O impasse entre Muricy e Cotia: bronca em Boschilia incomoda diretoria
A bronca pública do técnico Muricy Ramalho no jovem meia Gabriel Boschilia, de 18 anos, serviu para mostrar que ainda existe a rusga entre o treinador e o trabalho feito nas categorias de base do clube. Não pela reclamação pública, ainda no gramado, segundos após o apito final. Mas pelo discurso de Muricy depois da partida, dizendo que “aqui não é Cotia”. A declaração e a bronca em Boschilia incomodaram a diretoria, que reprovou a atitude e teme que isso atrapalhe o desenvolvimento dos jovens atletas.
A cúpula do São Paulo espera que Muricy repense o comportamento. O vice-presidente de futebol Ataíde Gil Guerreiro conversaria com o treinador a respeito do caso nesta terça-feira. A ordem era levar as impressões do técnico para o presidente Carlos Miguel Aidar.
As preocupações são distintas. Muricy toca num vespeiro ao resgatar a crítica a Cotia, tão presente entre 2006 e 2009 e ausente desde o retorno do técnico, em outubro de 2013. A diretoria avalia que o “aqui não é Cotia” desmerece todo o trabalho feito na base, que é considerada pelo clube como o grande diferencial entre o São Paulo e seus rivais. É tanta a importância do centro de formação de jogadores que o ex-presidente Juvenal Juvêncio se tornou o diretor de futebol amador, responsável pela base, após ser sucedido por Aidar.
Na declaração, Muricy ainda falou que os jogadores recém promovidos da base demonstram falta de concentração, o que reforça a insatisfação dos dirigentes: "Aqui não é juvenil, não é amador, é profissional! [...]Aqui não é Cotia, não. Ele não está em Cotia! O negócio aqui é grande. Não pode entrar tão desligado. A bola está lá e ele está em cima do Pabón fazendo o quê? Os meninos que saem de lá precisam estar mais concentrados, não pode entrar mais ou menos. Tem de ser ligado", falou o treinador na Arena Barueri, domingo. Se o que foi dito na entrevista coletiva desmerece o trabalho, a bronca filmada pelas câmeras, para a diretoria, inibe a evolução de outros jogadores.
“Pisou na bola”, disse um importante dirigente do São Paulo sobre a postura de Muricy. O temor é que outros jovens se afetem pela bronca pública. Um ano e meio depois de vender Lucas ao Paris Saint-Germain (FRA) por R$ 116 milhões, o São Paulo é o clube que mais levou convocados à seleção brasileira sub-21 que disputará o Torneio de Toulon, na França, nas próximas semanas. Os sub-21 de 2014 formam a base da seleção sub-23, de 2016, que disputará os Jogos Olímpicos no Brasil. O zagueiro Rodrigo Caio, o lateral Auro, o meia Lucas Evangelista e o atacante Ademilson foram convocados.
O São Paulo, historicamente, trata com muito zelo os jogadores revelados em Cotia – comportamento intensificado por Juvenal Juvêncio entre 2006 e 2014. A avaliação é que atualmente o clube tem uma das melhores safras de jovens jogadores entre os profissionais. Além dos quatro convocados para a seleção sub-21 e do próprio Boschilia, o zagueiro Lucão, o atacante Ewandro e até o goleiro Lucas Perri são vistos como jogadores de imenso potencial e que poderiam ser desperdiçados por um treinador que pode, mais uma vez, não olhar o trabalho da base com bons olhos.
Incomoda, também, que Muricy só cobre os jogadores mais novos e menos experientes, como Boschilia e Ademilson – este frequentemente criticado pelo técnico pelos erros de finalização – e não faça as mesmas reclamações públicas em casos como os períodos de seca de Paulo Henrique Ganso ou erros de outros atletas mais velhos, como Luis Fabiano e Alvaro Pereira.
Apesar das ressalvas colocadas pelo comportamento de Muricy no tratamento a Boschilia, a diretoria do São Paulo mantém o discurso de Aidar: o treinador só deixará o clube se quiser e jamais será demitido. As palavras foram ditas pelo presidente desde o início de sua campanha presidencial e são repetidas até agora.
7 JOVENS QUE MURICY NÃO APROVEITOU. E ESTOURARAM...
Marco Antônio
Meia começou a temporada de 2005 como titular do São Paulo, mas acabou perdendo espaço para Danilo. Foi emprestado ao Santo André e dispensado quando voltou, com 21 anos, em janeiro de 2006, em meio à montagem do primeiro time de Muricy Ramalho ao assumir o clube campeão mundial. Passou por Juventude, Sport, Criciúma e Vitória antes de chegar à Portuguesa e ao Grêmio, onde viveu os melhores momentos da carreira. Hoje atua no Figueirense.
Rafinha
Contratado pelo São Paulo após impressionar nas categorias de base da Portuguesa, poderia ter sido usado por Muricy Ramalho em todas as temporadas entre 2006 e 2009. Mas isso nunca aconteceu. Foi emprestado ao Grêmio em 2006, com 22 anos, e passou por São Caetano, Goiás e Paraná, ainda emprestado, até chegar ao Coritiba, em 2010, quando fez sua melhor temporada. Quando o São Paulo o quis de volta após o empréstimo, ele assinou com o Coritiba e saiu de graça. Depois, Palmeiras e Atlético-MG tentaram sua contratação, sem sucesso. Hoje atua no Al-Shabab (EAU).
Diego Tardelli
Atacante revelado pelo São Paulo também não cativou Muricy. Após voltar de empréstimo ao Real Betis (ESP), em 2006, teve mais dois empréstimos permitidos: foi para o São Caetano e, depois, para o PSV Eindhoven (HOL). Quando voltou, no segundo semestre de 2007, com 22 anos, foi reintegrado ao elenco que conquistou o Brasileirão. No fim da temporada, no entanto, foi descartado e negociado com o Flamengo. Depois do rubro-negro carioca, Tardelli sairia para o Atlético-MG e chegaria à seleção brasileira.
Oscar
Foi talvez aquele que mais rendeu críticas a Muricy por não ser escalado com frequência, e era o mais jovem de todos os casos. Teve raras oportunidades entre 2008 e o fim de 2009, quando, com 19 anos, acionou a Justiça para se transferir ao Internacional e jogar constantemente. Hoje joga no Chelsea (ING) e é titular da seleção brasileira.
Hernane
O Brocador, hoje referência do Flamengo, passou anos na categoria de base do São Paulo sem ser utilizado. Muricy podia ter utilizado o atacante desde 2007, mas ele nunca chegou aos profissionais. Foi emprestado a clubes menores até se destacar em 2012, pelo Mogi Mirim, um ano depois de sair do São Paulo.
Geuvânio
Descartado por Muricy Ramalho no Santos, o atacante virou joia de Oswaldo de Oliveira ótima campanha da primeira fase do Paulistão de 2014. Com o treinador do São Paulo, foi emprestado ao Penapolense e teve sua venda permitida.
Felipe Anderson
Por vezes criticado por Muricy Ramalho, chegou a ser chamado de “projeto de jogador”. Apesar de ser utilizado no Santos, convivia com as ressalvas de Muricy. Hoje joga na Lazio (ITA).
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