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Gringos apelam a idioma e até a Obama para espalhar fanatismo por times

Danilo Valentini

Do UOL, em São Paulo

07/06/2014 06h00

A proximidade da Copa do Mundo disputada por aqui começa a deixar claro ao Brasil que o título de “país do futebol” pode ser compartilhado por outros pontos do mapa múndi. Caravanas de chilenos e argentinos cruzando os Andes e os pampas para rasgar o território nacional atrás de suas seleções, grupos de até 5 mil ingleses chegando em Manaus e outros milhares de torcedores frustrados por ficar sem ingressos só servem para relembrar que o fanatismo que envolve o futebol não tem fronteiras.

Manias de grandeza, recordes reconhecidos e até missões diplomáticas viraram realidade para estrangeiros malucos por futebol. Muitos deles, porém, ficam de cabeça virada quando se deparam com o futebol brasileiro. É o caso do sueco Kristian Bengtson, ex-diplomata de 41 anos nascido em Uppsala (70 km ao norte da capital Estocolmo) e filho de mãe brasileira.

Morador de Brasília desde 1998, Bengtson ficou de queixo caído quando viu o Palmeiras dirigido por Felipão e que contava com jogadores como Alex e Paulo Nunes. “Eu deveria ser gremista porque minha mãe é gaúcho, vim pra cá achando que assim seria. Mas em uma semana virei palmeirense. O impacto daquele time foi muito forte na minha vida”.

Forte é apelido. O diplomata, que trabalha na embaixada da Noruega, coordenando projetos indígenas no Brasil, virou uma espécie de embaixador informal do Palmeiras pelo mundo. Depois de consultar o clube se havia algum projeto para divulgar a imagem do alviverde na internet com conteúdos em inglês, Bengtson se decepcionou com a lentidão da diretoria e decidiu agir por conta própria.

Nascia assim o Anything Palmeiras, blog que tenta explicar para estrangeiros o que é o Palmeiras, com notícias, fatos históricos e cornetadas, uma característica marcante do torcedor palmeirense. O Palmeiras é um clube que desafia o seu torcedor, com uma política conturbada e, ao mesmo tempo, com uma história que o faz o maior vencedor de títulos nacionais. Não é possível que um time desse não fosse interessar quem gosta de futebol”.

E o Palmeiras provocou interesse nos gringos. Hoje, Bengtson registra a audiência de internautas de mais de 140 países, com destaque para palmeirenses que moram no exterior e, principalmente, americanos e ingleses. Seus amigos da Escandinávia ganham atenção especial, com lobby para que eles virem torcedores do Verdão. “Faço eles concluírem que a melhor opção é o Palmeiras”.

Algumas táticas de convencimento, por sinal, vão muito além de um simples lobby entre amigos. Gente como o árabe Salem Al-Karbi, torcedor do Al Wasl, de Dubai (Emirados Árabes) lança mão da diplomacia para disseminar sua equipe por diferentes lugares e convencer os mais famosos cidadãos a torcer pela equipe. Famosos do nível do presidente americano, Barack Obama. Sim, Barack Obama.

Depois de nove meses de troca de emails insistentes com Washington, Al-Karbi conseguiu: após receber o aval da Casa Branca, enviou, via um diplomata, uma camisa do Al Wasl Sports Club,  com o nome do mandatário americano e o número 44 estampado às costas, em referência ao fato de Barack Obama ser o 44º presidente dos Estados Unidos.

“Ele (Obama) me agradeceu por meio de uma carta oficial enviada para a embaixada americana nos Emirados Árabes, dizendo que se sentia agradecido pelo presente e honrado por fazer parte dos fãs do Al Wasl espalhados pelo mundo”, contou, via email, Salem Al-Karbi.

Sete vezes campeão dos Emirados Árabes e já dirigido pelos brasileiros Antônio Lopes e Joel Santana, o Al Wasl já chegou, pelas mãos de seu torcedor mais atuante, até a um front de combate. País que ainda sofre os efeitos da guerra civil iniciada em 1991, a Somália (coste leste da áfrica) foi alvo de ação de Salem Al-Kharbi, que em 2009 doou 25 camisa do Al Wasl durante um jogo beneficente.

Além disso, Al-Karbi não sossegou até emplacar seu time do coração no legendário livro dos recordes. “Toda vez que eu via o livro dos records da Guinnes nas livrarias eu dizia a mim mesmo que ali deveria conter uma página citando o Al Wasl. E por quatro anos, entre 2010, negociei com eles uma forma de criar uma marca para o meu time”, explica Al-Karbi.

O torcedor do clube de Dubai atormentou tanto os editores do Guinness que foi criada uma categoria específica para cachecóis de times de futebol. Assim, uniu mil cachecóis do Al Wasl, costurados entre si, até formar uma peça única, de 1.192,5 metros de comprimento. Fiscais da publicação que registra os recordes mais bizarros do mundo enviou fiscais para medir o mega cachecol, que dava cinco voltas completas no círculo central do gramado do estádio da cidade árabe. “Meu time está na história”, celebra Al-Karbi.