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Novela por Nilmar confirma 'Inter de Nietzsche'. Eterno retorno de reforços

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

16/09/2014 06h00

As idas e vindas da negociação por Nilmar reforçam uma tendência do Internacional nos últimos anos: procurar quem já jogou no clube para reforçar seu time. Encontrar no passado a solução para o presente e o futuro. Friedrich Nietzsche, filósofo alemão, teria facilidade para se identificar na política de futebol do Colorado. Afinal de contas, é dele o conceito do ‘eterno retorno’. A tese de que a vida nada mais é do que uma repetição sem fim dos mesmos atos.

Nas palavras de Nietzsche, a vida de agora seria exatamente igual a de ontem. E a próxima também, a seguinte da mesma forma. Com uma repetição exemplar de seus fatos, personagens e detalhes. Para o pensador, ao nascer, sempre retornaríamos para a primeira página de um livro único sobre nossas vidas, independentemente de quantas encarnações ocorressem. No Beira-Rio as contratações se encaixam na tese.

Nilmar talvez seja o ápice do eterno retorno vermelho. Revelado em 2003, negociado em 2004. Recontratado em 2007 e vendido outra vez em julho de 2009. Na mira dos dirigentes desde então, a cada seis meses fica perto e longe ao mesmo tempo. Com uma repetição de altos e baixos nas negociações para uma incrível terceira passagem pelo clube.

Além dele, o Colorado também tentou Fred e Taison na última janela de transferências. Os dois, obviamente, revelados no Beira-Rio. O meia foi para o Shakhtar Donetsk no ano passado e o atacante deixou Porto Alegre em 2010, logo após o título da Libertadores. Outro nome sondado no mesmo período: Sandro, volante que trocou recentemente o Tottenham pelo QPR. E, como não poderia deixar de ser, oriundo das categorias de base do clube.

Em 2013, os ciclos idênticos sem fim trouxeram Alex de volta ao Inter. Campeão da Libertadores, do Mundial e da Copa Sul-Americana entre 2006 e 2009, o meia deixou o Al Gharafa para reencontrar o clube gaúcho. E no passado estão outros exemplos.

A lista fica gorda com os casos de Rafael Sóbis. Vendido pelo Inter em 2006 e recontratado em 2010. Fabiano Eller, outro que saiu após o título da América e voltou anos depois. Bolívar, mais um que disse até logo depois da Libertadores e regressou em 2008. Renan, atualmente no Goiás, foi negociado em 2008 e recontratado quase 24 meses mais tarde. Tinga também.

Os giros do eterno retorno às vezes fogem da ordem. Como em janeiro, por exemplo. Ao voltar ao Beira-Rio, pela sexta vez (em mais um dos casos que Nietzsche entenderia bem), Abel Braga indicou Edinho. O volante, agora no Grêmio, é tratado pelo técnico como um filho que o futebol lhe deu.

No caso de Nilmar, o conceito de Nietzsche já esteve bem mais perto de se confirmar desta vez. O atacante já ouviu duas ofertas do Internacional, mas ainda não bateu o martelo. Os dirigentes chegaram a se irritar com a posição do empresário Orlando da Hora e afirmaram que não irão remontar a proposta salarial e de contrato.

“Temos que ter bom senso, feeling, e colocar na balança as coisas positivas e negativas. Deve terminar nesta semana (a negociação)”, disse Giovanni Luigi, presidente do Inter. “As pessoas têm de enxergar as coisas e ver o que é melhor e pior. Nem tudo é dinheiro. Vamos aguardar os próximos dias para ver se temos um final feliz”, completou.

Para ter um final feliz, o Internacional terá de esperar pela repetição do dia 14 de setembro de 2007. Foi quando o Colorado fechou a sua contratação pela segunda vez, após ter conseguido na Justiça sua liberação do Corinthians.