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Aprova a saída de Douglas? Edmilson avisa são-paulinos: "Vão se arrepender"

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo

26/08/2014 06h00

Douglas não é do tipo que encanta. Contratado pelo São Paulo no início de 2012, até hoje não comove a maior parte da torcida. Eis que o Barcelona, de Lionel Messi e Neymar, bateu à sua porta, e iniciou uma negociação que vai se encerrar até sexta-feira. A história de Douglas é a mais nítida de todas, mas não passa de uma repetição do que o São Paulo já viveu: jogador que parece mediano, sem identificação com a torcida, é vendido para a Europa – normalmente, é o clube do Morumbi que percebe, anos depois, que talvez o jogador em questão tinha mais qualidade do que se esperava. Douglas refaz a trilha de Edmilson, Belletti, Fábio Simplício, Júlio Baptista e outros. E quem viveu o mesmo, avisa: o são-paulino que comemora a saída do lateral-direito vai se arrepender.

“Às vezes, não valorizamos nosso atleta, nosso ídolo. Douglas é um jogador que se não tivesse as características que o Barceliona quer hoje em dia, o Barcelona não contrataria. É um jogador muito rápido, tem força. Talvez não tenha a grande técnica, que é o que ele pode conquistar jogando com grandes jogadores. É um jogador que vai ser valorizado. Barcelona não contrataria esse jogador se não soubesse todas as características defensivas e ofensivas dele”, afirma Edmilson, que atuou como zagueiro e volante por São Paulo e Barcelona, campeão da Copa do Mundo de 2002, em entrevista ao UOL Esporte. “Eu acredito que os são-paulinos vão se arrepender. Espero que o Douglas tenha muito sucesso lá”, diz.

E os detalhes da história de Edmilson não são tão diferentes. Ele era titular absoluto, como é Douglas. E sofria, também, com críticas da torcida. Não tinha posição definida no setor defensivo: ora volante, ora zagueiro. Isso, no entanto, não era visto como a qualidade de um jogador polivalente. Com Levir Culpi, em 2000, virou zagueiro de fato. Saiu seis meses depois, para o Olympique de Lyon, no qual logo voltou ao meio de campo. Dois anos depois, receberia a medalha de ouro com a seleção brasileira após a final da Copa do Mundo, contra a Alemanha, no Japão. E, em 2004, iria ao Barcelona. No mesmo clube que hoje quer Douglas, seria campeão da Liga dos Campeões de 2006 jogando como volante – um tal Xavi esquentava o banco de reservas.  

Agora, concretizando-se a transferência, Douglas chega a um Barcelona que tem Daniel Alves no declínio. O titular da seleção brasileira na Copa de 2014 só não deixou o clube catalão porque não encontrou outras possibilidades no mercado. E Edmilson, que tão bem conhece o Barcelona e Daniel, traça a comparação com Douglas com naturalidade.

“Quando chegou ao Sevilla, o Daniel Alves começou como ponta, foi para o meio e depois para a lateral. Me lembro da época do Dani de lateral, no Sevilla. É um jogador que não muda muito das características do Douglas. Ele se desenvolveu na Espanha. O Daniel do Sevilla é totalmente diferente do Daniel que jogava há dois anos, no auge, no Barcelona. Por que ele tem que ir desenvolver o futebol dele na Europa? Porque talvez nossos treinadores e dirigentes não consigam implementar. Douglas é um jogador que tem um pouco das características do Daniel”, avalia o ex-jogador.

Para Edmilson, Douglas alcançará o próprio potencial jogando na Europa – algo que não poderia acontecer no Brasil, por diferenças na forma como se enxerga e se trabalha o futebol. “Eu acredito que esse jogador, não precisa nem três ou quatro anos, se ele pegar confiança e conseguir jogar, ele já pode se desenvolver nessa temporada. Lá, a torcida entende que precisa de uma adaptação. Depende do clube, no Barcelona se entende mais. Eu acho que não vai demorar muito tempo pro futebol dele se desenvolver”, diz.

Quem acompanhou Edmilson nas críticas no São Paulo e sucesso total no Barcelona foi Belletti. O lateral direito, assim como o volante, não teve identificação com a torcida são-paulina, que, mais tarde, descobriu que perdera um dos principais jogadores do mundo na posição – a mesma de Douglas, coincidência ou não. No São Paulo, Belletti foi volante e meia. Quando virou lateral, logo foi à seleção brasileira e ao Villarreal, do qual fez a ponte na Espanha para o Barcelona. Na Europa, fixou-se na lateral até sair para o Chelsea, da Inglaterra, mais velho. Para Edmilson, a estadia na Catalunha pode fazer com que Douglas – que já jogou até no ataque do São Paulo – se desenvolva a partir da definição de sua função em campo.  

 “Acho que isso pode acontecer a partir do momento que ele defina a posição dele”, diz o ex-jogador, que vê chances para Douglas até na seleção brasileira, para a Copa do Mundo de 2018, na Rússia.

“Acho que hoje nós temos o menino do Porto, Danilo. Joga numa liga portuguesa, de muito mais pegada. Não sei o que o Dunga pensa em relação ao lateral. mas acredito muito que o Douglas vá crescer. Maicon e Daniel não vão chegar à próxima Copa. Douglas vai chegar no auge, com 28 anos. Depende muito dele, de sugar, observar o que ele vai viver na Europa. Ele tem que saber que essa etapa é de aprendizado”, conclui.

A negociação entre Barcelona e São Paulo é por uma transferência avalia em 6 milhões de euros (R$ 18 milhões). Deste valor, R$ 10,8 milhões pertencem ao São Paulo, detentor de 60% dos direitos econômicos do atleta, e R$ 7,2 milhões à Traffic, detentora de 40% e gestora da carreira.