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Em meio a conflito, agentes admitem tirar jogadores brasileiros da Ucrânia

Efrem Lukatsky / AP Photo
Imagem: Efrem Lukatsky / AP Photo

Vanderlei Lima e Vanessa Ruiz

Do UOL, em São Paulo

20/07/2014 06h00

Há quase meia centena de jogadores brasileiros na Ucrânia, alguns deles mais, outros menos conhecidos no Brasil. Há anos, o país vem sendo uma boa oportunidade de jogar e ganhar dinheiro para atletas que não conseguem se colocar em times de renome no Brasil ou na Europa. Mas, desde o final de 2013, eles enfrentam um dilema: deixar ou não o país?

Em novembro do ano passado, teve início uma crise político-econômica entre Ucrânia e Rússia. Com o passar dos meses, mais sinais fazem crer que o conflito pode se tornar guerra de fato em um curto prazo. O último capítulo foi o abatimento do voo MH17 da Malaysia Airlines por um míssil. Membros do Estado ucraniano cujas declarações foram publicadas nos últimos dias afirmam ter provas de que os equipamentos usados por rebeldes pró-Rússia no ataque teriam sido financiados pelo próprio governo russo, aumentando ainda mais a tensão.

Em meio à incerteza sobre os rumos da contenda, a responsabilidade de negociar o futuro dos jogadores brasileiros na Ucrânia recai sobre agentes e empresários. Em contato com a reportagem do UOL Esporte, alguns adotaram uma postura mais reservada sobre o tema, outros menos, mas todos concordaram em um ponto: a instabilidade da região é muito desconfortável para os atletas.

“Eu tenho o Ilsinho no Shakhtar Donetsk e sempre falo com ele. É realmente preocupante. Pelo que sei, está muito inseguro e nenhum dos brasileiros que está lá quer ficar”, afirma o empresário Wagner Ribeiro.

“Mesmo se algum jogador receber uma proposta, tem que sair correndo. Não vale a pena. Se algum jogador meu receber proposta de lá, em hipótese alguma eu aconselharia a ir”, diz.

Eduardo Uran, empresário de Diego Souza (Metalist Kharkiv) e Wellington Nem (Shakhtar Donetsk), revelou que, neste meio tempo, já recomendou a um atleta que não fosse para lá: “Tenho um jogador, não posso falar o nome, que acabou de receber uma proposta da Ucrânia. Ele perguntou se era um bom momento e eu aconselhei que ele não fosse. Ele está bem aqui no Brasil, com a família...”.

A confiança de Uran está depositada no bom senso da Federação Ucraniana e da Fifa: “Quando o nível de risco sobe a um determinado ponto, como foi em outros casos, os campeonatos são suspensos e preserva-se a integridade dos atletas”.

Antes da Copa do Mundo, a final da Copa da Ucrânia chegou a ser adiada por causa da instabilidade na região: "A segurança dos torcedores é prioridade", justificou um porta-voz da federação local.

“Temos que ter calma porque o clube é responsável pelo atleta”, diz Gilmar Veloz, agente de Rodrigo Moledo, zagueiro do Metalist Kharkiv, e Luiz Adriano, atacante do Shakhtar Donetsk.

Nenhum dos empresários contatados admitiu ter ouvido qualquer pedido de seus jogadores para terminar contratos e deixar o país, mas é nítido que andam todos em estado de alerta.

“Se aparecer uma proposta, mesmo que ele venha ganhar menos dinheiro no Brasil ou em qualquer outro país, ele tem que sair. Do jeito que está, ele nem vai conseguir mais jogar”, diz Wagner Ribeiro sobre Ilsinho. O empresário diz que vai conversar com os pais do lateral nesta semana porque já tem uma proposta para que ele jogue por outro clube europeu.