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Tática do Barça muda em função de Neymar e deixa Messi em crise

João Henrique Marques

Do UOL, em Barcelona

16/04/2014 06h00

Com a bola nos pés, Neymar tem atualmente escapado de criticas mais ferrenhas de torcida e imprensa catalã no pior momento do Barcelona nos últimos sete anos.  O efeito colateral é o fato do desempenho de Lionel Messi estar no centro dessa crise e atingi-lo diretamente. O argentino é um dos principais alvos do momento e, para muitos, a incomum irregularidade demonstrada nos últimos jogos decisivos tem relação com o posicionamento dado ao brasileiro pelo treinador Tata Martino.

O comandante do Barça quer deixar Neymar mais perto do gol e por isso voltou a escalá-lo pela esquerda, desta vez mais perto da grande área. Com a alteração, Messi foi deslocado para a direita e está extremamente incomodado.  Essa é a visão da imprensa local e de vários torcedores do Barça. Por isso, Messi e Neymar  precisam provar que a escolha de Tata é a melhor possível, e para o resgate da confiança, vencer o arquirrival Real Madrid pela final da Copa do Rei, em Valência, nesta quarta-feira. O jogo começa às 16h30 (horário de Brasília) e terá acompanhamento em Tempo Real pelo Placar UOL Esporte.

“O Tata mandou uma mensagem negativa ao Messi dizendo que jogue pela direita para que o Neymar atue na esquerda e possa render melhor. Messi está acostumado a ser o rei, e quando o modificaram de posição para brilhar Eto’o ou Ibrahimovic não deu certo. Ele não entende que se priorize Neymar. Com ele o Barcelona ganhou 21 títulos. Messi precisa de mais carinho”, opinou Manolo Crespo, jornalista do diário catalão Sport.

“O Tata vai completar um ano aqui sem ter encontrado o jeito de fazer Messi e Neymar atuarem juntos. Agora mexer com o Messi é o maior erro possível, não faz sentido. O certo é você alterar o time para que o Messi possa render mais”, comentou Bruno Akemi, da rádio Cadena Ser.

Neymar atuou na nova função no ataque do Barcelona nas duas derrotas seguidas do time - contra o Atlético de Madri, pela Liga dos Campeões, e contra o Granada, no Campeonato Espanhol. Nesses jogos, Fàbregas fez o papel de “falso 9” atuando pelo centro. Messi, pela direita, sumiu. O argentino foi duramente criticado pela falta de mobilidade em campo e dificuldade para furar a retranca do adversário, sendo consideravelmente menos participativo que o brasileiro.

Os jornais da Catalunha passaram a atacar Messi e questionar um incômodo com o atual posicionamento. O comportamento é considerado apático, como o demonstrado no treinamento do Barcelona na véspera da decisão, quando em uma atividade recreativa com uma bola de rúgbi ele ficou distante, mal se moveu.

“O que representa o Leo (Messi) para nós é inquestionável. Sempre tenta resolver, é determinante, e fez isso por tantas vezes. Só que quando não consegue as coisas ou perde, parece um desastre. A realidade é que se trata do nosso jogador mais fundamental”, destacou o meia Iniesta pouco depois da atividade.

O comportamento e a participação de Messi no time são intrigantes. O argentino causou espanto nos torcedores por só correr mais que o goleiro Pinto na derrota para o Atlético de Madrid por  1 a 0 na semana passada em estatística divulgada pela Uefa. Agora, ele convive com a situação oposta a de Neymar, sempre sorridente e gozador nos treinamentos do time, e um dos mais acionados nas partidas.

“Não há nenhum caso que alguém que tenha que se dedicar mais que o outro. Eu não preciso ficar falando com ele (Messi) sempre. Ele já tem demasiada carga em cima faz anos e tem que ser muito forte para suportar isso ano após ano”, avisou Tata quando questionado sobre se pretende entender o comportamento de Messi, tanto dentro quanto fora de campo.

O treinador do Barcelona é o único que carrega pressão maior que a de Messi. Nesta semana conviveu com especulações de que o técnico do Borussia Dortmund, o alemão Jurgen Kloop, irá o substituí-lo no comando do time na próxima temporada. O título da Copa do Rei, no entanto, dificilmente vai mudar o cenário, algo que o argentino está consciente.

“Não quero cobrir tudo que o falhamos com esse possível título. Isso não deixa de lado um sentimento ruim que tivemos. Vamos comemorar a Páscoa e depois ver o que passa. Minha análise da temporada nunca será positiva”, destacou o treinador Tata Martino.

A vitória sobre o Real Madrid, e o consequente título da Copa do Rei, é questão de honra. O Barça viveu uma semana negra com as duas derrotas ao ser eliminado na Liga dos Campeões e ficar distante do título espanhol. Há dias atrás, o duelo não era considerado vital. Agora, Messi precisa carregar o time ao triunfo com a ajuda de Neymar.