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Você lembra? Presente de Vitor para corintianos quase virou tragédia

Ex-lateral Vitor durante treinamento do Corinthians em 1995 - Eduardo Knapp/Folha Imagem
Ex-lateral Vitor durante treinamento do Corinthians em 1995 Imagem: Eduardo Knapp/Folha Imagem

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

27/08/2014 06h00

Nem sempre algo feito com boa intenção tem o efeito positivo desejado. Essa sensação comum para muitas pessoas foi vivenciada com doses de pânico para o ex-lateral da seleção brasileira Vitor no ano de 1995, quando atuava pelo Corinthians.

A intenção era das melhores possíveis: apenas agraciar os fãs que pagaram ingresso para ver uma partida do time alvinegro na cidade de Taubaté, no interior paulista. Depois de um triunfo por 3 a 0 sobre o Vitória, ele decidiu jogar sua camisa para a torcida na arquibancada do estádio Joaquim de Moraes Filho. Se aproximou de onde havia um grande número de torcedores e atirou sua camisa.

Não contava apenas que as precárias condições do estádio permitiram que o muro de apoio que separava a torcida de um fosso cedesse. Vários torcedores então foram lançados para baixo de forma impressionante.

Estarrecido, Vitor teve como primeira reação colocar as mãos na cabeça como quem não acreditava no que via e não sabia como proceder mediante a um fato tão assustador.

“Pra mim foi complicado, tinha acabado o jogo, o povo estava aplaudindo e fui lá querer retribuir. Eles ficavam chamando ´Vitor´, e quando fui jogar a camisa depois vi aquilo; aquele negócio caindo, aquele povo em um bolo.  Eu fiquei sem saber e coloquei a mão na cabeça em um primeiro momento”, lembrou.

Logo na sequência, Vitor, já um pouco mais consciente, demonstrou atitude bonita e pulou até o fosso para ajudar as pessoas que haviam caído e se machucado. “Eu coloquei a mão na cabeça e depois voltei e fui lá ajudar. Não tinha como eu virar as costas e correr de volta, dei uma de herói e fui lá. Ajudei, fui lá e pulei pra auxiliar a socorrer aquelas pessoas.”

“Você acredita que depois eu fiquei traumatizado um tempo? Caramba, eu chorava, tinha umas crises de choro, mas depois foi tranquilo, graças a Deus. Ainda bem que depois fui lá e vi que a coisa não tinha sido tão grave”, continuou.

Felizmente, todos os torcedores sobreviveram ao acidente, e cerca de cinco ficaram feridos.

O ex-lateral Vitor é conhecido como um dos maiores “papa-títulos” nacionais, sendo o brasileiro com mais títulos na história da Taça Libertadores da América, quatro no total (dois pelo São Paulo, um pelo Cruzeiro e outro pelo Vasco).

Reverência a Telê

Vitor hoje se dedica ao auxílio de garotos de sua cidade natal, Mogi Guaçu, que sonham em ser jogador de futebol. Visita os jovens que treinam em sua cidade e procura dar conselhos pelas inúmeras experiências na carreira.

E falar em conselho para jovens, logo um nome vem à sua cabeça: Telê Santana, com quem trabalhou aproximadamente quatro anos. Lembra que o ex-técnico dava muitas duras e avisos para endireitar os atletas e que hoje usa um pouco disso quando fala com garotos.

“O Telê pra mim foi uma inspiração. Como ele dizia, ´o bom malandro é o que anda correto e o mal malandro está sempre ferrado´. Ele sempre falava pra gente comprar casa, terrenos, e dizia ´um dia vocês vão sentir falta de mim´. Falava que tudo que se tinha que fazer, tinha que ser com seriedade e comprometimento”, contou.

Vitor recorda que antes de ir para o Real Madrid, em 1993, ouviu um pedido do comandante são-paulino. “Ele chegou e falou assim ´olha, todos os dias quando você acordar, coloca uma foto minha na sua cabeceira pra lembrar de mim´. Foi uma escola que eu tive. Muitas pessoas são especiais, mas tem caras que são únicos, como o Telê e o Cafu, por exemplo. Grandes exemplos que eu levo comigo pra sempre´”, finalizou.