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Tapetão e fraude milionária ajudaram clube mexicano a contratar Ronaldinho

Do UOL, em São Paulo

11/09/2014 06h00

Quando Ronaldinho Gaúcho aceitou jogar em um clube pouco conhecido do México, você certamente pensou: Por que ele foi até lá? A história começa com um tapetão, mas esquenta mesmo com uma fraude de US$ 500 milhões (R$ 1,1 bilhão) que forçou o Querétaro a mudar de mãos e ser comprado pelo mecenas que, por fim, contratou o astro brasileiro.

A história é inusitada para um time que, em 60 anos, só passou 11 temporadas na primeira divisão do México. Há um ano, aliás, o Querétaro estava rebaixado mais uma vez.

A história do tapetão
O clube, à época, era comandado pela empresa Oceanografía, um conglomerado mexicano especializado em estudos geofísicos em alto mar. “E por que uma companhia de uma ramo tão específico investe em futebol?”, você há de se perguntar.

Amado Omar Yañez (guarde esse nome), o dono da Oceanografía, tentou ser jogador na infância e é apaixonado por futebol. Por isso, resolveu investir na área.

Mas voltando ao rebaixamento... No Clausura de 2013, que terminou no fim do primeiro semestre, o Querétaro terminou na última colocação geral. A queda era certa, mas Yañez aproveitou-se das dificuldades financeiras do Jaguares, que acabou o torneio no meio da tabela, para manter seu time na divisão principal.

No México, os times funcionam quase como nas ligas americanas, em formato similar ao das franquias. O dono do Querétaro, então, comprou o Jaguares. Com o espólio do clube, veio a vaga na divisão principal, o que impediu o rebaixamento do atual clube de Ronaldinho.

“O Jaguares foi vendido à empresa Oceanografía e ela vai transferi-lo, de acordo com os artigos 49 e 56, à cidade de Querétaro. O movimento está contemplado nas regras que são públicas e de conhecimento de todos, de modo que não se está fazendo nada errado”, disse Decio de Maria, presidente da Liga Mexicana, ao site “MedioTiempo.com”.

Foi uma manobra polêmica, mas que atingiu seu objetivo prático, que era salvar o Querétaro da queda. Só que o maior escândalo ainda estava por vir.

Os US$ 500 milhões
A Oceanografía, como já foi dito lá atrás, é especializada em trabalho geológicos marinhos. Sua existência e êxito financeiro, nos anos 2000, se devem especialmente às parcerias comerciais que firmou com a Pemex (Petróleos Mexicanos, espécie de Petrobras do México).

No começo de 2014, veio a público que o banco americano Citibank estava investigando a sua filial mexicana (Banamex) por uma fraude milionária que identificou. O caso se desenrolou e chegou à Procuradoria Geral do México com a Oceanografía como protagonista. Ela teria desviado US$ 500 milhões (R$ 1,1 bilhão) nos anos anteriores.

A investigação tomou a imprensa de assalto e descobriu-se que parte dos contratos que a Oceanografía assinou com a Pemex eram irregulares. As denúncias do jornal “El Universal” atingiram os ex-presidentes Vicente Fox e Felipe Calderón, que comandaram o México de 2000 a 2012 e não impediram a corrupção em uma das principais estatais do país. 

Amado Yañez (lembra dele?), dono da Oceanografía e do Querétaro, teve seu sigilo fiscal quebrado e chegou a ser detido. Descobriu-se que o rombo era tão grande que ativos da empresa teriam de ser vendidos. Um dos principais deles foi justamente o clube de futebol, que serviria para quitar parte das dívidas da Oceanografía com seus credores.

Mecenas e Ronaldinho
É aí que, aos poucos, o México começa a se tornar um destino viável para o craque brasileiro. Os primeiros candidatos ao negócio foram investidores modestos, um ex-empregado de Yañez à frente de todos, mas a transação não andou.

Quem levou foi o Grupo Ángeles,  dono de diversos veículos de mídia, uma cadeia de hospitais particulares e a rede de hotéis Camino Real, entre outros empreendimentos. Olegário Vazquez Raña, dono do conglomerado, é um figurão do mundo empresarial mexicano. É amigo de Carlos Slim, um dos homens mais ricos do mundo, dono da Claro e irmão de Mário Vazquez Raña, membro do COI (Comitê Olímpico Internacional) e presidente do Comitê Olímpico Mexicano.

“Em nome do meu pai e de mim mesmo, concluímos um sonho que alimentamos durante muitos dias, semanas, meses e anos”, disse Olegario Vazquez Aldir, filho de Raña, que passou a tocar o projeto, ao jornal El Universal.

Foi Vazquez Aldir quem anunciou, no Twitter, mais de três meses depois, a primeira grande contratação da sua gestão. Os salários não foram revelados, mas Ronaldinho vai ao México pela promessa de receber muito de uma fonte farta, em uma liga longe de seu melhor momento e na qual não deve ter dificuldade de se destacar.

Ronaldinho Gaúcho é esperado em Querétaro nesta quinta à noite (1h de quinta para sexta, no horário de Brasília), quando será apresentado à torcida. Há a expectativa de que ele possa entrar em campo já na sexta, contra o Puebla, pelo Campeonato Mexicano. O mais importante para os fãs, porém, é ver que os tempos no clube são outros.