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Liberado de exército na Ucrânia, jogador brasileiro relata tensão no país

Edmar se naturalizou ucraniano e convocado para defender o exército nacional - REUTERS/Gleb Garanich
Edmar se naturalizou ucraniano e convocado para defender o exército nacional Imagem: REUTERS/Gleb Garanich

Guilherme Costa e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

26/07/2014 06h00

A crise política da Ucrânia chegou perto demais do jogador Edmar Lacerda, 34, que nasceu no Brasil e tem nacionalidade do país europeu. Convocado a defender o exército local nos conflitos, o atleta conseguiu uma dispensa. Contudo, isso não o livrou da tensão que a região vive.

“O pessoal do clube já resolveu minha situação. Eles entraram em contato com o exército, e eu não vou precisar comparecer. Acredito que alguns homens da minha faixa etária, até por tudo que está acontecendo, tenham sido chamados. Mas o presidente ligou lá e conseguiu a dispensa”, relatou Edmar.

Nascido em Mogi das Cruzes-SP, Edmar passou apenas por Paulista e Internacional no futebol brasileiro. Migrou para a Ucrânia em 2002, casou-se com uma ucraniana e não deixou mais o país. Atualmente, o meio-campista tem contrato com o Metalist e três jogos pela seleção local.

“Estou aqui há 12 anos, e eu nunca vi um clima como o atual. Só houve uma época, em 2004, com uma revolução envolvendo o presidente. Mas foi uma coisa mais pacífica, que não chegou nem perto do padrão atual. O que está acontecendo agora preocupa, é claro, e não apenas os ucranianos estão tensos. Todo o mundo está olhando para cá”, disse o meio-campista.

Edmar contou que os jogadores brasileiros que vivem na Ucrânia estão assustados com tudo que tem acontecido no país. “Claro que sim, até pela presença da família deles aqui. Eu acho que esse medo vem naturalmente, mas aqui nós temos conseguido treinar normalmente”, disse o jogador, que vive em Kharkv. “A cidade aqui fica perto da divisa com a Rússia, longe de onde estão acontecendo os conflitos. Estamos a quase 350 quilômetros de onde a situação está mais complicada”.

A localização geográfica e os planos de futuro, segundo Edmar, viabilizam a permanência dele no país. “Tenho contrato com o clube até 2015. A diretoria sempre passa algo para nos tranquilizar, e eu não penso em sair. Sei que a situação é difícil, mas sou jogador da seleção ucraniana e gosto muito do país. Eles gostam de mim e eu gosto deles, e eu ainda tenho muito a fazer no futebol daqui”, finalizou Edmar.

A crise na Ucrânia

A Ucrânia vive forte clima de tensão por causa de uma divisão política e ideológica no país – egressa da União Soviética, a nação tem uma porção pró-Rússia e outro grupo a favor de uma aproximação da União Europeia. O clima entre os dois lados tornou-se mais conturbado em novembro de 2013, quando o presidente Viktor Yanukovych se recusou a assinar um acordo de aproximação com o bloco continental – o tratado vinha sendo alinhavado havia três anos – e se aproximou dos russos.

Naquela ocasião, o governo ucraniano chegou a admitir que tomou a decisão por pressão oriunda de Moscou. Os russos teriam ameaçado cortar algumas relações com a Ucrânia – o fornecimento de gás, por exemplo.

A decisão do presidente e essa revelação do governo acirraram um clima que já não era tranquilo e levaram muita gente às ruas. Houve protestos, e cinco manifestantes morreram em confrontos com a polícia no fim de janeiro. A partir do mês seguinte, as manifestações – e as consequências – ficaram ainda mais violentas.

Em 22 de fevereiro, os protestos causaram a destituição de Yankukovych. Novas eleições foram marcadas para 25 de maio, e o opositor Oleksander Turchynov, presidente do Parlamento, assumiu provisoriamente o comando do país. Ele estabeleceu como prioridade a conversa com a União Europeia, e o grupo pró-Rússia viu em todo o movimento um golpe de Estado.

Esse cenário criou nova onda de protestos. No meio da crise política, um Boeing 777 da Malaysia Airlines caiu na Ucrânia em 17 de julho, a 215 de Donetsk, e matou 298 pessoas. Segundo o governo dos Estados Unidos, o bólido foi atingido por um míssil disparado por rebeldes pró-Moscou. Os norte-americanos ainda usaram imagens de satélites e outras provas para dizer que os terroristas foram treinados por militares russos.