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Após vexame, ex-herói gremista vira símbolo de má fase do Manchester United

Anderson (número 28) lamenta lance em derrota do United na Copa da Liga - REUTERS/Eddie Keogh
Anderson (número 28) lamenta lance em derrota do United na Copa da Liga Imagem: REUTERS/Eddie Keogh

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

28/08/2014 06h00

Uma das imagens que ficou no vexame do Manchester United na eliminação na Copa da Liga Inglesa diante de um time da terceira divisão, na última terça-feira, foi o brasileiro Anderson correndo atrás dos adversários do desconhecido Milton Keynes Dons. Há sete anos a ex-revelação do Grêmio chegou em Old Trafford em uma transação milionária, com esperança de virar um novo ícone do clube. Mas hoje o meio-campo é uma decepção de US$ 45 milhões, cujo futuro é incerto na equipe mais vencedora da Inglaterra.

Anderson é um dos símbolos do declínio do próprio Manchester, em uma transição sofrida após a aposentadoria de seu lendário técnico Alex Ferguson [27 anos no cargo]. O time vem de uma temporada desastrosa, que acabou sem vagas em copas europeias depois de 22 anos seguidos de classificações. Após o fiasco na Copa da Liga, o brasileiro ex-seleção olímpica (Pequim-2008) e principal (Copa América 2007) foi bastante criticado pelos jornais ingleses, virou uma espécie de imagem da má fase do United.

Com apenas 26 anos, Anderson teoricamente deveria estar desfrutando do auge de sua carreira. Uma trajetória que desde cedo conviveu com expectativas das mais altas, principalmente pelo protagonismo do jovem meia na histórica partida entre Grêmio e Náutico pela Série B de 2005, conhecida como "Batalha dos Aflitos".

"Eu acredito muito nesse jogador. Vi bastante da formação dele, vi o potencial que ele tinha, não somente na parte técnica, mas também na questão da personalidade. A gente via a propriedade que ele tinha em querer a vitória, tinha uma ambição de jogo muito grande. Uma das coisas que chamava a atenção nele era a capacidade de enfrentamento pessoal que tinha, parecido com o que a gente via no Ronaldinho no Grêmio. Sempre buscava o título, o ponto mais alto", afirma Julinho Camargo, técnico do Pelotas, profissional que trabalhou com Anderson na base do Grêmio.

Na última terça Anderson ganhou uma chance de Louis van Gaal na partida contra o modesto Milton Keynes Dons. O treinador holandês optou por uma formação alternativa no confronto de primeira rodada, só com alguns titulares, mas acabou surpreendido em uma derrota por 4 a 0. O brasileiro teve atuação criticada e reviveu entre a torcida do United a questão: por que mesmo pagamos tanto por ele?  

Para se ter uma ideia, o Manchester pagou mais por Anderson do que por Cristiano Ronaldo e Wayne Rooney, os dois maiores jogadores do clube na última década. O português desembarcou no United por US$ 20 milhões, ainda como uma jovem promessa do Sporting. Já o atacante foi contratado junto ao Everton na temporada seguinte, por US$ 33 milhões.

Anderson chegou a Old Trafford com a expectativa de ser um novo Roy Keane ou então uma versão moderna de Paul Schloles, dois jogadores vencedores do United nos anos 90, meio-campistas bastante participativos, mas com posicionamento recuado. O técnico Alex Ferguson enxergava no então meia ofensivo brasileiro o potencial de se transformar exatamente nesta peça.

A bem da verdade, Anderson de cara até chegou a fazer boas apresentações neste papel, com vitórias pessoais nos choques com Cesc Fàbregas em clássicos quentes entre United e Arsenal. Mas, aos poucos, o brasileiro perdeu o rumo e não conseguiu se firmar.

Neste declínio, a questão física é uma das chaves para entender o fiasco Anderson na Inglaterra. A antiga promessa do Grêmio acumulou problemas no joelho, coxa e panturrilha nas últimas quatro temporadas. Ao todo o brasileiro começou 71 partidas como titular do Manchester, mas conseguiu acabar apenas 20 delas.

No entanto, mesmo quando esteve em forma, Anderson não conseguiu provar que poderia ser útil. Por isso, acabou jogando metade da última temporada emprestado à Fiorentina, da Itália. Hoje, reintegrado ao elenco, tem futuro incerto. Depois do vexame da última terça-feira, dificilmente voltará a ter atenção de Louis van Gaal no elenco.  

Apesar do declínio pessoal, Anderson esteve no elenco do United durante anos vencedores. Foi um dos melhores amigos de Cristiano Ronaldo na Inglaterra e pôde comemorar quatro títulos nacionais, uma Liga dos Campeões, duas Copas da Liga, um Mundial de Clubes e duas Supercopas inglesas (Community Shield). Com 26 anos, ainda tem tempo de retomar o auge, mesmo que seja longe de Manchester.  

"Eu acredito muito no potencial desse rapaz. É um jogador novo, que futuramente ainda pode ter a oportunidade de disputar uma Copa do Mundo. É uma questão de objetivo pessoal. Eu vi o Ronaldinho Gaúcho fazer um Campeonato Brasileiro fantástico pelo Atlético-MG. Principalmente esses jogadores que têm nível de Europa são capazes disso, mas tem que ter a ambição pessoal. Se ele tiver isso, provavelmente vai voltar a seu melhor nível", diz Julinho Camargo, que além de Anderson trabalhou no sul do país na formação de nomes como Thiago Silva, Daniel Carvalho, Lucas e Carlos Eduardo.