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Gremista acusada de racismo põe casa para alugar e evita Porto Alegre

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

13/09/2014 06h00

Patrícia Moreira não quer mais voltar para Porto Alegre. A jovem de 23 anos flagrada em atos racistas contra o goleiro Aranha, do Santos, no jogo entre as duas equipes pela Copa do Brasil no último dia 28, colocou a residência onde morava para alugar e tenta recomeçar a vida o mais longe possível da repercussão do caso, que ainda a acompanha.

Patrícia, segundo seu advogado, Alexandre Rossato, precisou de ajuda médica, sofreu muito esteve abalada com tudo que sucedeu a partida de ida das oitavas de final da Copa do Brasil. Na ocasião, a moça fez algo que era comum nos dias de jogo do Tricolor, foi sozinha à Arena para acompanhar a partida na arquibancada norte, local onde o ingresso é mais barato.

Mas, irritada pelo resultado adverso de 2 a 0, chamou o camisa 1 santista de 'macaco' repetidamente, foi flagrada pelas câmeras de transmissão da partida e as imagens rodaram o mundo. Desde então, a vida jamais foi a mesma.

Primeiro ela, que morava sozinha em residência de esquina no bairro Passo das Pedras, zona norte de Porto Alegre, 'fugiu' da cidade. Acompanhada dos irmãos, deixou a capital gaúcha para evitar contato com a imprensa. A casa, então, permaneceu fechada por dias.

Na data marcada pela polícia ela depôs, admitiu os xingamentos, negou racismo. Dias depois concedeu entrevista coletiva e mais tarde ainda, até esteve nos estúdios da Rede Globo participando do programa Encontro com Fátima Bernardes.

"Ela perdeu o contexto, perdeu a vida dela. Já foi julgada pela sociedade, mesmo sem ser julgada na Justiça", afirmou o advogado.

E sem tal contexto, resolveu colocar para alugar a casa que havia sido dos pais. Mas acabou ficando apenas para ela com os casamentos dos irmãos, a morte do pai e a busca da mãe pela retomada da vida com novo casamento.

O local, porém, precisará passar por reformas. Na madrugada de sexta-feira, Elton Grais, que é vizinho de Patrícia, tentou incendiar a residência. Detido,o homem de 28 anos admitiu o ato de vandalismo e disse que 'estava com nojo' da gremista. Com passagens anteriores na polícia por tráfico de drogas e porte ilegal de armas, ele teve prisão preventiva decretada.

O irmão, Sidney, é quem cuidará de tudo. O local, depois de limpo e com as correções necessárias, será alugado. Patrícia não quer voltar a Porto Alegre nem por motivos pessoais e tentará encontrar caminho o mais longe possível de qualquer repercussão que o caso ainda possa ter.

"Eles era uma família querida por todos. Nossos amigos desde criança. A Patrícia ficou com a casa que era dos pais, sou muito amigo do irmão dela. É uma pena. Ela não quer vir mais aqui. Todos sabem que a casa será alugada. Não tem mais clima para ficar aqui, nem mesmo na cidade. Estão dando uma proporção muito maior que o caso deveria ter", disse o vizinho Vladimir Brum, de 37 anos.

Nem mesmo o cachorro da família, Príncipe, conseguirá manter a rotina de antes dos atos racistas. Ele ficou na residência após a saída de Patrícia, era cuidado pelo irmão da jovem, mas acabou recolhido pela polícia após a tentativa de incêndio no local.

Patrícia e outros quatro torcedores devem ser indiciados pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul tão logo as investigações sobre os atos de injúria racial tenham fim. O prazo para isso é a próxima semana.