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Nilmar não fecha portas para nenhum clube: "Estou novinho em folha"

Gustavo Franceschini e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

10/08/2014 06h00

O futuro de Nilmar ainda é um mistério para ele mesmo, e ele faz questão de não descartar nenhuma possibilidade. Qatar, os times do coração, os rivais... Em entrevista ao UOL Esporte, o atacante mais desejado do mercado da bola no momento diz que está em forma e pede que os clubes fiquem de olho nele.

“Estou com 30 anos, novinho em folha”, disse o jogador, que está em Porto Alegre mantendo a forma física enquanto aguarda a solução do imbróglio em que está metido. 

A entrevista por telefone não dá muitas pistas do que Nilmar fará no segundo semestre. Hoje ele tem contrato com o El Jaish, do Qatar, por mais dois anos. O problema é que os dirigentes do país do Oriente Médio pediram rescisão unilateral do compromisso.

Nilmar e seu estafe querem que ele cumpra o contrato, considerado vantajoso financeiramente. O problema só será resolvido no fim do mês, e aí sim ele estaria disposto a negociar com algum clube do Brasil.

“O pessoal está ligando para saber a história. Até então eu não posso abrir negociação porque oficialmente não estou liberado. O Orlando [da Hora, empresário] já deixou bem claro que a partir do momento que se resolva lá a documentação e eu estiver livre 100%, aí ele vai abrir negociação com os clubes”, disse o atacante.

Confira a entrevista na íntegra:
UOL Esporte: Qual a sua condição física hoje? Qual foi a sua última partida oficial?
Nilmar:
Eu entrei de férias no dia 20 de Maio e participei da pré-temporada que a gente fez em Atibaia. Foram 15 dias e alguns jogos amistosos, mas oficialmente eu não jogo desde maio. O campeonato começa agora no fim de agosto e para mim é diferente ficar tanto tempo sem jogar. Eu fiz dois amistosos em Atibaia, mas é diferente. Faz uma semana que eu saí do Qatar e estou agora em Porto Alegre. Peguei um preparador pessoal com quem eu trabalhei no Inter eu estou fazendo trabalhos de condicionamento para manter o ritmo. Claro que é diferente treinar com 20, 30 jogadores, mas está sendo bom para mim. Estou tendo uma atenção maior para que eu chegue no clube que eu vá, ou que eu permaneça, sem sofrer muito para entrar no ritmo de novo.

Nota da Redação: O Al-Jaish, do Qatar, fez sua pré-temporada em Atibaia antes de anunciar a rescisão com Nilmar.

UOL Esporte: Você está chateado com os dirigentes do Al Jaish?
Nilmar:
Na verdade eles comunicaram antes de ter o acordo para rescindir meu contrato, antes de falar comigo. Eles se precipitaram pelo fato de existirem algumas cláusulas no contrato que permitam essa rescisão, mas não teve essa conversa ainda. Vai ter agora com o meu advogado, o dr. Breno Tannuri, e com o meu empresário, Orlando da Hora. Eles vão viajar para resolver isso aí.

UOL Esporte: Você acha que terá clima para voltar ao clube que anunciou sua rescisão?
Nilmar:
Claro que eu sou profissional, tenho dois anos ainda de contrato, se vier a acontecer... Eu acho muito difícil, depois do próprio clube ter notificado que eu estaria rescindindo o contrato, eu voltar, mas no Qatar já aconteceram muitas histórias. Eu estou lá há dois anos e já vi cada coisa acontecer que eu não duvido de mais nada. A princípio eu acho um pouco difícil, mas oficialmente eu tenho contrato. O pensamento agora é que se resolva tudo o mais rápido para ver quando eu posso voltar, porque já são três meses sem um jogo oficial. No próprio clube eu sempre me dei bem com todo mundo, nunca tive nenhum problema a não ser esse agora. Me dou muito bem com o treinador, com os jogadores. Claro que a partir do momento em que eles notificaram, aí sem dúvida nenhuma o clima fica diferente, mas eu não descarto nada. Eu já estou preparado, estou um pouco vivido neste meio.

UOL Esporte: Você sempre dependeu muito da velocidade. Isso mudou algo no jeito de jogar ao ficar mais velho?
Nilmar:
Eu nunca tive problema com preparação física. Claro, eu acabei de fazer 30 anos e é diferente de quando eu comecei com 18 anos, mas eu me sinto bem cada ano. A idade vai chegando, você tem de treinar mais, se preocupar com essa parte. Claro que o ritmo de jogo do Qatar é um, fora é diferente. No Brasil é outro ritmo, é jogo quarta e domingo. Sem dúvida nenhuma vai ser um pouco diferente, mas eu não tenho problema de peso, de preparação, para eu me sentir bem.

UOL Esporte: Tem algum time no Brasil em que você não jogaria?
Nilmar:
Eu nunca vou dizer que sim. Claro que vai ter clubes no Brasil que você tem de pensar com a garantia, porque são poucos hoje que cumprem com os seus deveres, todos sabem disso. Eu sou consciente de que sou profissional e tenho de ouvir todas as propostas dos clubes que estiverem interessados em me contratar. Inter e Corinthians foram os clubes por onde eu passei e sem dúvida nenhuma o carinho é bem maior do que os outros em que eu não tive a oportunidade de jogar ainda.

UOL Esporte: O seu empresário chegou a apresentar alguma proposta do Corinthians?
Nilmar:
Nada, nada, nada. A única coisa é que o pessoal está ligando para ele para saber a história, porque leram muitas coisas de que eu já estava livre para negociar. Até então eu não posso abrir negociação porque oficialmente não estou liberado. O Orlando já deixou bem claro que a partir do momento que se resolva a documentação, e eu estiver livre 100%, aí ele vai abrir negociação com os clubes.

UOL Esporte: Mas você sabe dizer se o Corinthians ligou para o seu empresário?
Nilmar:
Eu acredito que sim, não só o Corinthians como outros clubes do Brasil também. Ele falou comigo, mas de pessoas que trabalham no meio do futebol, não diretamente do Corinthians. Foi mais para saber a minha vontade e saber se o meu desejo é de voltar ao Brasil. Até então eu não estava com o pensamento de voltar agora, porque tenho esse contrato. Mas proposta de alguém direto do Corinthians, até onde eu sei, para mim e para o meu empresário ainda não entrou, até por respeito ao contrato que eu tenho com outro time.

UOL Esporte: É verdade que o seu sogro, que é colorado, proíbe você de jogar no Grêmio?
Nilmar:
Ele é fanático mesmo. Ele fala que se um dia eu jogar no Grêmio ele vai sair de Porto Alegre, só isso. Ele vai morar fora. Eu falei: ‘Se vier uma proposta boa eu alugo uma casa para você’ [risos]. Aqui a rivalidade é muito grande entre Inter e Grêmio, ele é fanático desde pequeno, é sócio, mas ele já está convivendo comigo há dez anos e sabe que futebol é profissional. Então eu nunca vou dizer que não vou jogar em um clube até por respeito ao Grêmio, que é um clube grande também. Tem muitos jogadores lá que já atuaram no Inter também.

UOL Esporte: Você na infância era são-paulino?
Nilmar:
[Risos] Em São Paulo eu sou corintiano, mano. Do bando de loucos daí [mais risos]. E no Sul eu sou colorado, na infância era colorado.

UOL Esporte: Você acha que ainda que tem espaço na seleção?
Nilmar:
Ficou distante depois que eu fui para o Qatar. Só vou voltar a pensar nisso quando estiver jogando em um país que me propiciar a brigar por uma vaga. Agora estou com 30 anos, na Copa vou estar com 33 para 34 anos, é uma idade em que infelizmente tem um certo preconceito. Apesar de que isso está mudando. Tem jogadores que estão jogando até com mais idade, e se eu voltar a jogar em um clube grande sem dúvida nenhuma eu vou pensar em seleção. Mas no momento não voltaria para o Brasil pensando em seleção brasileira não. Voltaria se fosse uma oportunidade boa e em um clube bom também.

UOL Esporte: Com o retorno do Dunga à seleção brasileira não daria vontade de retornar ao Brasil?
Nilmar:
Sem dúvida, com o Dunga voltando sempre tem. Eu sou agradecido por ele por ter me levado para uma Copa do Mundo, que era o meu sonho, mas ele sempre deixou bem claro que levou quem merecia. Eu estava em um momento muito bom entre 2008 e 2009 e tive a oportunidade de jogar a Copa com ele. Já são quatro anos que se passaram e foi o momento, então eu acredito que se eu estiver em um bom momento e ele como treinador, sem dúvida nenhuma ajuda bastante. Tem uma certa esperança, mas quem se convoca para seleção é o jogador dentro de campo. Agora, de voltar e aceitar uma proposta do Brasil porque ele voltou para seleção não, isso aí não. Sem duvida nenhuma envolve outras coisas.

UOL Esporte: Você acha que podia ter jogado a Copa de 2014 se não tivesse ido para o Qatar?
Nilmar:
Ah, agora é fácil falar, mas eu iria ter chance pela idade e por ter jogado uma Copa. Como eu disse, dependeria do momento que eu estivesse no clube e se pintasse a oportunidade de ir. Isso é importante, tem de aproveitar como eu aproveitei na época do Dunga em 2008. Dizer depois da Copa é fácil, mas sem duvida a chance aumentaria se eu estivesse em um centro que o Felipão pudesse ver. Chance eu teria, sem dúvida.

UOL Esporte: O que faltou para o Fred encantar na Copa do Mundo?
Nilmar:
Eu acompanhei bem a Copa. Eu tive a felicidade de jogar a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. E é bem diferente. O Brasil ganhou merecidamente a Copa das Confederações, mas a Copa do Mundo não se compara a nenhum campeonato. É bem diferente por tudo o que envolve, a mobilização que é. O Fred fez uma Copa da Confederações muito boa e criou-se uma expectativa muito grande, só que a Copa do Mundo era depois de um ano. Muitas coisas acontecem e em um torneio curto assim você tem de estar muito bem. O Fred sofreu um pouco, mas a seleção brasileira toda não rendeu o que tinha rendido na Copa das Confederações. Hoje não tem mais bobo no futebol, tiveram dificuldades maiores e acabou caindo mais no Fred por ser o atacante responsável por fazer gol. Nada deu certo. O Brasil não teve nenhum jogo que deu aquela esperança de que o Brasil está sobrando em campo. Em alguns jogos o Brasil sofreu para ganhar, as outras seleções estavam mais bem preparadas.

UOL Esporte: Qual foi o melhor momento da sua carreira?                          
Nilmar:
Sem dúvida foi no Corinthians, antes da lesão no joelho. Quando cheguei no Corinthians, nós ganhamos o Brasileiro e eu vinha bem no Campeonato Paulista e na Libertadores. Fui o artilheiro do Paulista, o melhor jogador. Joguei 14 jogos, fiz 18 gols e acabei lesionando o joelho. Então o início de 2006, para mim, foi o melhor em termos de resultados dentro de campo. Ao lado do Carlitos Tevez ficava fácil [risos].

UOL Esporte: Tem algum jogador parecido com você no futebol brasileiro? Quem?
Nilmar:
Agora você me pegou. Acho que não tem ninguém não, os caras tem de contratar hein? [risos]. Tomara que não tenha ninguém com as minhas características, estou com 30 anos e novinho em folha. O meu parceiro Índio, com quase 40, ainda está jogando [risos]. Eu estou com trintinha e os caras ficam falando que eu estou velho, eles estão de sacanagem. Agora que eu estou me sentindo bem, pô. Não é só correr, tem de fazer gols hein? [risos]

UOL Esporte: O quanto as lesões atrapalharam a sua carreira?
Nilmar:
As duas lesões foram no Morumbi e contra o Palmeiras. Foram as duas lesões mais sérias, depois não tive mais problema. Sem dúvida atrapalhou muito. Seria diferente porque eu vivia o melhor momento na carreira em 2006. Tinha a Copa do Mundo, foi em um momento que estava acabando meu empréstimo com o Corinthians. Depois deu aquele imbróglio todo judicial, foi difícil. Porque o jogador quando está bem quer sempre estar jogando. E ficar sem jogar seis meses... Aí logo quando eu voltei, depois do terceiro jogo, contra o Palmeiras, eu lesionei o outro joelho. Acabei ficando um ano sem jogar, vem até uma certa desconfiança de como vai voltar a jogar. Felizmente eu peguei um momento em que a medicina está muito avançada, tem profissionais capacitados. O Dr. [José Luiz] Runco, junto com o pessoal do Corinthians, me recuperou muito bem.