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Atlético-MG ganhou todas desde que acabou com concentração nos jogos em BH

Bernardo Lacerda

Do UOL, em Vespasiano (MG).

13/09/2014 06h01

Desde que Levir Culpi aboliu a concentração nos jogos em Belo Horizonte, o Atlético-MG não perdeu mais diante do seu torcedor. A sequência forte em casa faz com que o treinador até mesmo sonhe em brigar pelo título. A medida, que vai na contramão do futebol brasileiro, mas é comum na Europa, por exemplo, sofreu resistência da diretoria, mas é avaliada como bem-sucedida pelo alvinegro mineiro e será mantida.

O fim da concentração no Atlético-MG foi decretado por Levir Culpi no começo de agosto, antes da partida contra o Atlético-PR, no Independência. Depois de um pouco mais de um mês da decisão, o Atlético tem colhido frutos dentro de campo. Foram cinco vitórias seguidas, em Belo Horizonte, em 15 pontos disputados, o que significa aproveitamento de 100%.

O alvinegro venceu logo no primeiro jogo após o fim da concentração, quando bateu o Atlético-PR por 2 a 1. Depois disso, triunfou sobre o Palmeiras (2 a 1), Internacional (1 a 0) e Botafogo (1 a 0), todos pelo Brasileirão e diante do Palmeiras, por 2 a 0, na partida de volta das oitavas de final da Copa do Brasil, que o classificou para a fase seguinte da competição.

O modelo adotado por Levir Culpi é o mesmo estilo europeu e também adotado no futebol japonês. Os jogadores são liberados depois do treino da véspera do jogo disputado em Belo Horizonte e se apresentam apenas na hora do almoço no dia do confronto. Todos precisam almoçar na Cidade do Galo e seguem juntos para o estádio, independente se a partida acontecerá à tarde ou à noite.

A ideia de abolir a concentração em jogos em casa foi exclusiva de Levir Culpi, que conviveu com isso por sete anos no Japão. “Essa da concentração, a gente dá porrada nos jogadores, trata os jogadores sempre na porrada, mas mostramos que se eles se preservarem e cuidarem podem dormir em casa. É aquela coisa, estamos juntos? Então, estamos juntos mesmo, vamos fechar o elenco e dar confiança”, explicou o treinador.

Os jogadores atleticanos aplaudiram a medida do técnico. “É muito bom poder dormir em casa, com a família, seguir para a concentração apenas no dia do jogo. No mundo todo é assim. O Atlético sai na frente e os resultados estão mostrando que tem dado certo”, disse o zagueiro Leonardo Silva, atual capitão da equipe.

Para a medida adotada pelo treinador dar resultado, alguns jogadores mais experientes, casos do próprio Leonardo Silva e de Pierre, adotam papel importante no dia a dia. Os atletas procuram sempre conscientizar os companheiros para evitarem excessos e cumprirem o combinado. Aos poucos, a falta da concentração nas partidas como mandante já virou rotina.

“Cabe a cada jogador se conscientizar do que pode e não pode fazer. Tem de se cuidar. Mas a gente está mostrando que pode ser assim. Os resultados são bons, os jogadores todos gostaram”, reconheceu o atacante Jô, que tem atos de indisciplina em sua carreira. Recentemente, no próprio Atlético, foi multado por ‘sumir’ do clube, alegando problemas pessoais. Acabou reintegrado ao elenco, mas sem escapar da punição.

A iniciativa de Levir Culpi, que quando anunciou o fim da reclusão, chegou a dizer que se houvesse problema de indisciplina, deixaria o comando do Atlético, teve resistência de parte da diretoria. O diretor de futebol Eduardo Maluf foi contra a decisão, mas abriu mão a pedido do comandante.

“A gente deu confiança para os jogadores, falamos com eles que era um voto de confiança e que se desse certo poderia continuar. Foi uma decisão do Levir Culpi”, disse Maluf, ao UOL Esporte. O dirigente não vê, porém, ligação dos resultados positivos com o fim da concentração. 

“Os resultados positivos estão acontecendo pelo crescimento da equipe. Não porque eles não estão concentrando. A gente colocou para eles a importância de bom comportamento deles e tem dado certo”, acrescentou o diretor de futebol atleticano.

Maluf, porém, reconhece que a decisão foi bem aceita pelos atletas e se mostra animado com a medida inédita no futebol brasileiro. “Os jogadores adoraram, estão cumprindo, tem dado certo. É uma medida de confiança da diretoria e da comissão técnica com os jogadores e eles precisam corresponder”, ressaltou. 

Porém, o episódio envolvendo o atacante André, que teve divulgada fotos ‘apagado’ em uma balada em Belo Horizonte e que virou motivo de piada nas redes sociais, fez Levir Culpi se preocupar com o fim da concentração. Apesar do fato não ter acontecido na véspera de jogo e sim no dia seguinte à vitória sobre o Internacional, o treinador ficou chateado.

“Começa a ter notícias dessas (André na balada) desanima um pouco, mas a gente vai chamando, conversando, acertando, mas são decisões que a gente tem de tomar, as vezes a gente acerta e outras a gente erra”, reconheceu o comandante atleticano.