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Ronaldinho muda no Atlético-MG sina de frustrar torcidas brasileiras

Título da Libertadores foi o ápice da relação de Ronaldinho com a torcida - Marcus Desimoni/UOL
Título da Libertadores foi o ápice da relação de Ronaldinho com a torcida Imagem: Marcus Desimoni/UOL

Do UOL, em São Paulo

29/07/2014 06h00

Depois de dois anos vestindo o preto e branco do Atlético-MG, Ronaldinho deixa o clube de Belo Horizonte enfim no coração de uma torcida brasileira. A trajetória de três títulos em Minas Gerais, com destaque para a inédita taça da Libertadores, compensa desfechos traumáticos nas relações anteriores com as torcidas de Grêmio e Flamengo - sem contar a falta de identidade com o fã da seleção.

Esta fica como a valiosa contribuição atleticana para a biografia de um dos jogadores brasileiros mais populares deste século, cujo ápice técnico foi vivido em gramados internacionais. A direção mineira apostou num super craque que parecia em descendente em 2012, mas contou com sua colaboração para construir os melhores meses da história do clube. 

Ronaldinho tinha contrato em vigência com o Atlético-MG até dezembro de 2014, mas na última segunda-feira acertou a rescisão contratual de forma amigável em uma reunião entre o agente, o irmão Roberto Assis, e o presidente do clube, Alexandre Kalil.

Ainda com mistério sobre a sequência da carreira, Ronaldinho completa sua passagem pelo Atlético-MG com 28 gols marcados em 88 partidas. Apesar dos altos e baixos técnicos, o pentacampeão mundial exerceu papel fundamental no título da Libertadores de 2013, apesar de não ter conseguido ser protagonista do time a partir das quartas de final.

Fora de campo, o fator Ronaldinho fez o Atlético-MG vender camisas como nunca e ainda ajudou o clube a romper com limites de uma exposição de imagem tradicionalmente regional. O meia levou o nome do time de Belo Horizonte para todo o mundo, atuando como um embaixador em viagens por América do Sul, Marrocos e Ásia.

Apesar de não ser um ídolo de declarações de impacto, Ronaldinho cativou a torcida em campo, com gols de bola parada e comemorações descoladas, como na célebre confraternização com Jô no ar. De retorno, ganhou apoio das arquibancadas quando sua mãe (Miguelina) enfrentou problemas de saúde. O Independência virou um palco especial desta relação. O estádio do América-MG abrigou as partidas mais emocionantes na campanha do Brasileiro de 2012 (vice-campeonato) e da Libertadores do ano seguinte. Lá Gaúcho anotou 16 de seus gols pela equipe.

Apesar dos rumores constantes de excessos na noite, Ronaldinho manteve o prestígio em alta com a massa atleticana. Algo que não aconteceu, por exemplo, em seu clube anterior. A experiência no Flamengo foi encerrada de forma conturbada, após decepções em campo e rixa com treinador e diretoria. O rompimento veio através de em uma liminar na Justiça a favor do atleta.

No Grêmio, a herança que ficou é ainda pior. Formado nas categorias de base do clube de Porto Alegre, Ronaldinho foi à Justiça para romper a relação trabalhista em 2001, quando se juntou ao PSG, encerrando uma desgastante batalha com os gaúchos. Dez anos mais tarde, quando deixou o Milan de volta ao Brasil, o astro frustrou a expectativa da torcida gremista, que esperava que o sentimento pela terra natal pesasse em sua decisão.

Durante as negociações, o Grêmio até chegou a preparar uma festa no gramado do estádio Olímpico para receber o ex-jogador, com direito a caixas de som. No entanto, o Flamengo acabou vencendo o leilão pelo astro. Depois disso, a cada visita aos tricolores como adversário o meia se habituou a ser hostilizado com fúria.

Também pela seleção Ronaldinho nunca foi o ídolo que se esperava. Campeão mundial em 2002 como coadjuvante de Ronaldo e Rivaldo, o meia virou o melhor do planeta com a camisa do Barcelona, mas não conseguiu fazer valer este status em missões com o Brasil. A Copa de 2006, quando estava no auge, é considerada o símbolo desta frustração, bem como as decepções nas Olimpíadas de 2000 e 2008.  

ÚLTIMO ANO RUIM

O meia de 34 anos chegou ao Atlético-MG após uma saída conturbada do Flamengo, graças a liminar na Justiça do trabalho do Rio de Janeiro. A contratação surpreendeu e foi cercada por grande desconfiança por parte da torcida, mas bancada por Alexandre Kalil.

Ronaldinho foi abraçado pela torcida atleticana e ajudou o time mineiro terminar 2012 como vice-campeão brasileiro. A empatia com os torcedores foi fundamental para o craque recuperar o bom futebol e se destacar na conquista da Libertadores, a primeira na história do clube mineiro.

Mas sem repetir as boas atuações dos anos anteriores, Ronaldinho viveu seu pior momento com a camisa do Atlético em 2014. Após a derrota no Mundial do Marrocos no fim do último ano, o craque não conseguiu a volta por cima nesta temporada - foram apenas dois gols marcados e uma eliminação nas oitavas da Libertadores, contra o Nacional de Medelín.

Em seguida, com a chegada do técnico Levir Culpi, o meia não escondeu a insatisfação ao ser substituído em jogos seguidos. Contra o Lanús, pela Recopa, Ronaldinho deixou o campo no segundo tempo acenando para a torcida em tom de despedida.

O acordo que antecipou a saída de Ronaldinho ocorreu na manhã de segunda-feira. Segundo o clube mineiro, nenhuma das partes pagará multa pela rescisão. O jogador dará uma entrevista coletiva na próxima quarta-feira, na Cidade do Galo, quando se despedirá da torcida.