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Presidente do Botafogo admite que clube já teria fechado se fosse empresa

Presidente do Botafogo, Maurício Assumpção admite a realidade difícil do clube - Vitor Silva/SSPress
Presidente do Botafogo, Maurício Assumpção admite a realidade difícil do clube Imagem: Vitor Silva/SSPress

Do UOL, no Rio de Janeiro

05/08/2014 22h59

O presidente do Botafogo, Maurício Assumpção, participou do programa “Bola da Vez”, da "Espn Brasil", e detalhou a gravidade da situação econômica que se encontra o clube. Sincero, ele admitiu que o Glorioso já poderia até ter fechado as portas em função das dívidas e das receitas, que atualmente estão 100% bloqueadas.

“Se fosse uma empresa já teria fechado as portas? Já. Mas este número tem o Botafogo e uma série de outros clubes no futebol brasileiro. Cada vez está se tornando mais impagável”, disse.

Assumpção também destacou a necessidade que se tem sobre a Lei de Incentivo ao Esporte, o fechamento do Engenhão, a polêmica envolvendo uma empresa de seu pai e de sua madastra que tem contrato com o Botafogo e recebe uma comissão de 5% do clube, entre outras questões. Confira abaixo os principais trechos:

Dívida de R$ 700 milhões
“Quando cheguei, recebi o clube com R$ 200 milhões, fiz atualização nos balanços que é sugerida, mas nem todos os clubes fizeram. De R$ 233 milhões, vai para R$ 270 milhões. Claro que, para R$ 700 milhões, vai uma diferença grande. Dessa diferença, R$ 95 milhões são empréstimos para girar o fluxo de caixa. Chegamos ao clube com 4 meses de dívidas com jogadores e funcionários, então precisamos fazer os empréstimos. R$ 140 milhões foram de investimentos, compras de direitos econômicos, base... É um cálculo de R$ 146 milhões. Tem um número de R$ 120 milhões que são de dívidas realmente. Mas no mesmo período, essa gestão pagou R$ 107 milhões de dívidas passadas. O número é alto, uma empresa já teria fechado as portas. Mas é a realidade de números do Botafogo e de outros clubes. Está se tornando cada vez mais impagável”.

Dívida que teria deixado o clube fora do Ato Trabalhista
"O Ato Trabalhista não é questão nova. Ano passado terminaria de qualquer forma, precisaria ser renovado. Mas não foi por isso que o Botafogo saiu. Nesse período, em alguns momentos ficou fora porque havia dificuldades de pagamento. Em outubro do ano passado, surgiu a questão de que o Botafogo não estaria recolhendo tudo o que deveria. Havia uma discussão jurídica. Tem o Botafogo de Futebol e Regatas e a Cia Botafogo. Eram diferentes entendimentos de como recolher, que foram para a esfera jurídica. Como o Ato terminava em dezembro e tínhamos que fazer um novo, e o próprio Tribunal nos deu seis opções, escolhemos uma. O nosso departamento jurídico entendeu que não havia por que ficar discutindo, haveria recesso, era melhor dar entrada no ano que vem assim, que o Tribunal abrir. Mas como o Tribunal entendeu que havia uma fraude, não aceitou".

Questionamento
"Hoje há dois clubes que foram acusados de fraude em algum momento e estão no Ato. Por que pode para Fluminense ou Vasco? Fizemos um novo recurso. Esse novo Ato não fala de percentual de receita, é de um valor fixo que o Botafogo recebe, nem passa pelo clube. Esse órgão especial tem uma votação dia 7 e outra dia 21. Não conseguimos colocar dia 7, talvez dia 21 entre. Os números são contestáveis. Falam que o Botafogo sonegou R$ 95 milhões. Se eu tivesse esse dinheiro, pagava as dívidas, nem precisava fazer Ato."

Principal problema
"A principal questão é a fiscal. Mesmo na Timemania, há débitos fiscais. Hoje, a Procuradoria da Fazenda Nacional tem feito incursões de penhora de 100%. É o que temos discutido, de buscar um acordo. Com 100% penhorado não é possível. A questão do Tribunal vamos resolver mais cedo ou mais tarde, porque é uma opção que eles próprios nos deram. A questão fiscal ou é pela Lei de Responsabilidade do Esporte ou é negociação direta, o que não estamos conseguindo na Procuradoria do Rio de Janeiro. Estou indo à Brasília, porque não vou só esperar a Lei para essa questão."

Timidez no caso Engenhão?
“Falaram que foi tímida por eu ser filiado ao PMDB, partido do prefeito e governador. Disseram que eu ia me candidatar, o que não fiz. A primeira coisa que fizemos foi esperar o laudo do por que da desgraça. O resultado final do laudo foi que havia riscos e o prefeito disse que não ia brincar com isso. Nem eu brincaria. O segundo momento era: se não posso usar o estádio, não quero pagar as despesas. Quando chegamos, eram de R$ 700 mil. Se não o tinha, não podia pagar essa conta mensal, mesmo tendo diminuído para R$ 350 / R$ 400 mil reais por mês. A Prefeitura assumiu essa manutenção. Só pedimos para manter o nosso Centro de Treinamento e toda a nossa logística. Outro passo era entender como era o processo. Contratamos um escritório terceirizado. O próprio consultório nos explicou que não adianta só o Botafogo dizer o quanto pode receber, precisa provar com auditoria externa, o que tivemos que contratar. Hoje sabemos o caminho a seguir e estamos embasados. Esta semana vamos definir”.

Empresa de seu pai 
“A minha verdade me basta. Esta empresa não foi montada ontem. Ela tem alguns clientes de bebidas de refrigerantes não gaseificados. Tinha esse cliente e outros tantos. No final de 2010, meu irmão perguntou: “você tem espaço na sua camisa ano que vem”. Eu disse: “é possível que sim. Veja com nosso departamento de marketing”. Foi visto isso e havia um produto que poderia apresentar para ele (seu irmão) e mostrar para os seus clientes.  Feito isso, recomendei a ele falar com nosso diretor-executivo, Sérgio Landau, sobre a remuneração.  Então discutiram a remuneração em torno de 5%. Quando acabou isso tudo, perguntei ao Landau se o jurídico tinha analisado o caso dentro do estatuto. Viram que era possível fazer e era legal. Resolvida a questão legal e estatutária, passou para a questão de como iria me sentir em relação a isso. A questão era fazer ou não fazer e tomei a decisão de fazer. E aí sabia de todos os questionamentos que poderia sofrer. Mas saio da mesma forma como entrei: com uma casa de campo, um apartamento que alugo, um carro que eu tenho e um consultório odontológico que possuo”.