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Aranha já foi confundido com bandido por estar junto a um branco em 2005

Na época, o goleiro tinha 24 anos e disse ter sido agredido pela polícia em Campinas - Terceiro Tempo
Na época, o goleiro tinha 24 anos e disse ter sido agredido pela polícia em Campinas Imagem: Terceiro Tempo

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

07/09/2014 12h00

O goleiro Aranha, vítima de ofensas racistas por parte da torcida do Grêmio, já foi confundido com um sequestrador e tratado como um criminoso por policiais quando morava em Campinas e defendia a Ponte Preta, em 2005. Em entrevista coletiva no último sábado, a reportagem do UOL Esporte pediu para que ele relembrasse esse episódio que marcou sua vida.

Ele contou que estava em um carro junto com duas outras pessoas negras, uma delas nordestina, e levava uma criança branca para o hospital. Uma outra pessoa, que passava em um ônibus ao lado do carro, estranhou a cena e fez uma denúncia anônima à Polícia Militar, informando a placa e as características do veículo.

Aranha foi abordado na frente do hospital.

“O policial veio até mim e, claro, como uma denúncia séria dessas, não vou dizer que tenha chegado e dito, ‘por favor, com licença’. Ele tratou a situação de maneira dura. Eu entendi a situação, mas fiquei chateado”, disse o goleiro.

Na época Aranha abriu um boletim de ocorrência acusando os PMs de terem lhe dado um soco e um chute. O goleiro também ficou algemado por cerca de dez minutos, no chão, e só foi liberado quando um diretor da Ponte Preta chegou e informou à Polícia de que se tratava de um jogador de futebol.

“Eles chegaram e falaram que era para eu ficar quieto porque eu era suspeito. Depois me algemaram, me deitaram no chão e perguntaram onde estava a arma", declarou o jogador ao jornal Folha de S.Paulo, em 2005. “Passei muita vergonha. Uma pessoa até me reconheceu.”

A própria PM admitiu que houve um equívoco na ação dos policiais. O caso acabou arquivado. “Eu fiz o que tinha que fazer, fiz a denúncia, o corpo de delito. Acabei entendendo a situação dele [policial que o agrediu]. Não que eu tenha ficado feliz com o desenrolar do caso, mas entendi.”

Questionado sobre se considera que o episódio tenha relação com racismo, o goleiro disse que não saberia dizer. “É complicado porque não dá para saber a intenção da pessoa que fez a denúncia. Se ela agiu de boa fé ou se ligou para, digamos assim, sacanear.”