Topo

Você acredita em maldição? Gigante europeu quer acabar com pesadelo

Bela Guttmann ganhou estátua para tentar quebrar maldição - Reprodução/Benfica TV
Bela Guttmann ganhou estátua para tentar quebrar maldição Imagem: Reprodução/Benfica TV

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

13/05/2014 06h00

Você acredita em “zica”, “praga”, maldição? Será que isso funciona no futebol? Um clube português convive com essas conspirações há mais de 50 anos e espera que isso passe de uma vez por todas na próxima quarta-feira e não chegue a um número secular. É a curiosa história pela qual vive o Benfica, mais tradicional clube do país e que faz final da Liga Europa contra o Sevilla, em Turim.

A equipe foi uma das maiores potências da Europa na década de 60, liderada pelo craque Eusébio. Venceu Barcelona e Real Madrid nas finais e arrematou as Liga dos Campeões de 1961 e 62. Nas duas oportunidades o time foi comandado pelo treinador húngaro Bélla Guttmann. Só que depois das históricas taças, ele se desentendeu com dirigentes e deixou o time.

Com orgulho ferido, fez uma afirmação em tom de maldição: cravou que com sua saída o time jamais voltaria a levantar uma taça europeia nos próximos cem anos.  Fato é que no mesmo ano em que saiu, o time chegou à final da Liga. Mas perdeu para o Milan. E ali começava uma sina de vices que daria margem para que a “zica” do treinador começasse a perseguir.

Depois de ser bicampeão europeia, a equipe vermelha perdeu todas as sete finais de torneios europeus que realizou, sendo cinco da Liga dos Campeões e duas de Liga Europa (ou extinta Copa da Uefa). A mais recente foi dolorida, na temporada passada, para o Chelsea, na Liga Europa, com gol nos acréscimos.


E agora, em nova decisão no torneio, o assunto volta à tona. “Sempre que o Benfica chega a uma final se fala muito disso. Aqui em Portugal virou uma brincadeira, mas é fato que o Benfica é o time que mais perdeu finais europeias. Sempre falam isso e agora só se fala disso”, afirmou Sergio Krithinas, jornalista do tradicional diário esportivo Record, e que cobre o Benfica.

“A verdade é que o Benfica sempre jogou com rivais muitos fortes e nunca foi o favorito nessas finais. Perdeu duas vezes do Milan com times bem melhores, da Inter dentro de Milão. Do Manchester United em Wembley. E o PSV e o Chelsea também eram equipes mais fortes. Mas nessa final de quarta-feira, sim, o Benfica é favorito”, continuou.

Internamente, o assunto tem muita resistência no time de Lisboa. Os dirigentes não gostam que ele se dissemine, embora todo mundo já tenha escutado alguma vez a praga.  “Dentro do clube ninguém toca no assunto, mas existiu mesmo isso lá. Os torcedores também não dão muito ênfase pra isso, pelo fanatismo que eles têm porque não ficam lembrando de coisas que não são boas. Mas é pertinente, existiu isso”, falou o ex-lateral Léo, que atuou por quatro anos lá.

“Os dirigentes nunca falam disso, e já perguntei pra esse treinador. Ele falou que não liga pro passado. Eles sempre tentam desvalorizar”, endossou o jornalista do Record.

Apesar de não gostarem do tema, os próprios dirigentes já tentaram de alguma forma fazer com que a maldição acabasse. A final da Liga dos Campeões de 1990, contra o Milan, foi disputada em Viena, cidade onde está enterrado o corpo do ex-treinador que fez a afirmação de que o clube não ganharia mais nenhum torneio europeu em cem anos (ele morreu em 1981). Os cartolas aproveitaram para organizar uma visita do time ao seu túmulo. Mas não adiantou e veio uma derrota por 1 a 0.

Neste ano, o clube fez uma ação que pode tentar amenizar a bruxaria. Fez uma estátua de Bella Guttmann de bronze com as duas taças da Liga, uma em cada braço. “Eles não admitem publicamente, mas é uma maneira de quebrar a maldição”, falou Sérgio.

Na época do lançamento da estátua, os dirigentes minimizaram a história em torno da maldição do treinador e disseram se tratar apenas de uma homenagem. Ainda assim não teve como não falar sobre a zica.

“É uma justiça fazer homenagem àquele que foi um grande treinador do Benfica e nos deu dois títulos europeus, os títulos mais importantes do clube. Como torcedor e sócio sempre ouvi dizer da tal maldição”, falou Rui Gomes da Silva, vice-presidente do clube.

Há também quem minimize totalmente tudo isso. O brasileiro Mozer é um dos maiores ídolos da história do clube e jogou uma das finais de campeonato europeu que o time perdeu (para o PSV Eindhoven, em 1988). Disse que o time não jogou sob efeito disso e que é só jogar bem que ganha.

“Eu acho que isso é história só pra vender. As pessoas sempre comentam isso e quando acham se agarram nisso. A competência, o rigor, a disciplina, estão associados a vitórias. Quando se tem disciplina e empenho, automaticamente as vitórias veem. Tem que se ter bons jogadores pra vencer. E se não tem ficam com essas históricas folclóricas.”

Será que a tacada de fazer a estátua e homenagem ao húngaro vai funcionar e quebrar a zica vai dar certo? Só após a partida contra o Sevilla, na quarta, em Turim, às 15h45 (horário de Brasília), com Placar UOL Esporte, é que vai se saber.