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Campanha pede 'Corinthians Popular' com preços justos e transparência

Reprodução do site "Por um Corinthians Popular", que pede mudanças no clube - Reprodução/Facebook
Reprodução do site "Por um Corinthians Popular", que pede mudanças no clube Imagem: Reprodução/Facebook

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

26/08/2014 06h00

A insatisfação com alguns efeitos colaterais da nova casa do Corinthians uniu torcedores em torno de uma ideia comum: “Por um Corinthians Popular”. Incomodados com preços, políticas e atitudes da diretoria, fanáticos alvinegros se juntaram para cobrar direitos que se perderam na mudança do Pacaembu para o Itaquerão: gratuidade para crianças e idosos, preços mais justos e transparência, tudo sem partir para discussões eleitorais de qualquer espécie.

A página de Facebook da campanha hoje tem mais de 3 mil curtidas, mas a ideia do movimento está sendo espalhada a cada jogo do Corinthians em panfletagens e conversas em torno do estádio. Ela é, na verdade, o resumo de críticas que partiram espontaneamente das arquibancadas desde o primeiro jogo, e tem como objetivo, além de apontar defeitos, apresentar soluções objetivas para os problemas que até agora não têm solução.

“A ideia surgiu em conversas ali nos bares em torno do estádio, nas redes sociais. Algumas pessoas foram identificando: ‘Esses caras defendem as mesmas coisas que eu defendo”, explica um dos membros do grupo, que não quis se identificar.

Por que o anonimato?
O anonimato tem dois motivos básicos, segundo ele. O primeiro é não personalizar o discurso de um grupo. São cerca de 40 pessoas discutindo temas, posições e estratégias da campanha em uma estrutura horizontal, em que não há líderes e todas as vozes têm o mesmo peso.

O segundo é uma tentativa de não desqualificar o debate. O clube terá eleições no começo do ano que vem e Andrés Sanchez, um dos personagens da discussão, é candidato a deputado federal pelo PT. Ficar sem rosto, então, pode evitar que os descontentes sejam acusados de terem motivações dúbias na campanha.

Assim, de maneira apócrifa, o movimento “Por um Corinthians Popular” distribuiu duas notas pela internet e incentivou corintianos a postarem fotos dos filhos pequenos reclamando das condições do Itaquerão. A ideia é continuar a campanha em torno de bandeiras que estejam cada vez mais bem definidas.

Gratuidade a crianças e idosos
Hoje, três itens são básicos. O grupo pede, em primeiro lugar, a volta da gratuidade para menores de 12 anos e maiores de 60. Aparelho municipal, o Pacaembu atendia à lei municipal 11.256/92, o que o Corinthians não precisa em seu evento privado. Para os membros do movimento, ele deveria fazê-lo, ainda que não seja mais obrigado.

“Um garoto de três anos não trabalha, não pode pagar ingresso. O pai, no preço atual, pode comprometer o salário inteiro levando em quatro jogos por mês”, diz o representante da campanha, que destaca o risco da política.

“Hoje, se ele não vai paro estádio, ele não consegue entrar no treino, não encontra os jogadores na rua. O Barcelona está na sala dele, no videogame, com a camiseta vendendo. Se ele não vai ao estádio, que diferença vai fazer torcer pelo Corinthians ou pelo Barcelona? A distância é a mesma”, disse ele.

Política de preços
O segundo ponto é a política de preços do estádio. Os 22 mil lugares populares do Pacaembu viraram cerca de 14 mil no Itaquerão. Os setores mais caros chegam a R$ 350 e, embora o Corinthians tenha reduzido o setor Leste Superior de R$ 180 para R$ 150, os torcedores seguem reclamando.

No último jogo no estádio, na quinta passada, contra o Goiás, o clube de novo foi criticado pelos ingressos caros. Os membros da campanha cobram, além de uma redução no valor, uma distribuição mais inteligente dos preços.

“Você tem de pensar. Imagina um cara com renda de R$ 5 mil. Ele poderia pagar R$ 100, só que ele não pode pagar R$ 200 na Oeste e nem R$ 150 na Leste Superior. Ele vai comprar na Leste Inferior por R$ 80. O cara que ganha R$ 3 mil pagava R$ 70 no Pacaembu. Hoje ele não pode, porque a parte de R$ 80 está lotada de caras que pagariam R$ 100. E aí ele vai na Norte, a R$ 50”, diz o membro da campanha.

A teoria é de que os ingressos em setores nobres são caros e, por isso, todo o público se concentra nas áreas populares. Argumentam que, se 22 mil lugares fossem vendidos a R$ 100, por exemplo, o clube chegaria à renda de R$ 2,2 milhões que tem hoje, e ainda assim poderia vender a outra metade do estádio a preços populares.

Para ser mais objetivo, o grupo pretende formular uma sugestão para os dirigentes nas próximas semanas. O ponto mais importante é a ampliação dos lugares populares. Hoje, só as arquibancadas Norte e Sul, atrás dos gols, custam R$ 50. A campanha quer que o setor Leste Inferior, que cobra R$ 80, também tenha seu preço reduzido.

Transparência
As respostas a todos os questionamentos feitos sobre preço de ingressos até agora têm uma única resposta: o Corinthians precisa pagar o estádio. Andrés Sanchez, homem-forte do clube no Itaquerão, disse isso à ESPN Brasil dias depois do primeiro protesto organizado em frente ao seu comitê eleitoral.

O problema é que ele e outros cartolas também disseram, em outras oportunidades, que pelo menos metade do estádio teria ingressos populares. O clube, em nota oficial, disse também que abriria as contas do Itaquerão para ser transparente. Nenhuma das duas coisas aconteceu até agora.

“Eles perguntaram para o torcedor do Corinthians quem queria isso? Levaram em consideração a opinião do torcedor? Perguntaram o que eles queriam? Quanto queriam de mármore? Fizeram o que eles acharam melhor sem consultar a torcida”, disse o membro da campanha.

O movimento “Por um Corinthians Popular”, então, pede que as contas sejam divulgadas, assim como o número de ingressos que está sendo vendido para cada setor. Querem ver se os valores praticados são mesmo necessários para que a conta seja paga, e o tamanho da dívida que o clube tem pela frente.