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Nem ajuda de ministro consegue levar patrocínio ao Palmeiras

Danilo Lavieri

Do UOL, em São Paulo

30/04/2014 06h01

Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-presidente do clube, Aldo Rebelo, ministro do Esporte, e um executivo do alto escalão do Banco do Brasil que pediu para não ser identificado tentaram ajudar o Palmeiras a fechar com a Caixa Econômica Federal um contrato de patrocínio máster no início deste ano. Mas toda a ajuda não foi suficiente para que o time pudesse ter um parceiro para exibir em sua camisa no ano do centenário.

A participação do trio aconteceu nos bastidores, em conversas com representantes da Caixa, e também diretamente com Paulo Nobre, atual presidente alviverde. O aporte serviria para aliviar os problemas financeiros do clube. O próprio cartola tomou em seu nome no mercado financeiro empréstimos na casa dos R$ 80 milhões para amenizar as dívidas.

Nobre fez isso mesmo indo contra recomendações de especialistas, que reprovam a estratégia de um executivo dar seu nome como avalista para qualquer que seja a instituição.

Há duas versões para o negócio com a Caixa não ter dado certo. A primeira, defendida especialmente pelos críticos da atual gestão, diz que Nobre não suportaria ouvir que teve ajuda de rivais políticos para conseguir o patrocínio. Mais do que isso, a obtenção da Certidão Positiva de Débitos, com efeito de negativa, necessária para um patrocínio de empresa pública, enfraqueceria as investigações internas que correm em cima das ações financeiras de gestões de Luiz Gonzaga Belluzzo e Arnaldo Tirone.

A atitude surtiria um péssimo efeito político para Nobre. O ex-presidente Mustafá Contursi, seu aliado no Conselho, tem bastante interesse em expor erros financeiros das gestões anteriores.

Já a explicação dada pela ala pró-Nobre lista outros motivos. O primeiro deles é que apesar das várias reuniões entre Palmeiras e Caixa, o banco não sinalizou o valor que estava disposto a investir. Com isso, Nobre fez as contas e explicou que o investimento precisaria chegar perto dos R$ 30 milhões anuais.

Esse número representa o valor aproximado para quitar as dívidas sobre recolhimento de impostos dos salários de jogadores deixadas pela gestão de Arnaldo Tirone, seu antecessor. Sem pagar esses R$ 30 milhões ainda este ano, não seria possível obter a certidão. 

Nobre usa a mesma explicação quando comparado a rivais como Flamengo e Vasco, que têm o patrocínio da Caixa. Apesar de terem dívidas maiores com o governo, os cariocas não haviam atrasado o pagamento deste tipo de imposto.

A assessoria de imprensa do Palmeiras, inicialmente, questionou a origem das informações. Depois de informada que as fontes seriam protegidas, afirmou que “as apurações do UOL Esporte eram fantasiosas”. A reportagem voltou a consultar a assessoria diante de novas confirmações sobre o processo, mas não teve retorno.

A situação financeira ruim do Palmeiras não é novidade para ninguém. Empresários, jogadores e parceiros sabem disso. Por isso, o executivo do Banco do Brasil que esteve nas conversas deu até uma bronca em Nobre. Pediu para que o cartola parasse de falar em entrevistas que o clube estava quebrado e disse que a divulgação dos problemas na conta bancária não ajuda em nada.

Nova camisa do Palmeiras volta a ter a Cruz de Savóia no peito - Divulgação - Divulgação
Camisa do Palmeiras não tem patrocínio máster para atuar no Brasileirão
Imagem: Divulgação

No COF (Conselho de Orientação e Fiscalização), Nobre chegou a dizer que a Caixa não investiria mais no futebol por um recuo de investimentos. Essa mudança, no entanto, só aconteceu após o fim das negociações com o Palmeiras. Até então, o banco tinha, sim, a intenção de patrocinar o maior número possível de clubes da elite do futebol brasileiro.

Recentemente, a diretoria de marketing do banco deu entrevista à Agência Estado e explicou que houve mudança na estratégia. Agora, times da Série C e D seriam as prioridades, deixando equipes da Série A de lado, entre elas o Palmeiras. De acordo com a reportagem, apenas o Fluminense não abriu negociações com a Caixa. Em 2014, a ideia da instituição financeira é gastar R$ 100 milhões com clubes.

O Palmeiras não tem um patrocinador máster desde o fim de janeiro de 2013. Entre este período e maio do mesmo ano, o clube usou o logo da Kia sem receber por um período e, posteriormente, ganhando quase R$ 1 milhão a menos por mês para isso, uma vez que o contrato já estava encerrado. De lá para cá, apenas ações pontuais ou patrocinadores em outras regiões da camisa.

A falta de patrocínio é uma das maiores críticas à atual gestão. O diretor de marketing do Palmeiras, Marcelo Gianubilo, e o diretor-executivo, José Carlos Brunoro, são os maiores alvos. Este último, aliás, disse se sentir incomodado com as críticas em entrevista ao jornal Lance!.