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Novo rival de Neymar 'vira' espanhol e tem ascensão incrível em 15 dias

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo

09/09/2014 06h00

Há 17 dias, o grande objetivo do jovem atacante Munir El-Haddadi, então com 18 anos, era jogar pela primeira vez pela equipe principal do Barcelona. Em pouco mais de duas semanas, a carreira do novato foi atingida por sucessivas reviravoltas positivas: a lesão de Neymar, a estreia como titular, o primeiro gol, a manutenção na equipe e a convocação para a seleção espanhola. Sim, Munir fez apenas seu terceiro jogo da vida como profissional nesta segunda-feira, na goleada da seleção espanhola por 5 a 1 sobre a Macedônia. Mas essa surpresa, diferentemente das outras que ele teve nos últimos dias, não se deve só à própria competência.

Até janeiro de 2014, quando ainda atuava com discrição pelo time B do Barcelona, Munir El Haddadi cogitava vestir a camisa da seleção do Marrocos, e não da Espanha. Seu pai, Mohamed, é marroquino e imigrou para a Espanha. A mãe, Zaida, é espanhola. Em março deste ano, foi chamado pela primeira vez para defender a equipe sub-19 da Espanha. Aceitou, ainda tendo como possibilidade defender o Marrocos – o jogador só faz a escolha definitiva quando representa a seleção principal em um jogo oficial, por mais que tenha defendido outro país nas categorias de base ou em amistosos, vide o atacante brasileiro Diego Costa, também naturalizado espanhol.

No dia 22 de agosto, Neymar, que já havia se recuperado da lesão na coluna que o tirou da Copa do Mundo, sofreu um problema no tornozelo. A lesão impediu que o brasileiro, companheiro de Lionel Messi no setor ofensivo, iniciasse a temporada 2014/15 na estreia contra o Elche. Munir, então, foi o escolhido do técnico Luis Enrique. Com poucos treinos para fazer antes da partida dois dias depois, e sem poder e escalar o uruguaio Luis Suárez, não havia ninguém melhor para escalar do que um ponta esquerda que já está habituado a jogar exatamente na posição de Neymar e no esquema do Barcelona. Munir entrou e, com 46 minutos de jogo, balançou as redes. Nasceu, então, o concorrente de Neymar.

O jovem ainda jogou como titular contra o Villarreal, no fim de semana seguinte. Não marcou gol, desta vez, e saiu de campo no segundo tempo para a entrada de Neymar. No dia seguinte, completou 19 anos.

Foi então que a Espanha, que perdera da França em amistoso no primeiro jogo após a Copa do Mundo de 2014, se viu no dever de convocar mais um jogador. Diego Costa, ex-Atlético de Madri e hoje no Chelsea, foi cortado por lesão. O técnico Vicente Del Bosque, então, fez aquilo que já se comentava na Espanha como possibilidade: chamou Munir.

É óbvio que o jovem do Barcelona ainda não mostrou futebol para justificar sua convocação. Afinal, jogou cerca de 60 minutos de apenas duas partidas como profissional. Havia outras muitas opções que seriam mais pertinentes que a convocação do hispano-marroquino se a lógica fosse a qualidade demonstrada em campo. Mas o chamado a Munir, se colocado em campo contra a Macedônia, na primeira partida pelas eliminatórias da Eurocopa de 2016, resultaria na garantia que ele nunca mais poderá defender o Marrocos. E assim foi feito: aos 31 minutos do segundo tempo do jogo em Valencia, nesta segunda-feira, Del Bosque tirou Koke e colocou Munir em campo quando a Espanha já goleava por 4 a 1. Para sempre, Munir será espanhol.

Quando convocou o jovem, Del Bosque tentou justificar. Disse que o chamou apenas porque ele já estava no centro de treinamento da seleção espanhola com o time sub-21, treinado pelo ex-jogador do Real Madrid Albert Celades. O chamado, então, seria o mais lógico: Munir apenas mudaria de quarto dentro das dependências do CT, localizado em Madri. Depois da partida contra a Macedônia, o treinador campeão do mundo em 2010 foi claro: estreia positiva, agora se espera que o jogador mantenha o nível no clube. “Para nós é uma alegria que Munir possa estrear com 19 anos. Agora temos que ver como ele segue no clube”, falou o treinador.

Tentativa ou não de garantir Munir El-Haddadi como convocável para sempre, os pouco mais de 14 minutos em campo em Valencia, em seu terceiro jogo em um time principal, garantiram a realização de um sonho para o jovem: “Realizei um sonho de infância, a camisa vai ficar de lembrança”, falou.

A nova cara da Espanha não tem os traços de Munir. Tem a cara de Fàbregas, a dinâmica de Koke, a técnica de David Silva e os gols de Diego Costa. Mas terá, provavelmente em 2018, um pouco de todas essas qualidades reunidas em um jovem que há nove meses pretendia defender o Marrocos.