Topo

Alemães são acusados de calote a empresas e artistas plásticos na Bahia

Reprodução de ficha do Serasa com lista de valores devidos pela Acquamarina - Greenleaf/Reprodução
Reprodução de ficha do Serasa com lista de valores devidos pela Acquamarina Imagem: Greenleaf/Reprodução

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

14/08/2014 16h55

Os campeões mundiais alemães deixaram Santa Cruz Cabrália arrebatando corações da população local, propagando para o resto do Brasil uma imagem de simpatia. No entanto, um mês após o encerramento da Copa, os visitantes são cobrados por uma série de dívidas supostamente deixadas para trás.

O calote da federação da Alemanha no projeto de centro de treinamento na Bahia superaria a casa de R$ 1 milhão. São dívidas com empresa de instalação de grama, loja de material de construção e até débitos com artistas plásticos. Todos esses contratos no Brasil foram mediados pela Acquamarina Santo André, empresa de propriedade de três alemães residentes no país.

Nesta quinta-feira o proprietário da Greenleaf esteve em Cabrália para tentar contato com representantes da Acquamarina. A empresa de fornecimento de grama para campos de futebol tem para receber da federação alemã uma dívida de R$ 153 mil com relação a serviços prestados na Bahia.

"Não nos receberam. A gente tirou todas as máquinas do campo. A gritaria é geral aqui na cidade inteira, eles deixaram um rastro muito grande. Cortaram a luz, o campo ficou sem sistema irrigação. Eles devem R$ 6,3 mil de luz", afirmou Flavio Piquet em contato com a reportagem por telefone.

A Acquamarina é uma empresa de propriedade dos alemães Kay Joachim Bakemeier, Dirk Stefan Reichling e Christian Johannes Walter Hirmer, que inicialmente projetava aproveitar o antigo centro que recebeu os campeões mundiais como um condomínio para turistas.

"Eles estão na cidade. Falam que eles vão chegar às 10h, 11h, às 13h…. mas nunca chegam. Claramente é um esquema para que a gente não consiga entrar em contato. É uma postura de muita má fé. Não atendem telefone. A gente até tem condições de fazer um financiamento para eles pagarem o que nos devem. Mas parece que é gente realmente de trambique", diz o sócio da Greenleaf, que também trabalhou para outras dez seleções da Copa: "todo mundo pagou, só a Alemanha deu problema".

A empresa de fornecimento de grama para campos de futebol fez uma notificação extrajudicial e recebeu de volta a promessa da quitação de dívida. O prazo expira nesta sexta-feira, e a Greenleaf promete entrar na Justiça já na próxima semana.

A maior parte do valor devido pela seleção alemã no Brasil é referente a obras de arte encomendada para ornamentar sete das 20 casas do complexo, naquelas que serviam aos dirigentes da federação. Ao todo são sete artistas plásticos brasileiros envolvidos, que esperam pelo pagamento: Maria Nepomuceno, João Modet, Rodrigo Braga, Afonso Tostes, Cássio Loredano, Tatiana Blass e Marconi Moreira.

"De fato isso ocorreu, falta metade do pagamento. Ao todo foram 14 artistas contratados, sete alemães e sete brasileiros", conta o artista Rodrigo Braga. "Falam que vão pagar. Temos um advogado em comum, os sete artistas mais um curador e uma produtora. Eles receberam uma notificação judicial e têm até amanhã. Mas eu não estou vendo luz no fim do túnel", acrescenta.

A loja de material de construção Fiaço, com sede em Porto Seguro, também espera pelo pagamento de uma dívida. Segundo um funcionário que não quis se identificar, a Acquamarina é um cliente antigo: "nunca deu problema, está é a primeira vez. Mas estamos esperando receber".

CAMPO PARA INDÍGENAS ESTÁ ABANDONADO

Antes de deixar a base baiana na Copa, os alemães ofereceram um cheque de 10 mil euros aos índios pataxós, em uma espécie de gesto de agradecimento pela recepção em Cabrália. O projeto previa a reforma de um campo na via de acesso ao povoado de Santo André, uma promessa para os moradores locais para compensar o tumulto das semanas de Mundial.

A reforma foi iniciada, mas acabou deixada de lado depois da despedida da seleção de Neuer, Podolski e companhia. A previsão era de que o local estivesse concluído no final de julho, mas hoje, em meados de agosto, o terreno de propriedade do Esporte Clube América de Santo André está abandonado [a imagem abaixo foi registrada nesta quinta-feira].  

"Largaram o troço pelo meio. Está tudo largado aqui, um vexame completo", diz Flavio Piquet, da Greenleaf.

O UOL Esporte entrou em contato com a assessoria de comunicação da Federação Alemã de Futebol, mas não obteve resposta até o fechamento da reportagem. Tobias Lunge, interlocutor da Acquamarina com as empresas contratadas, também não foi localizado.  

Imagem do campo no povoado de Santo André que ganhou a promessa de reforça dos alemães - Greenleaf/Reprodução - Greenleaf/Reprodução
Imagem do campo em Santo André que ganhou a promessa de reforça dos alemães
Imagem: Greenleaf/Reprodução