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DIS volta ao futebol e se aproxima até do Santos, com quem briga na Justiça

Guilherme Costa, Guilherme Palenzuela, Jeremias Wernek e Samir Martinez

Do UOL, em São Paulo (SP), Porto Alegre (RS) e Santos (SP)

30/05/2014 06h00

Braço esportivo do Grupo Sonda, a DIS estava disposta a repensar sua participação no mercado do futebol. Um dos principais motivos para isso era o relacionamento conturbado com clubes, ainda mais desgastado por causa da polêmica transferência do atacante Neymar, que trocou Santos por Barcelona em 2013. Pouco mais de cinco meses depois, o grupo de investimento resolveu mudar os planos e retomar aposta no esporte. E o maior símbolo disso foi uma reaproximação com o clube do litoral paulista.

“Embora tenhamos ações contra eles por causa do André e do Wesley, embora tenhamos vivido problemas envolvendo o Neymar, temos de esquecer e ver o lado profissional das coisas. É bom para o Santos e é bom para a DIS? Então vamos fazer alguma coisa, desde que seja no sentido de ter mais rentabilidade”, ponderou Roberto Moreno, advogado do Grupo Sonda.

A reaproximação entre DIS e Santos começou a se fortalecer em reunião de Moreno com Odílio Rodrigues, presidente da equipe alvinegra. A diretoria do clube chegou a enviar uma camisa oficial para Delcir Sonda, presidente do grupo.

“Tenho um contato direto com eles desde o começo da negociação com o Neymar. Quando nós recebemos o dinheiro, pagamos a DIS e a Teisa, e eles foram avisados. Tenho uma boa e respeitosa relação com eles. Semana passada tive uma reunião com ele [Roberto Moreno] e mandei uma camisa autografada para o Delcir, que é torcedor do Santos. Não o conheço pessoalmente, mas falei para o Roberto que gostaria de um encontro. Temos de estar abertos para conversar com todos, sem personalismos”, disse o presidente do Santos.

Nas reuniões, Santos e DIS conversaram até sobre negociação de direitos de atletas das categorias de base do time da Vila Belmiro. O grupo de investimento analisa jogadores que estão no clube do litoral, mas os nomes desses meninos são mantidos em sigilo.

“Estamos comprando garotos da base do Corinthians, do Palmeiras e do Santos”, avisou Moreno. “Vamos continuar investindo. Estamos tentando uma nova DIS”, completou. O grupo conta atualmente com cerca de 80 atletas.

O que mais chama atenção nesse discurso é que Santos e DIS agem como se fossem velhos amigos. Trata-se de uma mudança radical para uma relação que esteve estremecida nos últimos quatro anos e que gerou uma série de ações judiciais.

Quando o Santos era presidido por Marcelo Teixeira, a diretoria vendeu à DIS um percentual dos direitos de alguns atletas da base. Foram seis jogadores negociados com o grupo, saída encontrada pela equipe para conseguir fluxo de caixa.

Na gestão do presidente Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, contudo, o Santos contestou os valores envolvidos no negócio e iniciou uma briga judicial com a DIS, que tenta receber até R$ 16 milhões. O imbróglio ficou ainda maior na negociação que tirou Paulo Henrique Ganso da Vila Belmiro – o meia acertou com o São Paulo em 2012, após desgaste nas relações com o ex-clube e com o braço esportivo do Grupo Sonda.

Contudo, nenhum desses episódios gerou tantas rusgas entre Santos e DIS quanto a transferência de Neymar. A negociação do jogador com o Barcelona foi cercada por revelações sobre valores e comissões, em trama tão intrincada que gerou até a renúncia de Sandro Rosell, que ocupava a presidência da equipe catalã.

“Sou presidente do grupo, um executivo da área de varejo. Vim para a empresa para profissionalizar, desenvolver um trabalho. O supermercado é o mais forte do grupo, mas há outras empresas, e uma delas é a DIS. Ela está sob a minha gestão, mas sempre deleguei o trabalho aos que estavam lá. A não ser em casos extremos. Nesse caso específico, sempre me envolvi, desde 2011. E desde lá você via que existiam situações erradas. Às vezes, é muito chato você ver um programa de televisão, e a DIS sendo criticada. O Luis Álvaro fazendo aquele espetáculo todo, dizendo que era o melhor presidente do mundo, e a gente sabia que a verdade era um pouco diferente. Mas a gente não tinha como provar. Por determinação minha, a empresa ficou calada esse tempo todo. Achava que a gente tinha que falar no momento certo. Esse momento iria existir, é o que aconteceu agora. Está claro que toda a operação que foi feita foi simplesmente para alguém levar vantagem de alguma coisa que não tinha mais. O Neymar pai não tinha mais 40% dos direitos do filho, mas ele se achava no direito. Sempre ficou claro que ele não respeitava nada do que foi colocado no contrato. E naquele momento específico ele teve o apoio do Luis Álvaro. Naquele momento em que o Luis Álvaro reduziu o contrato, deu brecha pra ele [pai]. Agora [Luis Álvaro] declara que o pai exigiu isso e aquilo, mas na época ninguém falava isso. Ele era um pai fantástico, o grande parceiro do Santos para manter o Neymar no Brasil. A verdade veio à tona. Fica claro que a negociação foi feita para enganar as partes”, disse Delcir Sonda ao “Blog do Perrone” no dia 1º de fevereiro deste ano.

Em dezembro de 2013, Delcir Sonda já mostrava sinais de desgaste por causa da celeuma provocada pela transferência de Neymar. Inicialmente, o Santos disse que o atacante foi negociado com o Barcelona por 17 milhões de euros (cerca de R$ 49,6 milhões). O clube ficou com 9,35 milhões de euros (R$ 27 milhões), a DIS embolsou 6,5 milhões de euros (R$ 18,9 milhões) e a Teisa, dona de 5% dos direitos do jogador, lucrou outros 860 mil euros (R$ 2,5 milhões).

A DIS questionou uma série de pontos nessa divisão. A empresa apontou amistosos, preferência em negociações com outros jogadores santistas e até um adiantamento dado a Neymar como formas de reduzir o valor que o Santos destinou ao grupo.

Depois disso, houve uma série de mudanças nas versões sobre a transferência. O Barcelona anunciou ter desembolsado 57 milhões de euros por Neymar, e o saltou posteriormente para 87 milhões de euros.

Todo o desgaste gerado pela negociação de Neymar motivou uma reformulação na DIS. A empresa tinha 12 funcionários registrados, e todos foram avisados em dezembro que seriam demitidos. Esse grupo já começou a ser remontado.

“Vamos montar estrutura igual ao que tinha antes. Vamos aperfeiçoar no sentido de que as pessoas que estarão com a gente estarão mais ligadas e terão menos liberdade”, contou Roberto Moreno. “Liberdade foi um problema porque tínhamos um custo muito elevado. Algumas das coisas que foram feitas não foram legais pra DIS. Não tiveram retorno que a gente esperava, e nós achamos melhor parar e começar do zero outra vez com mais responsabilidade”, adicionou.

A primeira demonstração da “nova DIS” foi a negociação envolvendo Carlos Luque, argentino contratado pelo Internacional. Delcir Sonda desembolsou US$ 10 milhões para viabilizar a transferência, e ainda pode investir em Aránguiz.

Sonda, que foi criado em São Paulo, é gaúcho de Erechim. O empresário é torcedor declarado do Internacional.

“Eu vou reestruturar a DIS. Tive problemas com dois diretores que saíram por aí dizendo que nós íamos fechar. Quem está contratando jogador atualmente? A DIS. Agora estou colocando jogador no Inter como pessoa física. Isso aqui é minha paixão e não tem dinheiro que pague isso”, declarou Sonda na última quarta-feira, em visita ao CT do Internacional.