Fifa deixa os garotos isolados do mundo, muito pelo contrário. Eles garantem que o sucesso no game atrai - e não afasta - as garotas. “Se a menina gosta de games também, atrai, com certeza. Algumas garotas ficam interessadas, sim”, conta o já comprometido Julio.

Por outro lado, ambos admitem que tiveram problemas para convencer seus pais de que eles não estavam desperdiçando tempo. “Sempre tem preconceito. Até meu pai falava: ‘você só fica aí no computador jogando...’. Mas depois que eu consegui o convite ele achou legal e está me dando apoio. Ele viu que é algo que queria muito.”

E querer muito significa praticar muito. Não pense que a rotina é mole para eles. “São 8 horas de treino por dia, no mínimo. Se me animar, jogo mais”, diz Julio.

“Estou de mudança para São Paulo e aí vai ser treino, treino, treino. São 6, 7 horas por dia treinando Fifa World e também fazemos transmissões e jogos com a galera. E no fim de semana tem os campeonatos”, complementa Gustavo, que vai morar na gaming house da Keyd, uma casa situada na Vila Maria, em São Paulo, em que outros jovens já moram e se dedicam só a jogar.

Treinador linha dura?

Técnico da Keyd, Renan Philip, de apenas 19 anos, explica o que o “clube” espera de seus jogadores: “Ser um jogador profissional exige muita disciplina em treinos, ter uma rotina sólida e um estilo de vida também tranquilo como o de um atleta. Exige também certo sacrifício em ficar longe da família, não ter uma vida 'comum' como a de qualquer outro que pode sair sempre ou relaxar um pouco mais, por mais que seu trabalho seja literalmente jogar videogames.”

Como tudo que se torna profissão, até uma atividade teoricamente prazerosa pode virar um fardo. “Quando você passa a fazer isso profissionalmente e durante várias horas todos os dias como obrigação, a atividade passa a também ser desgastante”, acrescenta Philip.

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Além do salário, times eletrônicos como a Keyd oferecem computadores, bancam viagens e também pagam gastos que se tem dentro do jogo, já que é possível investir dinheiro real dentro do Fifa World.

A Keyd era um time de Starcraft chamado iMBalanced, e surgiu oficialmente como Keyd no lançamento do Starcraft2, quando passou a contratar jogadores, no começo de 2011. Hoje há jogadores recebendo até R$ 10 mil para treinar e atuar profissionalmente, e a nova aposta é o Fifa World.

Um atrativo na jogabilidade do Fifa World é o fato de os competidores não atuarem com times pré-estabelecidos, mas formarem seus plantéis. Assim, é preciso negociar contratos e valores e mostrar também o talento na função de manager – e não só no gramado virtual.

Os campeonatos – um deles acontece nos próximos dias 26 e 27 de abril – abrem espaço para 1024 jogadores. O torneio em disputa tem eliminação simples e, a quem se interessar competir, é necessário preencher uma inscrição e realizar check-in uma hora antes da disputa.

Mais informações: http://www.easportsfifaworld.com