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Odebrecht culpa terceirizada por acidente fatal no Itaquerão

Bruno Thadeu

Do UOL, em São Paulo

05/08/2014 07h31

A Odebrecht realizou estudo particular para apresentar a suposta causa do acidente que vitimou os funcionários nas obras de construção do Itaquerão, em 27 de novembro de 2013. O relatório feito pela empreiteira, assinado pelo engenheiro Fernando Mattos, responsabiliza a Locar (que realizava o serviço de guindaste) pela queda de estrutura metálica em uma das colunas do estádio e desabamento do solo, que mataram Fabio Luiz Pereira, 42 anos, e Ronaldo dos Santos, 44.

Segundo o estudo da Odebrecht, a Locar excedeu o limite máximo de peso na operação do guindaste no local, descumprindo plano de operação estabelecido anteriormente pela empreiteira.

As duas empresas emitiram nota oficial (abaixo). A Locar comunica que o acidente foi causado em virtude da instabilidade do solo e se baseia em perícia do Instituto de Criminalística para comprovar o problema no piso. Por sua vez, a Odebrecht afirma que o desabamento ocorreu devido ao peso do equipamento da Locar muito acima do estabelecido.

O UOL Esporte teve acesso ao conteúdo do relatório da Odebrecht. É informado que o peso considerado ideal na área onde houve a tragédia era de até 429 toneladas-força, sendo aceitável até 460 toneladas-força. Mas o guindaste, somado ao trabalho de içamento das colunas, representaram 500 toneladas-força, indica laudo da Odebrecht.

“Ela [Locar] não o seguiu no tocante à configuração da máquina, que apresentava um peso de 500 toneladas-força de lastros suspensos no ‘ballast’ e não as 460 toneladas-força claramente especificadas”, apresenta o laudo da empreiteira.

O laudo da Odebrecht indica que a empreiteira seguiu a fiscalização nos procedimentos de operação da coluna, frisa que o piso era firme para serviços de tamanha magnitude, mas diz que o alerta do peso excedido na configuração da máquina era dever do sistema do guindaste operado pela Locar.

“Não nos foi possível compreender como o operador e/ou o supervisor da Locar decidiram prosseguir na operação (...)Só vemos duas hipóteses possíveis: ou o sistema estava fora de operação, ou os avisos foram desconsiderados, assumindo-se então o risco de prosseguir com a manobra”, complementa o relatório.

Laudo da Odebrecht não muda decisão da Polícia

Com base em laudo de 160 páginas do Instituto de Criminalística, o delegado Luiz Antonio da Cruz considerou que a parte superior do solo foi insuficiente para suportar o peso. O delegado entende que o laudo da Odebrecht não muda a decisão de responsabilizar as duas empresas (Odebrecht e Locar).

A Polícia Civil indiciou nove pessoas, sendo sete funcionários da Odebrecht e duas da Locar. O inquérito será encaminhado à Justiça até o fim de agosto.

“A Odebrecht está no direito de se defender, mas concluímos com base em estudo de que houve negligência, imperícia e imprudência por parte da Odebrecht e Locar na operação que acabou causando o desabamento do solo e morte de duas pessoas. A Odebrecht atribui a culpa à terceirizada, mas ela também tem culpa por não ter fiscalizado a situação irregular do guindaste”, disse o delegado ao UOL Esporte.

NOTA OFICIAL DA LOCAR

Com relação ao acidente ocorrido em 27 de novembro do ano passado durante as obras da Arena Corinthians, a Locar Guindastes e Transportes Intermodais entende não serem válidos quaisquer estudos particulares contratados por empresas envolvidas no processo. A Locar reconhece o único laudo oficial, elaborado pelo Instituto de Criminalística e de conhecimento público desde junho passado, que aponta o solo — cuja preparação, nivelamento e estabilidade não eram de sua responsabilidade conforme contrato e ata celebrados antes do início dos trabalhos—, como a exclusiva razão da queda do guindaste.

Por fim, a Locar repudia qualquer tentativa de desqualificar este fato determinado no laudo oficial do Instituto de Criminalística, e entende que tais atitudes demonstram apenas tentativas de confundir a opinião pública acerca dos acontecimentos. E reitera sua total confiança na independência e seriedade da Justiça brasileira para o aclaramento da verdade e a responsabilização dos culpados.

NOTA OFICIAL DA ODEBRECHT

Laudo de autoria do professor Fernando Cézar de Mattos, engenheiro mecânico e mestre em engenharia pela Escola Politécnica da USP na área de Projeto e Fabricação, revela que a causa matriz do acidente com o guindaste Liebherr LR 11350, ocorrido em novembro de 2013, nas obras da Arena Corinthians, está no fato de que os responsáveis pela operação do equipamento, todos funcionários da empresa Locar, surpreendentemente não seguiram o plano de rigging, elaborado, avaliado e previamente aprovado, que define de que forma o guindaste deve pegar cada peça em sua posição inicial e lança-la na sua posição final. É esse plano que garante a segurança na movimentação e içamento de qualquer tipo de carga, bem como define, por meio de cálculos, desenhos, análises e pesquisas de campo, o tipo e a configuração do equipamento a ser utilizado na operação e como deve se desenvolver sua preparação. A titulo de comparação, ele é tão importante e fundamental como o plano de voo de um avião, que não pode ser desobedecido pelo piloto, a seu critério.  Entre as conclusões do estudo está o fato de que o contrapeso do guindaste no momento do acidente era superior ao determinado pelo plano de rigging. Ou seja, havia 500 toneladas-força no contrapeso, muito embora o plano de rigging pedisse 460 toneladas-força, comprometendo a estabilidade todo o conjunto.

Segundo o laudo, conforme afirmado pelo Expert, “as 500 toneladas-força de lastros suspensos seriam suficientes para gerar uma situação de instabilidade e colapso estrutural, além de representar uma grave não conformidade relativa ao plano de rigging, documento submetido à análise e aprovado pela equipe de operação do guindaste. Entendemos que essa grave não conformidade é preponderante e pode ser considerada a causa raiz deste sinistro.” Ainda segundo o laudo “Entendemos que um eventual afundamento da pista sob as esteiras (ou sob alguma região específica delas) de apenas um lado do guindaste, caso tivesse realmente ocorrido, deveria ser compreendida não com a causa, mas como uma consequência do acidente, decorrente da dinâmica envolvida na transferência de peso sobre os apoios (esteiras), em virtude da perda de estabilidade do guindaste”. O estudo técnico do professor Fernando Mattos aponta que , a condição de excesso de cargas de lastros suspensos “foi objetivamente constatada nas vistorias e fortemente evidenciada por fotografias.”

Como demonstrado em outra oportunidade, a Odebrecht Infraestrutura ratifica, uma vez mais, de forma objetiva e baseada em critérios eminentemente técnicos, conforme sustentando por vários renomados especialistas, de que o solo não foi a causa do acidente, e que o recalque encontrado é, na verdade, consequência da operação realizada pelo operador do guindaste, em desacordo com o planejamento especificado no plano de rigging.