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Kaká vira o "rei da zoeira" no São Paulo

Kaká provoca colegas durante rachão no centro de treinamento do São Paulo - Divulgação/São Paulo FC
Kaká provoca colegas durante rachão no centro de treinamento do São Paulo Imagem: Divulgação/São Paulo FC

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

04/09/2014 12h00Atualizada em 05/09/2014 19h11

O elenco do São Paulo posava para uma “foto oficial” antes de um treino recreativo na última quarta-feira. Estavam todos lá: Rogério Ceni, Kaká, Paulo Henrique Ganso, Luís Fabiano, Alan Kardec... Gripado e febril, Alexandre Pato havia sido poupado dos trabalhos em campo – um vento frio castigava a cidade naquela tarde. Alto o suficiente para que jogadores, comissão técnica e jornalistas ouvissem, Kaká disse: “Sem o Pato em campo, a vitória é certa!”

Todos riram. Pato e Kaká são muito amigos. Amigos desde que o atacante foi jogar no Milan, e o meio-campista tinha acabado de ser eleito o melhor jogador do mundo. Kaká sempre foi a imagem da serenidade, da sobriedade, sempre pareceu ter a cabeça no lugar em um meio onde muitos perdem a cabeça por muito pouco. Sempre foi um ídolo para uma parte da torcida, a materialização do pequeno príncipe para outra, mas agora, em sua segunda passagem pelo time do coração, vem se mostrando também o rei da zoeira, o embaixador da molecagem, o cara que não perde os amigos e muito menos as piadas.

Kaká tem 32 anos, mas parece ter uns vinte a menos no meio de seus colegas no centro de treinamento do São Paulo. Naquele mesmo rachão (como os jogadores chamam as peladas que disputam antes de jogos importantes), logo após “cornetar” Pato, Kaká ameaçou partir para cima do preparador físico José Mário Campeiz, que apitava a pelada.

Fingiu discordar de uma marcação do preparador, deu dois passos em direção e ele e agarrou seus braços, enquanto o profissional dava dois passos atrás e tentava se desvencilhar (ajuda a imaginar a cena a informação de que Campeiz é ao menos vinte centímetros mais baixo do que a maioria dos jogadores são-paulinos, inclusive Kaká).

Depois disso, quando o lateral Luis Ricardo errou um passe e isolou uma bola pela lateral, Kaká, que estava do outro lado do campo e nada tinha a ver com o lance, começou a aplaudir: “Parabéns, Luis, tá jogando certinho, cara.”

Quando seu time fez um gol, ele se aproximou do banco de reservas onde estavam alguns jogadores e membros da comissão técnica e levou a palma da mão à orelha, como se estivesse provocando a torcida adversária durante um clássico.

Para quem acompanha os treinos da equipe, Kaká é o atleta mais sorridente, o mais brincalhão e, aparentemente, o que se sente mais à vontade contando piadas e circulando no meio dos outros jogadores. Nas pausas dos trabalhos, é comum vê-lo aos cochichos com um colega, depois dos quais ambos explodem em gargalhadas.

Na terça-feira, durante uma roda de bobinho, Kaká passou uma bola entre as pernas de um dos outros jogadores, virou-se aos cinegrafistas que acompanhavam o treino e perguntou, às gargalhadas: “Filmou isso? Tem que filmar, filma isso!”

No mesmo dia, empolgou-se ao liderar o trote a Pato, que completou 25 anos e recebeu como presente de aniversário um banho de farinha, ovos e jatos de bebida energética. Kaká parecia estar se divertindo bastante. Quando Pato já estava sozinho, limpando os olhos da sujeira lançada pelos companheiros, Kaká se aproximou por trás e lhe lançou uma última ovada.

2.set.2014- Alexandre Pato completa 25 anos e leva ovada de Kaká e colegas após o treino do São Paulo: "Parabéns Alexandre Pato! Muitas felicidades, muita saúde, muita paz, muita alegria e muitos e muitos gols! Que Deus te abençoe sempre quebradeiraaaaaaaa!", escreveu Kaká no Instagram  - Reprodução/Instagram/Kaká - Reprodução/Instagram/Kaká
Kaká comandava trotes nos jogadores em 2014
Imagem: Reprodução/Instagram/Kaká

Em outra ocasião, o doutor José Sanchez dava entrevista ao UOL Esporte sobre a situação clínica do elenco, quando Kaká passou por ele e avisou: "Não vai contar mentira aí, doutor!" Sanchez, um senhor de cabelos brancos e quase 30 anos de serviços prestados ao clube, sorriu um pouco sem jeito. "Estou tentando..."

“Quando as coisas funcionam bem fora de campo, isso é transmitido para dentro do campo”, disse o atacante Alan Kardec, sobre a relação de amizade e o clima de brincadeira eterna entre os jogadores.

Desde seus primeiros dias de São Paulo, Kaká começou a exercer uma liderança incontestável sobre os companheiros, uma liderança que nasce da maneira próxima e afetiva com a qual ele trata os demais. Uma liderança diferente da de Rogério Ceni, que, mais velho, é visto mais como um chefe do que como um colega.

No caso de Kaká, como a fase é boa e o time encontrou um sólido estilo de jogo com ele em campo, a diversão parece não ter fim. Depois de uma fase atribulada na carreira, depois de sofrer com lesões e amargurar o banco de reservas, de fechar um contrato sólido para jogar nos EUA e de poder, mesmo assim, voltar a defender a torcida que mais o admira, o ex-melhor do mundo está se sentindo leve e novamente em casa no Morumbi. Ele ficará lá até o fim do ano.