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Vender Pato ao SP em janeiro vale a pena. Corinthians sabe, mas quer mais

Guilherme Palenzuela e Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

24/09/2014 06h00

O São Paulo estuda as condições para tentar contratar Alexandre Pato de forma definitiva em janeiro, mas para bater o martelo, sabe que precisa torcer por uma conjuntura positiva. O Corinthians, interessado em se desfazer do jogador, só espera o tempo passar. A três meses da hora da definição, o clube do Parque São Jorge sabe que um negócio por 10 milhões de euros vale a pena, mas ainda quer mais pelo jogador.

Por enquanto, não existe conversa entre as partes. O São Paulo, como o UOL Esporte mostrou na última terça, estuda maneiras de levantar dinheiro até lá, enquanto o Corinthians está em compasso de espera.

O clube do Parque São Jorge, embora ainda não pense muito no assunto, sabe que o valor compensa, já que representa dois terços do que foi investido quando Pato chegou do Milan. A questão é que até janeiro o atacante pode valer mais, o que impede qualquer avaliação prematura sobre o negócio.

No meio do ano, quando estava em baixa no São Paulo e sem perspectivas de melhora, Pato poderia ter sido vendido por menos de 10 milhões de euros com facilidade. O problema é que não houve nenhuma proposta concreta pelo jogador, que seguiu no Morumbi e se reabilitou.

Beneficiado pela chegada de Kaká e pela melhora no nível técnico são-paulino, Pato está em seu melhor momento desde que voltou ao Brasil. Ele é artilheiro do clube no Brasileiro com oito gols e peça fundamental no esquema de Muricy Ramalho. Para a diretoria do Corinthians, o atacante hoje vale cerca de 16 milhões de euros (R$ 49,2 milhões).

Pato chegou ao Brasil no começo de 2013 por 15 milhões de euros (cerca de R$ 40 milhões, na cotação da época). Se o valor que imagina o Corinthians for comprovado no mercado, o negócio se paga e amortiza a frustração que a diretoria teve com o reforço, que saiu do clube pela porta dos fundos.

O problema é que essa projeção corintiana depende de uma conjuntura favorável. Em janeiro, no meio da temporada europeia, a janela de transferências costuma movimentar somas bem inferiores às do meio do ano. Para recusar os 10 milhões de euros do São Paulo e mandar o atacante ao exterior, ele precisaria contar com uma proposta estrangeira, prospecção difícil de ser feita no momento.

Além disso, a diretoria teria de medir o impacto político da venda de um jogador desse porte a um rival. O Corinthians, é bom lembrar, estará a menos de dois meses de sua eleição presidencial, e a contratação de Pato é apontada como um dos maiores erros da gestão de Mário Gobbi.

A direção corintiana, embora não seja alheia à "corneta" interna, tem um perfil menos passional que a média da cartolagem. Em tese, a rivalidade não iria interferir na oportunidade de um bom negócio. Até que a situação se concretize, porém, muita coisa pode acontecer e mudar esse cenário.

Só que os dirigentes sabem, hoje, que vender Pato por 10 milhões de euros, ainda que seja para o São Paulo, é um negócio razoável. O valor, por si só, paga dois terços do que foi investido no atleta no momento da compra. O clube se livra de um salário alto que iria até o fim de 2016 (veja detalhes dessa conta abaixo) e para de ficar à mercê da irregularidade do jogador.

Se não negociar Pato no começo de 2015, o Corinthians pode ver o jogador se desvalorizar caso passe por outro semestre ruim, como foram todos os anteriores ao atual. Na próxima temporada, vale lembrar, o São Paulo não deve ter Kaká, apontado como grande artífice da revolução do elenco tricolor, que acordou Pato e Ganso, entre outros, de um longo período de irregularidade.

Por isso, o negócio com o São Paulo está longe de ser carta fora do baralho no Parque São Jorge. A questão é que está muito cedo para que qualquer sinalização seja dada, sob o risco de prejuízo a uma futura negociação das mais delicadas.

O Corinthians emprestou Pato, mas não se livrou das despesas com o jogador. Mensalmente, gasta R$ 400 mil em salários - paga metade dos vencimentos enquanto o atacante joga pelo São Paulo. Na cabeça dos dirigentes corintianos, quanto mais tempo espera para vender, mais cresce a despesa e mais distante fica o clube de minimizar os danos causados pela contratação do jogador.

Em dezembro de 2012, o Corinthians pagou 15 milhões de euros ao Milan para contratar Pato. Na conversão da época, o investimento foi de R$ 40 milhões. Às despesas totais com o atacante também se soma o valor pago pelo Corinthians em salários em 2013 e em 2014, nos períodos em que ele atuou no clube e emprestado ao rival São Paulo. Ao todo, entre o valor pago ao Milan e salários, o Corinthians terá gastado valor próximo de R$ 55 milhões em Alexandre Pato até o fim deste ano. Para recuperar esse valor, o clube precisaria vende-lo em janeiro por 18 milhões de euros.

Até o fim do empréstimo ao São Paulo, que se encerra em dezembro de 2015, o Corinthians terá gastado R$ 60 milhões no investimento em Alexandre Pato, ao todo. Nessa data, para que recupere o investimento, seria necessário uma venda por 19 milhões de euros.

O contrato de Pato com o Corinthians vai até dezembro de 2016. Em um cenário em que o atacante retorne do São Paulo ao Parque São Jorge e que o Corinthians volte a pagar o valor integral de R$ 800 mil mensais, o investimento no jogador até o fim de seu vínculo, no fim daquele ano, terá sido de R$ 69 milhões. Para recuperar isso, só com uma venda por 22,4 milhões de euros.