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Cilinho diz que Gilmar Rinaldi, coordenador da CBF, "não é confiável"

Cilinho treinou o São Paulo nos anos 1980 e ganhou os Paulistas de 85 e 87 com Gilmar - Fernando Santos/Folhapress
Cilinho treinou o São Paulo nos anos 1980 e ganhou os Paulistas de 85 e 87 com Gilmar Imagem: Fernando Santos/Folhapress

Adriano Wilkson e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

09/09/2014 13h50

Otacílio Pires de Camargo, conhecido como Cilinho, era considerado um dos melhores treinadores do país na década de 1980, época em que comandava o São Paulo e ajudou a reformular o elenco tricolor, valorizando as categorias de base. Ele era o treinador da geração são-paulina que ficou conhecida como os "Menudos do Morumbi". Um dos atletas que trabalhou com Cilinho foi Gilmar Rinaldi, hoje coordenador de seleções da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

Mas o início de uma conversa sobre como Cilinho avalia a reformulação do comando da seleção brasileira serviu para que fosse revelada uma impressão absolutamente negativa do ex-treinador sobre Gilmar. Cilinho guarda péssimas lembranças do então goleiro. Juntos, os dois foram campeões paulistas de 1985 e 1987. O ex-técnico recorda um episódio em que Gilmar teria entrado em conflito com o goleiro chileno Rojas, que havia sido recentemente contratado, e afirma: "Gilmar não é confiável”. A reportagem tentou contato com Rinaldi, sem sucesso. Confira a entrevista com o ex-treinador.

UOL Esporte: Como avalia a mudança de comando na CBF após a Copa do Mundo de 2014 e o retorno de Dunga como treinador?
Cilinho:
O Dunga fez um trabalho inicial na seleção brasileira e quando ele foi convocado era para ser administrador da base, mas o Ricardo Teixeira estava muito pressionado, ele passou rápido o cargo para o Dunga e colocou a imprensa nas costas. O Dunga fez um trabalho bom, agora ele precisa ter esse jogo de cintura para saber como ele vai agir na categoria olímpica. Se eu estivesse nessa comissão técnica da seleção brasileira eu já ia bater na porta do presidente da CBF para evitar o assédio do zagueiro David Luiz. Premiaram ele antes do tempo do como o maior jogador da Copa, tanto é que foi planejado pelo adversário, porque ele é muito jovem, ele já é empolgado por natureza. Ele se empolgou e entrou de centroavante num jogo. Por que isso?

UOL Esporte: Gostou do Gilmar Rinaldi, com quem você trabalhou no São Paulo, agora na CBF como coordenador de seleções?
Cilinho:
 Gilmar não é confiável. Ele trabalhou comigo no São Paulo, foi meu goleiro, nós contratamos o Rojas lá no Chile porque eu como treinador e Juvenal Juvêncio presidente ficamos empolgados com uma atuação. O Rojas fez contrato com o São Paulo e o Gilmar Rinaldi tentou interferir, tentou atrapalhar, tentou fazer a cabeça de companheiros, ficava no banco e fazia figa. Foi lamentável, mas não conseguiu o objetivo porque o Rojas teve muita personalidade. O Rojas fez grandes atuações e eu também sempre fiz justiça no meu trabalho. Eu sempre preferi escolher o melhor. A prepotência também de querer sempre ter o contato com a imprensa na frente dos outros sem parecer que tudo foi planejado.

UOL Esporte: Você ainda acompanha muito futebol?
Cilinho:
Eu acompanho tudo, estou mais atualizado do que nunca e lamentavelmente eu desaprendo assistindo televisão. O jogador brasileiro está mal treinado, o menino está mal treinado. Não existe nenhuma orientação das Federações, não tem nenhuma orientação da CBF... Eu nunca fui convidado pra fazer, por exemplo, um curso aqui em Campinas pra todos esses treinadores de base e profissionais da área física, que são formados, mas que não tem espaço pra saber como desempenhar o trabalho. Todos eles pensam na base e no profissional ao mesmo tempo. Como esse treinador não tem essa orientação só para a base ele assiste o que está sendo feito no time profissional a aplica no time de base.

UOL Esporte: Na sua análise, estamos muito atrasados na questão tática no futebol principalmente depois dos 7 x 1 contra a Alemanha na Copa do Mundo?
Cilinho:
 Eu confesso a você que eu estou desaprendendo. A gente tem que falar sobre o topo, seleção brasileira. O Felipão entra com as camisetas e joga as camisetas para os atletas. Nós estamos tão atrasados que o treinador só distribui camisa. Nós estamos muito debilitados nesse projeto todo do treinador aqui no Brasil. A nova geração vai aprender com quem? Tem que pagar um curso. Quem é o treinador da seleção atual? É o Dunga. Quem é o treinador da base? Por que a seleção principal não tem o mesmo para a seleção olímpica? Deveria, porque os meninos seriam preparados e jogariam com ele daqui a 3, 4 anos. O treinador da seleção brasileira tem que ser responsável pela seleção olímpica porque ele vai conviver com esses meninos, ele vai notar as diferenças que existe quando veste uma camisa de um clube e da seleção. Ele vai educar o garoto dentro do projeto dele, na forma de atuar, ficar a par do detalhe técnico do garoto, da habilidade dele; o que ele necessita pra subir de produção ou não. A seleção olímpica tem que jogar a cada dois meses em cada estado. Ele vai a Pernambuco, Manaus, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. E o que significa isso? Ela fica em atividade, pode enfrentar seleções estaduais, partricipar de reuniões com os técnicos dos outros estados.

UOL Esporte: Você teve problemas quando trabalhou no Corinthians?
Cilinho:
 Eu mostrei ao comando do Corinthians o que é que tinha que ser feito na base do clube: o tipo de planejamento tinha que ser feito com os garotos e o que era necessário para melhorar o centro de treinamento. Tanto é que o São Paulo fez à risca os detalhes todos (que pedi) e hoje tem o melhor centro de treinamento do Brasil, que pode ser comparado aos maiores do mundo. Quando a gente toma essa posição de trabalhar pelo clube, trabalhar para o torcedor, dar espetáculo e trabalhar para os meninos, isso pega. O bicho pega porque você mexe com as pessoas que precisam decidir quanto deve ser investido...

UOL Esporte: E por que não deu certo?
Cilinho:
Às vezes você chega com um bom garoto e vai para um clube, mas ele não tem espaço. O espaço está sendo preenchido por jogadores de empresários, e no Corinthians o bicho pegou porque, segundo o presidente Andrés Sanchez, não havia a possibilidade dele atender à minha solicitação. Eu pedi justamente para ele emancipar a base do Corinthians. Teríamos tudo próprio: campo oficial, residência para os pais de jogadores que vem de fora, alimentação, nutricionistas, assistentes sociais. Mas o Andrés alegou que não tinha condições financeiras de fazer naquele momento esse trabalho para base. O projeto ficou lá no Corinthians. Espero que o Corinthians um dia aproveite este projeto porque o clube já revelou grandes jogadores na base.

UOL Esporte: Em 1985, no São Paulo, você deixou Falcão no banco de reservas. Houve algum motivo especial?
Cilinho:
“O Falcão tem um excelente caráter, é um homem de caráter. Foi um jogador de muita personalidade. Ele foi contratado, e o objetivo do São Paulo foi alcançado. Ele não tinha condições iniciais de jogo e foi a Campinas para fazer tratamento, voltou para São Paulo e ficou quase um mês com o Bebeto de Oliveira. Só depois começar o trabalho com bola. Aí, quando ele teve a oportunidade de fazer os trabalhos com bola, ele voltou a campo, começou a jogar e foi campeão pelo São Paulo. Mas o diálogo nosso sempre foi da melhor qualidade, diálogo de gente grande, um dialogo na base da responsabilidade, de amizade e de competência. Eu passei a admirar o Falcão por causa disso.