Topo

Após fazer BO, Aranha cobra atitude de torcedores que não coibiram racismo

Guilherme Costa e Marinho Saldanha

Do UOL, em São Paulo e Porto Alegre

29/08/2014 14h24

O goleiro Aranha viveu na última quinta-feira (28) uma situação triste, mas não inédita para ele. O titular do Santos foi alvo de ofensas racistas da torcida do Grêmio no segundo tempo de um jogo válido pelas oitavas de final da Copa do Brasil. Nesta sexta-feira (29), Aranha fez boletim de ocorrência sobre o fato e reforçou a necessidade de responsabilizar os torcedores responsáveis pelo ato. No entanto, lembrou que quem viu as manifestações e não fez nada também foi conivente.

“Se você está no meio de 20 ou 30 pessoas e uma minoria age assim, a maioria não se manifesta. Sempre falam que é coisa de um ou dois. Se foi um ou foram dois, por que abafam? Tinha dois negros me xingando. Quem não é racista tem de tomar uma atitude. Muitos torcedores mostraram ódio de mim, mas ninguém fez nada. Isso é maior do que o futebol”, disse o goleiro ao sair da delegacia.

Aranha disse que o que aconteceu na Arena Grêmio não foi inédito para ele: “Aqui no Rio Grande do Sul isso é muito pesado. Já passei por essa situação, mas deixei de fazer algo porque não tinha provas”.

As ofensas racistas a Aranha aconteceram no segundo tempo da vitória do Santos por 2 a 0, válida pelo jogo de ida das oitavas de final da Copa do Brasil. Imagens do canal fechado “ESPN Brasil” mostraram Patrícia Moreira, torcedora do Grêmio, chamando o goleiro de “macaco”.

“Hoje em dia está na moda as pessoas usarem esse tipo de situação para se promover. Não era minha intenção”, ponderou Aranha. “Fico aliviado porque as imagens provaram que as atitudes que eu tive foram verdadeiras. Se não tivesse conseguido as imagens, ficaria muito no disse que disse”, completou.

O boletim de ocorrência registrado por Aranha nesta sexta-feira foi uma forma de dar andamento ao caso, mas o inquérito já estava aberto antes disso. O goleiro e o Santos esperam punições, mas não vão adotar postura ativa sobre o caso.

“O que temos de deixar claro é que o inquérito já havia sido aberto porque crime de racismo é julgado por ação pública incondicionada. Na conclusão do inquérito é que o promotor oferece a denúncia, mas isso não depende da vítima”, disse Cristiano Caús, advogado do Santos.

Além da ação na esfera criminal, o caso pode ter desdobramentos na Justiça Desportiva. O STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) pode denunciar o Grêmio por causa do incidente – o time gaúcho deve ser enquadrado no artigo 243-G do CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva), que pode até excluir a equipe tricolor da Copa do Brasil.

“Nos dois casos, não há participação do Santos e tampouco do Aranha. Somos observadores, mas concordamos que os culpados sejam punidos”, explicou Caús. “Não gostaria falar sobre a chance de haver uma exclusão. Teríamos um benefício esportivo, e a discussão agora não é essa. É algo muito maior do que o futebol”, finalizou.