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Artilheiro do Brasileiro, Ricardo Goulart foi rejeitado por SP e Palmeiras

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

01/08/2014 06h00

Antes de brilhar no Cruzeiro, o jogador-sensação e artilheiro do Campeonato Brasileiro precisou ouvir alguns nãos. O mais doloroso ele recebeu aos 14 anos, do São Paulo. Ricardo Goulart viajou de São José dos Campos (SP), sua cidade natal, até a capital do estado para um teste no tricolor.

Junto com ele estavam seu irmão, Juninho, e o hoje volante Casemiro. O São Paulo ficou com os dois e dispensou Goulart.

“Ele ficou depressivo, muito triste, pensando em parar de jogar”, lembra Nilton Moreira, o professor da escolinha onde o garoto começou em São José dos Campos. “Vim o caminho todo até aqui tentando consolá-lo. Explicando que era assim mesmo. O clube recebe 2 mil garotos por ano e precisa escolher 25, 30, não tem espaço para todos.”

Juninho está nos EUA, jogando pelo Los Angeles Galaxy, e Casemiro, no Porto. Goulart passou por Santo André, Internacional e Goiás, mas encontrou um lar para si no Cruzeiro: campeão nacional em 2013, artilheiro em 2014 e nome provável nas primeiras convocações de Dunga na seleção brasileira.

Em 2008, quando ele era apenas uma jovem promessa do Santo André, foi oferecido para o Palmeiras, de acordo com Sérgio do Prado, o então diretor de futebol do clube do ABC: “Sempre vimos potencial no Ricardo, e como temos um bom relacionamento com o Palmeiras, o indicamos à diretoria, mas não quiseram.”

O alviverde preferiu apostar em outra promessa do Santo André, o meia Makelelê, que acabou não se firmando e hoje joga em Portugal. Quando Sérgio do Prado virou diretor do Palmeiras, tentou novamente contratar Ricardo Goulart, mas diz que enfrentou resistência interna para fechar o negócio. “Diziam que era muito novo, que era preciso observar mais. Acho que o fato de o Makelelê não ter se tornado o que prometia fez todo mundo ficar com um pé atrás com o Ricardo.”

Alheio a essas movimentações de bastidores, Goulart continuou trabalhando no Santo André, esteve no grupo vice-campeão paulista em 2010 e, no ano seguinte, foi emprestado ao Internacional.

Mas acabou não tendo espaço e, na volta do empréstimo, preferiu não ficar no ABC paulista. Destacou-se na Série B com o Goiás, até chegar ao Cruzeiro, onde despontou para o país.

“Ele sempre foi um menino louco por futebol, disciplinado e que jogava na posição que pedissem”, conta Ilde Moreira, que trabalha na escolinha onde Goulart deu seus primeiros chutes.

Ela explica que na cidade ninguém o chama pelo nome, mas pelo apelido que ganhou no primeiro dia de escolinha, aos sete anos: “Gordo”. “Ele era magro, mas a mãe dele um dia contou que até os três era muito gordinho. A meninada soube e deu o apelido. Pegou e permanece até hoje.”

7 x 1

Sérgio do Prado conta que um dia o time do Santo André perdeu de 7 a 1 para o Pão de Açúcar em um torneio da base. Contrariando a eloquência do placar, Goulart, que atuava no time derrotado, foi eleito o melhor jogador em campo. “Foi coisa de maluco. O time pegou essa goleada, e no final do jogo estávamos todos indo cumprimentá-lo porque ele realmente jogou muito, mas sozinho.”

De primeira

A principal característica de Goulart é a precisão: para fazer seus gols no Brasileiro ele não precisou ajeitar a bola antes de chutá-la para as redes. Sua velocidade combina com o estilo de jogo do time, e ele parece estar sempre no local certo e na hora certa. Ao receber um passe, não costuma hesitar em finalizar, de cabeça ou de primeira, sem perder tempo.

Churrasco e fé

Nilton Moreira, seu professor na escolinha, lembra com saudade das festas com churrasco de que o garoto e sua família participavam ao final de cada torneio. Era um jeito de comemorar as vitórias e transformar os jogadores da escolinha em uma "família. Moreira também lembra de um dia em que foram todos até Aparecida do Norte (SP) rezar e agradecer por um título conquistado pelos meninos.

Em uma entrevista recente à revista Placar, o atacante disse que não é mais religioso, embora acredite em Deus. "A vida já não é fácil com ele, imagina sem", afirmou.

“A gente sempre fica muito realizado quando os meninos saem daqui e fazem sucesso na vida. Nos sentimos parte disso também”, diz Moreira.