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No ano 100, Avallone diz: "O que será do Palmeiras, ponto de interrogação"

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

22/08/2014 06h00

A primeira lembrança que o jornalista Roberto Avallone guarda de futebol foi a imagem da tia Dora comemorando efusivamente um gol do Palmeiras, escutando pelo rádio uma vitória decisiva sobre o São Paulo nos anos 50. Hoje, décadas depois, o comentarista diz olhar para o clube mais vencedor do século 20 como um gigante em um penoso processo de encolhimento.

"O Palmeiras é um caso de estudo científico, porque parece ter perdido a causa que o fez grande", afirma o jornalista, blogueiro do UOL.

A pedido da reportagem, Avallone fez uma reflexão sobre os dilemas que o Palmeiras enfrenta na chegada ao centenário, celebrado oficialmente na próxima terça-feira, dia 26 de agosto. Mesmo prestes a inaugurar uma nova e moderna arena, o clube lida com a ameaça de um terceiro rebaixamento neste século e o consequente distanciamento em relação aos principais rivais.

"O que será do Palmeiras, interrogação. Realmente foi o campeão do século… passado. Repito, passado. Porque neste século, meus Deus. Neste século, ganhou o que? Um Campeonato Paulista em 2008, quando teve um aporte financeiro de uma parceira, no caso a Traffic. E ganhou uma Copa do Brasil, em 2012, com gol de cabeça do Betinho! E Copa do Brasil muitos times ganharam, o Santo André… times não necessariamente de primeira linha", comenta o jornalista.

Uma das conclusões mais controversas da análise de Avallone reside no aproveitamento de troféus. Na opinião do jornalista, se não fosse a parceria com a Parmalat [entre 1992 e 2000], o Palmeiras poderia enfrentar jejum de títulos até hoje em dia. Na oportunidade em questão, turbinado por craques como Edmundo, Edílson e Roberto Carlos, o clube da Rua Turiassu se livrou de uma fila de 16 anos com a conquista do Paulistão de 1993. Em seguida veio uma coleção de vitórias estaduais, nacionais e internacionais.

"[A Parmalat] foi um divisor de águas para pior. Enquanto durou a Parmalat, tudo bem. Para o Palmeiras foi uma grande coisa. Acho até que o Palmeiras deveria ter sido mais vezes campeão do que foi (…) O Palmeiras foi muito grande. E foi um hiato. E se não fosse a Parmalat, o Palmeiras estaria mais de 40 anos na fila", opina Avallone.

"Porque o Palmeiras sofreu um processo de apequenamento desde o final dos anos 70. Houve um episódio com um presidente, que foi deposto. E isso permitiu a ascensão de outras pessoas, com outra mentalidade, do bom e barato. E o Palmeiras passou por anos terríveis. Nos anos 80, me lembro de um time que tinha Darinta, Benazzi… meus Deus, um horror! Era bem típico do pós-Parmalat", agrega, na análise sobre as última décadas alviverdes.

Avallone diz que atualmente prefere distância do complexo cenário político palmeirense, mas que na época de repórter conseguia identificar com facilidade todas as correntes: situação, oposição e dissidências. O jornalista diz considerar que o DNA italiano talvez possa explicar essa tendência de cisão e cita até Giuseppe Garibaldi, herói da unificação do país. No entanto, em sua opinião, a configuração do presente palmeirense é mais delicada.

"Só que havia uma diferença do que é hoje. Neste tempo da discórdia, brigava-se, mas tudo acabava em pizza. Porque havia um bem comum: Palmeiras. E hoje, a impressão que passa é que se briga, mas em vez de pizza acaba em ódio. E o Palmeiras sai prejudicado de tudo isso", afirma.