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Função de Mauro Silva na seleção será criticar trabalho da comissão técnica

Campeão como volante em 1994, Mauro Silva será auxiliar pontual no início da nova comissão técnica da seleção - Reprodução
Campeão como volante em 1994, Mauro Silva será auxiliar pontual no início da nova comissão técnica da seleção Imagem: Reprodução

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

22/08/2014 06h00

A relação com os críticos foi um dos principais problemas de Dunga na primeira passagem pelo comando da seleção brasileira, entre 2006 e 2010. De volta à equipe nacional, o treinador admitiu neste ano que precisava evoluir nesse aspecto. E resolveu começar na própria comissão técnica a avaliação sobre o trabalho. Chamado para ser auxiliar pontual nos dois primeiros amistosos, o ex-jogador Mauro Silva será uma espécie de “ombudsman” do time pentacampeão mundial.

“O que eles querem é uma pessoa de fora, em quem eles confiem, que possa avaliar o trabalho que desenvolvido na seleção. Aspectos técnicos, táticos, comportamentais... Tenho liberdade para analisar, comentar com eles e emitir um relatório sobre tudo. O que eles querem realmente é ter gente para criticar”, explicou Mauro Silva em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Na comissão técnica de 2014, Mauro Silva é mais um representante da seleção brasileira que venceu a Copa do Mundo de 1994. Ele formava dupla de volantes com o próprio Dunga naquele time. Taffarel era o goleiro titular, e hoje trabalha como preparador de goleiros. Gilmar Rinaldi, reserva dele, atualmente é coordenador de todas as equipes nacionais.

A função de Mauro Silva naquele time era proteger a defesa. Ele era o jogador mais preso à frente da zaga – sobretudo porque o técnico Carlos Alberto Parreira decidiu liberar mais os laterais. O volante era um dos símbolos de um time que colocou ganhos individuais em segundo plano, e entender isso é fundamental para saber um pouco sobre a nova seleção brasileira.

“Em toda a minha carreira, o que eu consegui no Bragantino, no Deportivo e na seleção sempre foi porque os interesses do Mauro nunca foram prioridade. Sempre foi o interesse do grupo. Eu falo isso nas minhas palestras: “o que me ajudou nas conquistas e nos clubes em que eu passei é saber que conquistas coletivas geram benefícios individuais”. Eu sou exemplo disso: minha posição não é uma posição de destaque em campo, mas eu tive um reconhecimento muito grande no Bragantino, e na Espanha nem se fala, por causa da conquista coletiva”, completou o novo auxiliar pontual do time nacional.

Depois que parou de jogar, Mauro Silva construiu carreira no segmento imobiliário. Ele vai trabalhar com a seleção brasileira em amistosos contra Colômbia (05/09) e Equador (09/09), ambos nos Estados Unidos. Depois, a ideia é entregar um relatório para a comissão técnica, retomar a rotina profissional atual e dar espaço a outros ex-atletas. “Tem um cara com quem eu fiz coaching que fala que o feedback negativo ajuda você e dá referência para melhorar. Sem isso você fica sem referência”, avisou o ex-jogador.

Confira abaixo a íntegra da entrevista com Mauro Silva:

UOL Esporte: Qual vai ser seu papel na nova fase da seleção?
Mauro Silva:
O Gilmar e o Dunga me ligaram, e o que eles querem é uma pessoa de fora, em quem eles confiem, que possa avaliar o trabalho que desenvolvido na seleção. Aspectos técnicos, táticos, comportamentais... Tenho liberdade para analisar, comentar com eles e emitir um relatório sobre tudo. O que eles querem realmente é ter gente para criticar. A imprensa tem isso, né? Isso, ombudsman. Para você realmente ter um olhar de fora, um olhar crítico. Foi isso que eles me pediram. Tem um cara com quem eu fiz coaching que fala que o feedback negativo ajuda você e dá referência para melhorar. Sem isso você fica sem referência. Eles vão analisar e ver se o que o Mauro falou tem fundamento, se não tem, se pode ser usado ou não, mas a ideia é criticar realmente para ajudar. Acho que eles pensarem nesse sentido é bom porque eles estão querendo ouvir quem está fora e tem ótica diferente. Acho que isso pode dar subsídio e que eles podem pegar um relatório, olhar e falar “isso aqui faz sentido” e “isso aqui não faz sentido”. A decisão é deles, obviamente, mas isso permite que exista uma diversidade de olhares, até porque eu acho que eles querem que outros jogadores olhem também.

UOL Esporte: E como tem sido o trabalho até aqui? Com que frequência você conversa com outros membros da comissão técnica?
Mauro Silva:
Fizemos reuniões no Rio de Janeiro, na CBF, e nos falamos também por telefone. O que eu pude observar no início é a preocupação deles e a consciência da dificuldade do trabalho neste momento de reconstrução e de início na seleção pensando na Copa do Mundo. O que eu vi na CBF foi um trabalho muito forte do Gilmar nos dias em que eu estive lá, entrando 8h ou 9h e ficando até 18h ou 19h, trabalhando até tarde, tentando colocar aquilo para funcionar, conversando com um e com outro, tentando ter informações para desenvolver o trabalho deles. Eles ouvem muita gente, querem saber e querem tomar pé do assunto. Eu, de fora, também estive lá, converso com eles por telefone e tento avaliar o que eu estou vendo – inclusive as entrevistas que são dadas e o ambiente de fora. É uma questão tática a partir da convocação, dos treinos e da viagem para os Estados Unidos. Mas eu me sinto à vontade de fora, com a liberdade que eles me deram, para avaliar todo o trabalho que está sendo feito e falar “olha, acho que isso aqui não está legal”. Posso dar minha opinião para eles sobre tudo. Como uma pessoa de confiança, o que eles me pediram foi que ajudasse com um olhar crítico sobre o que está sendo desenvolvido.

UOL Esporte: Você participa das convocações?
Mauro Silva:
Não. Isso faz parte do trabalho deles porque é uma coisa de convicção do treinador, de escolher os jogadores que ele acha que podem atender as necessidades. A convocação não, mas a partir da convocação você pode avaliar os jogadores que vieram, o desenvolvimento deles nos dois amistosos, o comportamento, a questão tática, e aí fazer um relatório para eles. A partir da convocação eu tenho de olhar sobre tudo para fazer um relatório e comentar o que eu quiser, mas a convocação não tem minha participação. É coisa realmente deles, de escolher quem vai servir.

UOL Esporte: Vocês já começaram a falar sobre futuro? Você trabalhará com a comissão técnica apenas nos dois primeiros amistosos ou tem chance de seguir?
Mauro Silva:
Como é um cargo pontual, minha expectativa é para os dois jogos. Até porque eu tenho outras atividades e outros negócios. Como eu estou aqui em São Paulo, consigo falar com eles, estive no Rio quando necessário e vou viajar com eles para os Estados Unidos. Isso não muda minha vida. É algo temporário. Mas realmente, se tivesse de continuar, isso não passa pelos meus planos. A não ser que eles falem “olha, a gente gostou muito do seu trabalho e a gente quer”. Aí eu pensaria na possibilidade, mas hoje eu tenho claro que são dois jogos. Eles me pediram para ajudar nesse início de trabalho, nos dois jogos. Faço um relatório para eles e concluo minha participação no que eles me pediram. Essa é minha perspectiva.

UOL Esporte: O que você tem achado do Dunga como técnico? E do Gilmar como coordenador?
Mauro Silva:
É muito cedo para avaliar. Todo esse relatório que eu tenho de fazer é uma coisa para eles. O que eu posso dizer é que o Gilmar é um cara que teve sucesso como jogador e depois como empresário. Tem visão corporativa, é determinado, trabalhador e humilde, e vai ouvir e tentar se informar para fazer o trabalho da melhor forma possível. Com relação ao Dunga, o trabalho que ele teve na seleção brasileira até 2010, os números apoiam muito tudo que ele conseguiu na seleção. Ele também pode ser uma referência para os jogadores de agora na questão de superação. O Dunga foi muito criticado em 1990, voltou para a seleção em 1994 e foi o capitão que levantou o tetra. Alguns jogadores que saem agora de um momento difícil na seleção brasileira podem ter no Dunga um espelho. É um cara que sofreu para caramba em 1990, que foi supercriticado, e hoje é nosso técnico e nossa referência. O que eu posso falar sobre eles é isso. Agora, a minha avaliação sobre o trabalho deles é algo que eu vou fazer e entregar para eles. É uma coisa sigilosa.

UOL Esporte: O Dunga é mais exigente como técnico ou era mais como jogador?
Mauro Silva:
Eu não trabalhei com ele ainda. Vou trabalhar com ele agora, mas não fui jogador dele. Como jogador ele era superexigente, pegava no pé, cobrava o tempo todo. Era terrível. Imagino que como treinador seja coisa parecida, mas isso é bom porque na seleção em nenhum momento você pode relaxar. Num grupo de jogadores você sempre tem uma série de jogadores que ajudam o trabalho do treinador. É bom para o grupo essa cobrança.

UOL Esporte: A seleção brasileira sofreu em 2014 a maior derrota da história (7 a 1 para a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo). O que você pensa sobre o atual momento do futebol nacional?
Mauro Silva:
O momento do futebol brasileiro não é bom. Não vou falar que o Brasil passa por um momento bom. Eu acho que há coisas importantes a serem feitas, como a questão dos dirigentes. Realmente, os dirigentes de clubes têm de ser responsabilizados pela gestão. Eu não posso endividar a minha empresa e deixar de recolher encargos trabalhistas sem responder por isso. Se eles fossem responsabilizados, já seria um avanço grande. Aí, com uma gestão melhor e mais profissional, os técnicos teriam uma condição melhor de trabalho. Eu também não posso desenvolver um trabalho de longo prazo se eu contrato um técnico hoje e daqui a 20 dias, um mês ou dois meses eu mando o técnico embora. Parece que não tem nenhum planejamento. Se é um planejamento de longo prazo, se o técnico era o técnico ideal dois meses atrás, por que agora ele não é? Porque ele não ganhou alguns jogos? Somente por isso? Acho que isso tem de ser revisto no futebol brasileiro.

Consequentemente, se a gente fortalecer os clubes e melhorar a administração, vai melhorar também a base. Eu venho de uma base de um clube que formava muitos jogadores e que tinha uma estrutura extraordinária. O Guarani me pagou colégio técnico, cursinho e todas as condições perfeitas. Eu fui para a Europa, e quando cheguei não encontrei muitos clubes com a estrutura que o Guarani me dava quando eu era garoto. E você vai ao Guarani hoje e vê uma situação muito triste, lamentável. Por que isso está acontecendo no futebol brasileiro? A gente tem de fortalecer o campeonato, fortalecer os clubes e melhorar o produto que é o Campeonato Brasileiro. Aí a gente vai conseguir manter os jogadores aqui no Brasil e vai avançando devagar. É mais importante a direção do que a velocidade. Se você vai na direção certa, vai chegar ao seu objetivo. Pode demorar um pouco mais ou um pouco menos, mas é isso.

UOL Esporte: A Procupisa, empresa de incorporação imobiliária em que você trabalha, está vinculada a um grupo espanhol. Como repercutiu entre os executivos de lá a goleada que o Brasil sofreu na Copa? Você tem ouvido muitas piadas?
Mauro Silva:
O Fernando, que é diretor, é espanhol. A gente também tem o Manoel, que é espanhol de La Coruña. Não tem nenhuma brincadeira, mas eu ainda não estive com os sócios. O Antonio, um dos sócios, é mais brincalhão, mas a Espanha também saiu da Copa numa situação muito complicada, prematura. Então eles também não estão para brincadeira. A forma com que a Espanha saiu da Copa também foi bem dura. A Espanha com dois jogos estava eliminada.

UOL Esporte: O Claudio Taffarel, goleiro da seleção campeã de 1994 e novo preparador de goleiros da equipe nacional, disse que ainda ouve perguntas sobre o que aconteceu no Mineirão...
Mauro Silva:
É um golpe duro para qualquer jogador e para qualquer time. Uma derrota assim fica marcada, e não tem jeito. Mas o pessoal da Espanha não está muito para brincadeira, até porque eles não têm muito como brincar.

UOL Esporte: A seleção brasileira sub-17 foi eliminada pelo Paraguai nas semifinais da Copa México de Nações. A sub-20 empatou com Qatar e Equador nas primeiras rodadas do Torneio de Cotif, na Espanha, mas depois reagiu e ficou com o título. Existe também uma crise técnica no futebol brasileiro? O país deixou de revelar tanto?
Mauro Silva:
Eu acho que o Brasil continua formando muitos jogadores. O que acontece é que outros times hoje tiveram um avanço grande, e outras seleções trabalham muito bem. É cíclico também: houve momentos em que a gente tinha muito talento. Hoje em dia você vê que o talento sozinho não é suficiente. Tem uma frase que eu uso em palestras e acho interessante, dita pelo Michael Jordan: “Talento ganha jogos, mas o que ganha campeonato é time”. Você precisa ter um time forte e colocar talento para conseguir conquistas importantes, mas o talento sozinho não vai resolver. Também há muitos casos em que eles vão muito cedo para a Europa. Eu fui com 24 anos, o Bebeto foi comigo e tinha 28. Se você mantiver esses jogadores por mais tempo e puder formá-los melhor, eles podem chegar lá mais preparados e podem se tornar protagonistas em grandes times, como acontecia antigamente. Aí a gente volta naquele assunto de você fortalecer o Campeonato Brasileiro e fortalecer a base. O momento técnico do futebol brasileiro realmente não é bom, mas isso pode ser cíclico. Eu lembro de 1982, quando a gente tinha um grande meio-campo, mas faltavam centroavantes, e o centroavante foi o Serginho. Em 1994 a gente tinha um ataque muito forte, em 2002 também. É preciso buscar a excelência e a perfeição, e no Brasil a gente tem muito o que melhorar. Conceitualmente falando, o forte aqui sempre foi a união de talento e criatividade. A gente tem de avançar muito nos clubes na organização. Como o cara fala “vou ser inovador e ter um novo sistema tático” em um time se ele não tem respaldo da diretoria? Se ele não souber que os resultados podem ser complicados, mas ele vai ser mantido no cargo, fica muito difícil. Isso que precisa ser revisto. A gente vai formar porque tem uma base muito grande, num país de dimensão continental. Sempre haverá muitos jogadores, mas tem um desperdício muito grande. A gente podia formar muito mais e ter um campeonato muito melhor se conseguisse fazer os dirigentes responderem pelos clubes.

UOL Esporte: Há algum jogador no futebol atual que você considere parecido com o que você era como atleta?
Mauro Silva:
Eu não gosto muito de comparar.

UOL Esporte: O Mauro Silva teria espaço na seleção atual?
Mauro Silva:
Eu sou suspeito, né? Você sempre vai dizer que sim, mas não é o Mauro Silva que tem de achar. O Mauro Silva falar bem do Mauro Silva é uma coisa muito óbvia. Quando eu jogava, a questão das críticas eu sempre levei numa boa. Quem tem de falar bem da gente são os outros. Tem um ditado que fala assim: você falar bem de você é petulância, mas falar mal é estupidez. Não tem jeito.

UOL Esporte: Na verdade, as duas perguntas anteriores eram um preâmbulo para um questionamento mais técnico. O primeiro volante puro, como você foi durante a Copa de 1994, ainda tem espaço no futebol moderno?
Mauro Silva:
Acho que a diversidade é importante. Num grupo, quanto mais plural e mais diverso, melhor para o treinador. Se ele tem um jogador com características mais defensivas e outro com características mais ofensivas, pode escolher como quer jogar em cada dia. Isso enriquece. Às vezes, há papéis que você faz. Foi o meu caso na seleção de 1994. Eu joguei no Bragantino em 1990, 1991 e 1992. Ganhei uma bola de prata e uma bola de ouro da revista Placar. E para você ganhar uma bola de ouro você não pode ficar só protegendo a casinha; você tem de sair para jogar. Uma das virtudes que eu sempre tive na vida foi a disciplina. Num grupo e na seleção eu não posso falar o que é melhor para o Mauro; tem de ser o melhor para o time. Vou fazer exatamente o que eles estão pedindo porque é o que eles querem para o time vencer. Eu cumpri aquela função. Antes da Copa o Parreira disse: “Olha, Mauro, vamos jogar com uma zaga inédita. O Ricardo Gomes se machucou, o Ricardo Rocha também. Vamos jogar com Márcio Santos e Aldair e liberar os laterais. Quero que você fique na frente dos dois zagueiros, cubra os dois e cubra os laterais”. Então eu cumpri essa função. Joguei muito tempo na Espanha, e se você perguntar sobre o Mauro Silva no La Coruña eles podem ter uma visão diferente do que os comentaristas daqui têm porque me viram jogando na seleção e na Copa.

UOL Esporte: A decisão da Copa de 1994 acabou empatada por 0 a 0, e o Brasil conquistou o título com vitória por 3 a 2 nos pênaltis. Mas a história podia ter sido diferente – o goleiro Pagliuca se complicou para segurar um chute seu de fora da área, mas a bola bateu na trave. Você ainda pensa naquele lance? Podia ter sido o gol do tetra...
Mauro Silva:
Eu brinco com isso e digo que até hoje eu torço para aquela bola entrar. É lógico que se você faz o gol de uma final e ganha o título é excelente, mas para mim eu não troco a conquista do título por nada. O importante era o Brasil vencer depois de 24 anos, mesmo se fosse com um gol do Taffarel. Não teria problema nenhum. Era isso que a gente queria, e a conquista era mais importante. Óbvio que teria sido fantástico também se aquela bola tivesse entrado, mas o importante foi a conquista. Aquele time foi muito organizado. A gente tinha Bebeto e Romário na frente, dois jogadores talentosos e que a gente sabia que eram garantias de gols. A pressão era muito grande, e naquele momento era importante ser pragmático. Era importante conquistar. Jogar bem e vencer são duas coisas que andam juntas. Você não consegue jogar bem se o resultado não acompanha porque somente depois das conquistas e da tranquilidade que os resultados proporcionam é que o time consegue ir se soltando.

UOL Esporte: Outro episódio que marcou sua trajetória na seleção brasileira foi a Copa América de 2001. Foi só por causa do medo da violência ou também teve a ver com sua visão sobre aquele time e a função que você deveria desempenhar?
Mauro Silva:
Esse assunto é polêmico para o momento. A única coisa que eu quero falar daquele episódio é que na época, quando aconteceu, em nenhum momento eu me neguei a falar qual era a minha posição. E também deixar claro que o Canadá não foi, a Argentina não foi. Eu deixei muito claro naquela época qual foi minha posição. Tinha aquela questão de violência na Colômbia, tudo que a gente já sabe. A Copa América tinha sido cancelada na Colômbia e marcada para o Brasil. Depois voltou a ser na Colômbia.

Em toda a minha carreira, o que eu consegui no Bragantino, no Deportivo e na seleção sempre foi porque os interesses do Mauro nunca foram prioridade. Sempre foi o interesse do grupo. Eu falo isso nas minhas palestras: “o que me ajudou nas conquistas e nos clubes em que eu passei é saber que conquistas coletivas geram benefícios individuais”. Eu sou exemplo disso: minha posição não é uma posição de destaque em campo, mas eu tive um reconhecimento muito grande no Bragantino, e na Espanha nem se fala, por causa da conquista coletiva. Eu sou o melhor exemplo disso. No La Coruña passaram Bebeto e Rivaldo, jogadores com muito mais brilho tecnicamente, e eu acabei tendo uma relação muito boa com a cidade porque o time venceu. Quando o time conquista acaba sendo bom para todo mundo. O que deu certo na minha carreira foi porque sempre o time estava em primeiro lugar. Essa questão da Colômbia não foi relacionada com o time.

UOL Esporte: É esse espírito voltado ao coletivo que você espera ver na nova seleção brasileira?
Mauro Silva:
Eu às vezes faço palestras e falo muito isso: “as conquistas individuais têm de estar no segundo plano”. Não tem jeito. Quando você está num grupo, vale o melhor para o grupo. A conquista gera benefícios individuais. Então, você tem de priorizar a conquista. Não tem jeito. Qualquer comportamento que um jogador tenha em qualquer circunstância tem de pesar se é bom para o grupo, se é bom para o time ou se é bom para ele. Esse conceito tem de estar claro. Isso vai ser agora. Numa seleção ou num time, nunca pode estar em segundo plano o interesse coletivo. Isso tem de estar absolutamente claro, e você tem de saber que seu comportamento tem de ser o que é bom para o grupo. Acho que em qualquer empresa isso tem de estar claro.

UOL Esporte: O que você achou da participação do zagueiro David Luiz na última Copa? Ele teve esse sentido coletivo ou tentou “resolver sozinho”?
Mauro Silva:
O David Luiz é um jogador que deve estar presente em outras convocações. Se eu tivesse uma coisa nesse sentido, comentaria com o Dunga ou com o Gilmar. Como eu sou parte da comissão e ele pode estar no futuro, é uma avaliação que eu não devo fazer. Fazendo parte dali, qualquer coisa que a gente fale... Qualquer coisa que a gente observar no comportamento do jogador e que não for pensando no coletivo não pode continuar. O próprio jogador tem de saber disso. Se você não focar o que é melhor para a equipe e para o grupo, aí não dá.

UOL Esporte: O portal “R7” publicou que uma de suas empresas ganha com negociações de jogadores. Você é ou foi intermediário de transferências?
Mauro Silva:
Isso eu explico numa boa. O repórter do R7 me ligou. Depois que eu divulguei a nota sobre a ida para a seleção, não estava falando com ninguém. Aí ele me liga e começa a perguntar. Eu disse que divulguei a nota, que não estava falando com ninguém, e que quando eu começasse a atender eu sempre tinha falado com todo mundo. “Não, mas eu gostaria de saber como ficam seus negócios”. Eu disse de novo que não estava dando entrevistas. Quando fosse atender, falaria com todo mundo. Aí ele publica que o Mauro Silva se esquivou. Se eu estou respondendo, eu não me esquivo. Sobre o David Luiz eu falei: “sou parte da comissão e não vou responder”. Mas com relação à outra história, o que acontece é: eu voltei da Espanha em 2005. Nós estamos em 2014. Dei entrevista para o UOL, para a ESPN, para todo mundo. Toda vez que eu vou à televisão eles perguntam o que eu estou fazendo. Sou sócio dessa empresa, e a gente atua no mercado imobiliário. Disse isso em todos os lugares. Aí você vai para a seleção e o pessoal fica em dúvida sobre o que você faz. Se o cara é agente, o cara é agente. O Marcelo Djian é agente, o Gilmar foi agente. Eu nunca fui agente. Eu nunca fui empresário. Eu falei para o rapaz do R7: “Pega um documento ou uma transação que eu tenha feito. Eu tenho minha empresa e sou sócio da Procupisa, que é de incorporação imobiliária, e da Mauro Silva Investimentos, que atua no segmento imobiliário. Participo de incorporações com a minha empresa e tenho todas as notas emitidas. Se vocês quiserem ver as notas, não tenho nada a esconder”. Nunca fui agente e nunca representei nenhum jogador. Então eu pedi para o repórter mostrar um documento. Eu mostro todas as minhas notas, mas ele não soube dizer um negócio que eu fiz. O que me chamou atenção é que eu trabalhei no Bandsports e que os caras falam que agente não pode trabalhar na imprensa, mas eu passei por lá e ninguém falou nada sobre isso. Sempre ficou clara a minha posição em todas as entrevistas que eu dei. Se alguém quiser ver todas as notas que a minha empresa emitiu, pode ver. Sou sócio da Procupisa, que faz parte do grupo espanhol Cuba, que trabalha com energia eólica e tem mais de 40 empresas na Espanha. Me chama atenção é que os caras da imprensa convivem com você. Eu estive na África do Sul, estive na ESPN, cogitou-se a possibilidade de comentar a Copa para eles, trabalhei na Band no Café com Jornal, trabalhei na Jovem Pan, no Lance!, e de repente os caras publicam que eu sou agente e todo mundo replica a notícia.

UOL Esporte: O passado do Gilmar como agente e as denúncias sobre o Dunga ter lucrado com indicação de um jogador podem prejudicar o ambiente da seleção?
Mauro Silva:
É assim: cada um pode falar o que quiser, mas isso não influencia em nada o trabalho. Com relação a ser empresário, acho que são duas coisas que não podem ser feitas de forma simultânea. Se o cara foi empresário, fez isso bem, parou e resolveu ser coordenador, acabou. Mesmo caso do Dunga, que ele fala que nunca foi: são duas coisas que não podem ser de forma simultânea. Se o cara encerrou e começou outra etapa, sem problema.