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Bom Senso vê interesse particular dos clubes em início de acordo

Romário e Alex se uniram para fazer lobby contra aprovação da LRFE no início de agosto - Romário/Oficial
Romário e Alex se uniram para fazer lobby contra aprovação da LRFE no início de agosto Imagem: Romário/Oficial

Guilherme Costa, Pedro Lopes e Ricardo Perrone

Do UOL, em São Paulo

17/08/2014 06h00

A cisão que existia entre Bom Senso FC e clubes sobre a lei de responsabilidade fiscal do esporte (LRFE) foi dirimida após reunião realizada na última quinta-feira (14), em São Paulo. O encontro serviu para criação de uma proposta conjunta, que está muito mais perto dos ideais dos atletas do que do que as equipes queriam inicialmente. E a razão para isso, segundo o grupo que representa os jogadores, é o prazo.

Com apoio da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e da TV Globo, clubes têm feito lobby para que a LRFE entre na pauta da Câmara dos Deputados ainda neste ano. O maior temor das equipes é que isso não aconteça antes do segundo turno da eleição presidencial, o que as obrigaria a reiniciar a abordagem a parlamentares.

O ideal para os clubes é que a LRFE seja votada ainda em setembro. Para isso, porém, é necessário apoio de um grande número de parlamentares. E o Bom Senso FC, que vinha fazendo corpo a corpo com suporte do deputado federal Romário (PSB-RJ) e do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), vinha travando isso.

“Eles perceberam que a gente tem influência no executivo e que o projeto não passaria. O Bom Senso FC tem mecanismos para travar. Os clubes estão desesperados, precisam de dinheiro, e a única maneira de terem isso agora é aprovar a lei”, comentou um dos líderes do grupo que representa os atletas.

No dia 25 de julho, após reunião de clubes com a presidente Dilma Rousseff para debater o refinanciamento de dívidas, o presidente Maurício Assumpção chegou a ameaçar abandonar o Campeonato Brasileiro se a LRFE não fosse aprovada ainda neste ano. Toninho Nascimento, secretário de futebol do Ministério do Esporte, disse depois do evento que alguns times “não chegariam ao fim do ano” sem ajuda do mecanismo.

A primeira tentativa de colocar a LRFE na pauta da Câmara aconteceu no dia 5 de agosto. Jogadores do Bom Senso FC foram ao Congresso para fazer lobby contrário, mas o principal motivo para o fracasso da tentativa foi falta de acordo com a liderança do governo.

As principais razões para o Bom Senso FC fazer campanha tão ativa contra a aprovação da LFRE eram as contrapartidas estabelecidas pela lei e a falta de um ente regulador independente para garantir o cumprimento.

Depois da tentativa frustrada de levar o projeto a votação, clubes entraram em acordo com o governo federal para mudar o texto. O prazo de parcelamento foi encurtado para 20 anos, e as equipes foram enquadradas na taxa Selic – elas pleiteavam uso da TJLP, que é aproximadamente metade do valor.

Na reunião de quinta-feira, os clubes foram representados por Vilson Ribeiro de Andrade, presidente do Coritiba e principal articulador da CBF entre as equipes. Ele ouviu demandas do Bom Senso FC e aceitou também a criação do ente regulador independente (mas bancado pela própria CBF).

Partiu do próprio Vilson a iniciativa de pedir a reunião de quinta-feira. Até isso o Bom Senso FC vê como sinal de preocupação dos clubes, já que o grupo sempre teve enorme dificuldade para ser atendido pela CBF.

Outra demonstração de interesse dos clubes, segundo o Bom Senso FC, foi a postura do próprio Vilson. Ao ouvir propostas do grupo e debater medidas, o presidente foi mais aberto e assertivo do que a CBF havia sido em encontros anteriores.

“Sabe o que acontece? Eles não sentavam na mesa com a gente e recebiam informações desencontradas do que a gente queria – talvez de algumas pessoas que não tinham interesse no diálogo. Meu trabalho todo foi costurar essas situações de desconforto para viabilizar um projeto que é bom para o Brasil”, disse Vilson. “Meu trabalho foi mais ou menos o seguinte: você gosta de uma menina e não tem coragem para pedir em namoro, e aí pede para um amigo interceder. O que eu fiz foi mais ou menos isso: aproximar as pessoas”, completou.

Na segunda-feira, o Bom Senso FC terá reunião com Toninho Nascimento. O encontro servirá para o grupo apresentar o que foi alinhavado com Vilson e jogar a bola para o governo federal.

A ideia do Bom Senso FC é pedir três coisas a Toninho: aval sobre a criação do ente regulador, ação junto ao Ministério da Fazenda para aprovação do novo modelo e pressão para que a lei seja colocada urgentemente na pauta.

“Aquela coisa de cada um olhar para o próprio umbigo precisa dar lugar a um pensamento mais coletivo. O futebol precisa disso. Sabemos que dependemos de uma melhora no ambiente geral para que o esporte se mantenha sustentável e que a gestão chegue aos padrões que entendemos serem efetivos”, afirmou Eduardo Tega, diretor da Universidade do Futebol e consultor do Bom Senso FC.