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Último trabalho de Dunga teve briga, demissões e dossiê contra imprensa

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

23/07/2014 11h00

Apresentado para a segunda oportunidade como técnico da seleção brasileira, Dunga lembrou seu único trabalho como treinador longe da CBF. Disse, em entrevista coletiva, que passou pelo Internacional 'sem problema algum'. Não é totalmente verdade. Em 10 meses, o treinador colecionou desavenças que vão desde jornalistas até dirigentes e assessores de imprensa. Amigos foram poucos e com certos 'privilégios' em informações de bastidores.

As rusgas de Dunga com a imprensa o acompanharam da seleção. No Inter, não demorou para os primeiros problemas acontecerem. Foram insinuações e acusações diretas em entrevistas coletivas causando constrangimento entre os profissionais de mídia.

1. Dossiê contra jornalistas e insinuações de 'presentes'

Em 21 de junho o treinador adentrou a sala de imprensa do CT Parque Gigante portando uma série de papéis. Perguntado, antes da entrevista, sobre o conteúdo das folhas, ele disparou: "Vim mostrar meu currículo para o Jeremias [Wernek, do UOL]. Ele disse que eu não poderia comentar a Copa das Confederações, e vim mostrar meu currículo para ele. Ele se formou em 2009, quando eu já tinha disputado três Copas do Mundo e trabalhando como comentarista, enquanto ele estava se formando", disse. Porém, o alvo era outro. O 'tiro' era para destinado a Fabrício Falkowski, do jornal Correio do Povo.  Dunga remontou a história, tentou acertar os nomes e seguiu disparando.

Em julho, Dunga novamente bradou contra profissionais de imprensa. Após uma questão sobre o argentino Dátolo, hoje no Atlético-MG, ele respondeu com ironia e se dirigiu ao repórter Rodrigo Oliveira, da Rádio Gaúcha, dizendo: "Você ganhou algum presente? Tem ganhado muitos presentes, hein...", ironizou. Respondido que tal situação não ocorria, Dunga satirizou novamente. "Então espera o Natal", referiu, dando a entender que a questão havia sido 'encomendada'.

A ira de Dunga contra jornalistas se deu, em partes, pela descoberta de uma informação sigilosa. O treinador havia se acertado com a Rádio Gaúcha para comentar os jogos da Copa das Confederações de 2013. Iria, inclusive, viajar para cobrir as partidas. No período, o Inter planejava uma série de atividades. O clube, que não sabia do acordo, não gostou nada dos planos do comandante e vetou a presença dele nos microfones.

2. Assessor de imprensa muda de cargo, 'guerra fria' com diretor e auxiliar

Não foi só o público externo que sofreu com Dunga. José Evaristo Villalobos, o Nobrinho, assessor de imprensa do futebol do Inter há 15 anos, foi deslocado de função por ordem do treinador. A relação não era boa também com o diretor executivo de futebol Newton Drummond. Houve ao menos uma discussão forte entre eles e se formou uma 'guerra fria' com alfinetadas de parte a parte em entrevistas. Hoje o diretor está sem clube. Outro que deixou o Inter por força de Dunga foi o auxiliar técnico Osmar Loss, hoje no Corinthians. Quando Dunga foi demitido, usou as redes sociais para escrever "Nada como um dia após o outro", em alusão a queda.

3. Paz com D'Ale e amigos 'especiais'

Uma das coisas que Dunga, aparentemente, abomina na CBF fez parte de sua passagem pelo Inter. Os benefícios a determinados profissionais de imprensa. Amigos do treinador da época de atleta, que hoje ocupam postos de comentaristas em rádios no Sul, recebiam informações de bastidores do clube, indicações de reforços e possíveis dispensas. 'Alimentados' pelo técnico, revelavam o que ocorria internamente no clube e, às vezes, geravam situações embaraçosas para diretores.

No elenco, Dunga teve sua melhor relação com D'Alessandro. Vizinhos e amigos fora de campo, capitão e treinador jamais bateram de frente. D'Ale virou referência no grupo e sempre defendeu o comando como pôde. Para outros, o afago não era o mesmo. O lateral direito Claudio Winck, por exemplo, era tido como 'muito bonitinho para jogar futebol' pelo comandante.

4. Perseguição dos árbitros e palavrões durante transmissão

Nem os árbitros escaparam da ira do ex-volante. Segundo ele, houve uma reunião na Comissão de Arbitragem da Federação Gaúcha de Futebol para arquitetar uma perseguição. E tudo isso foi dito nos microfones da beira do campo durante uma partida do Campeonato Gaúcho, quando foi expulso após reclamar de faltas contra sua equipe. "Eles fizeram uma reunião na Federação para me f...", disse Dunga nos microfones da RBS TV. "Eu sabia que ia ser expulso, eles fizeram uma reunião. Isso é o futebol, isso é o futebol”, completou ao ser cercado por repórteres, em março.

Hoje em dia, as palavras de funcionários e dirigentes do Inter não trazem nenhuma saudade de Dunga. E a passagem 'sem problemas' não foi exatamente assim. "Me surpreende que ainda acreditem que ele está mudado", disse um funcionário do clube.

Pela queda de rendimento da equipe, após quatro derrotas seguidas, Dunga foi demitido do Internacional em 4 de outubro de 2013. Foram 60,7% de aproveitamento, com 26 vitórias, 18 empates e nove derrotas em 53 jogos. Desde então não houve outra investida como técnico até esta terça-feira, quase um ano mais tarde, quando foi anunciado novamente como treinador da seleção brasileira.