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Ele foi consertar o ar-condicionado de um time grande e virou jogador

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

19/04/2014 06h00

Há uma piada depreciativa no futebol que fala que se um torcedor estiver em forma e a fim de jogar, é só ir ao vestiário e colocar a camisa do clube que será escalado entre os 11 titulares e contratado. É falada, geralmente, quando alguma equipe está em crise. Em um grande clube brasileiro houve um caso com algumas dessas características. Mas que envolveu qualidade e persistência. Não teve nada de facilidade por má fase.

Com dois títulos nacionais e atual campeão da Copa do Nordeste, o Sport tem um episódio curioso e viu um rapaz que foi à sede do clube para consertar o ar-condicionado de uma das salas se tornar integrante do elenco profissional e depois campeão.

Não acredita? Pois essa é a história do zagueiro Oswaldo, de 21 anos. Na adolescência, era mais um dos garotos que sonhavam em ser jogador de futebol. De origem humilde, passou a ajudar os pais ao trabalhar como assistente de uma companhia de refrigeração em Olinda.

Com 17 anos, só jogava em peladas amadoras e viu a grande oportunidade ao ir com seu chefe consertar um ar-condicionado na sede do Sport. Era ali o momento de tentar cavar uma oportunidade. O homem que o acompanhava e dono da companhia tinha bom trâmite com os dirigentes do clube e insistiu para que dessem uma chance para o garoto fazer um teste nas categorias de base.


“Ele sempre ia consertar equipamentos no Sport, e chamaram o Reginaldo (ex-chefe) pra consertar o ar-condicionado no departamento de futebol. Eu o ajudava e como ele sabia que queria jogar, pedimos pra que eu pudesse fazer um teste. Ele me indicou lá, eles não botaram muita fé não, mas acabou dando certo. Ele (Reginaldo) insistiu e eu fui na onda falando que queria fazer o teste”, contou em entrevista ao UOL Esporte. “Antes eu só havia jogado em times de bairro”, completou.

Convenceram o dirigente Carlos José, que o levou para o time juvenil. Oswaldo então passou três meses lá, em 2010, até ser aproveitado de vez no clube. “Fiz umas avaliações pra ver se ficava ou não. Não foi nada fácil, foi necessária muita persistência.”

No ano passado, subiu para o time profissional com o técnico Geninho, assinou seu primeiro contrato e permanece até hoje.  Subiu com a equipe para a Série A do Brasileiro ainda em 2013 e esse ano já foi campeão da Copa do Nordeste. Pode ser campeão pernambucano (o clube está na final, contra o Náutico). É uma das grandes apostas do clube e já teve seu contrato prolongado.

“Ele se destaca muito pelo esforço. É um atleta com muito empenho, que se identifica muito com o clube, tanto que renovamos o contrato dele até o final 2017 e confiamos muito nele como uma peça importante para o futuro do Sport. Ele é um patrimônio do clube”, falou o diretor de futebol, Nei Pandolfo.

Geninho, treinador que deu a chance a Oswaldo no time profissional, conta que vê muito potencial no jogador e que foi melhorando desde que tiveram o primeiro contato, no ano passado.

“Na primeira semana fiz coletivo e ele era do time júnior. Ele fez o coletivo e gostei demais. Depois foi pro time de cima e já jogou. Achei que ele estava num nível muito bom, achei ele com personalidade. Ele ainda era introvertido e não falava muito. Mas é um cara alto, forte, rápido, sabe marcar e sair com a bola. Claro que ainda precisa corrigir algumas situações, como posicionamento. Mas esse ano ele já estava mais pronto que em 2013. Tem muito a evoluir, mas pode se tornar um grande zagueiro do futebol brasileiro”, opinou.