Dunga reduz sucesso da Alemanha a boa geração e se compara a Nelson Mandela
A década passada foi marcada por uma reformulação estrutural no futebol alemão. O projeto incluiu clubes, centros de formação de atletas, a Bundesliga e a seleção local, que colheu em 2014 o principal fruto e conquistou a Copa do Mundo. Mas para Dunga, novo técnico da seleção brasileira, o sucesso deve-se apenas a uma boa geração.
Nesta terça-feira, na primeira entrevista coletiva após ter retornado à equipe nacional, Dunga teve uma série de declarações marcantes. Além de ter reduzido o sucesso da Alemanha a uma boa geração, o novo técnico da seleção se comparou a Nelson Mandela, principal líder político na história recente da África do Sul.
“Sobre a Alemanha, parece que o mundo descobriu agora. As coisas lá sempre foram organizadas, e eles sempre tiveram planejamento. A Alemanha sempre deu importância ao esporte em geral, à formação do atleta e à formação do ser humano. Estão achando que eles fizeram isso nos últimos três anos, mas sempre foi assim. Eu joguei lá e já havia centros para formação de atletas. O que a Alemanha encontrou foi uma geração de jogadores ótimos que se encaixou com tempo e planejamento. Eles não tiveram sucesso nos primeiros campeonatos, mas entendeu-se que tinha de haver prosseguimento. Aí a Alemanha foi campeã com todo merecimento”, analisou Dunga nesta terça-feira.
As mudanças estruturais do futebol alemão foram consolidadas depois do vice-campeonato mundial de 2002. Nos últimos dez anos, por exemplo, a DFB (Federação Alemã de Futebol, na sigla em alemão) investiu na construção de 1.387 campos no país. A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) fez só três.
A lista de mudanças do futebol alemão também incluiu conceitos de responsabilidade financeira nos clubes, um novo plano de marketing e mídia para o Campeonato Alemão, reformulação de estádios e até uma mudança no perfil dos atletas conduzidos à seleção.
O reducionismo sobre o sucesso alemão, contudo, foi apenas um dos deslizes de Dunga na primeira coletiva como novo técnico da seleção. O treinador escolhido pela CBF também chamou atenção ao ser questionado sobre pesquisas de opinião que apontaram forte rejeição ao nome dele.
“Não quero mudar o pensamento das pessoas, mas quero mudar o que elas pensam a meu respeito. O Nelson Mandela também tinha tudo contra ele, mas conseguiu mudar muito com paciência, sem precisar pegar em armas. Espero ter 1% da paciência e da sabedoria dele para mudar isso”, teorizou o técnico.
Nomes trocados, “sugerimentos” e “suicidar ele”
Dunga citou em pelo menos três momentos o italiano Arrigo Sacchi, técnico da seleção europeia na Copa de 1994. Em todos, chamou o treinador de “Enrico”.
Outro nome que o treinador brasileiro trocou foi o do colombiano James Rodríguez, que fez seis gols e foi artilheiro da última Copa do Mundo. Para Dunga, o jogador é “Gimenez Rodríguez”.
A coletiva também foi marcada por gafes de língua portuguesa: Dunga pediu “sugerimentos para o melhoramento da seleção” e cometeu uma série de deslizes no uso de plurais.
O momento que mais chamou atenção, porém, foi um raciocínio de Dunga sobre Joachim Löw, técnico campeão mundial com a Alemanha. “O Klose podia ter quebrado o recorde antes, mas ele achou que era melhor ter o Klose inteiro e colocar depois. Imagina se um treinador faz isso no Brasil e deixa de colocar um cara que está atrás de um recorde. As pessoas iam suicidar ele”, disse Dunga, que logo se corrigiu.
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