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Aloísio diz que quase voltou ao Brasil e que é impossível paquerar chinesas

Danilo Lavieri

Do UOL, em São Paulo

29/09/2014 06h01

Aloísio não é mais o Boi Bandido. Mas isso fica longe de ser um problema. O atacante chegou à China, em Jinan, manteve as voadoras como sua marca registrada, já chegou ao 100º gol na carreira e tem um novo apelido: Boi Selvagem.

"Eles nem tinham como traduzir Boi Bandido", brinca o atacante do Shandong Lueng. A língua é só uma das diversas dificuldades que fizeram o atleta quase pedir para voltar ao Brasil. O jogador chegou a se arrepender, mas, com o passar do tempo, especialmente com a descoberta de mercados e restaurantes que não vendem só comida chinesa, o ex-são-paulino conseguiu se adaptar melhor ao Oriente.

O que não consegue fazer parte da adaptação é a rotina de conquistar mulheres. Ele admite que é impossível conseguir um beijo de uma chinesa e que o jeito é esperar a volta ao Brasil para matar as saudades. "Elas são muito tímidas e não entendo nada o que elas falam. E impossível!

Além das mulheres, Aloísio também considera impossível chamar a atenção de Dunga na China. Para ele, é impossível ser convocado, independentemente do rendimento que tiver na sua equipe. "Se um dia eu pensar em seleção, tenho de voltar ao Brasil ou ir para a Europa". 

Confira a entrevista completa com Aloísio

UOL Esporte: Como foi a sua adaptação à cultura chinesa?
Aloísio:
Olha, no começo eu pensei em duas três vezes em largar tudo e voltar, mas as coisas foram se encaixando. Comecei a conversar mais com as pessoas, conheci pessoas, saber onde tinham os mercados e restaurantes internacionais e aí ficou tranquilo. Estou aqui faz tempo já e não posso reclamar de nada da estrutura do clube. O torcedor me deixa à vontade e apoia. Eu já penso em ficar mais dois ou três anos. Estou acostumado. Pensaria duas vezes antes de voltar ao Brasil.

UOL Esporte: Qual a principal dificuldade que você encontrou?
Aloísio
: Olha, foi muito complicado no começo. Levei coisas do Brasil, porque eu sabia que não ia encontrar. Coisas como feijão, por exemplo. Agora, eu sempre peço para trazerem coisas do Brasil quando estão aqui me visitando. Feijão e Nescau eu sempre penso. Também compramos carnes brasileiras. Pela cultura, eu experimento também comida chinesa, mas fico mais no restaurante italiano mesmo (risos).

UOL Esporte: Passa por dificuldades com a língua? O que você tem feito para se virar?
Aloísio:
Toda hora isso acontece... A gente tenta conversar, procura tradutor, chega um tradutor para fazer a tradução, vai tentando na mímica, falar inglês um pouco, é bem complicado. Foi o mais difícil desde que cheguei, essa coisa de não entender. Mas palavrão eu sei todos (risos). E também tratamos de ensinar eles com algumas palavras nossas também.

UOL Esporte: E em relação ao treino? É muito diferente?
Aloísio:
A comissão é toda brasileira, então a gente treina do mesmo jeito que aí no Brasil. Às vezes dois períodos, às vezes um. Mas como estamos jogando de quarta a domingo, aqui tem sido a mesma coisa.

UOL Esporte: Essa quantidade de brasileiro ajuda na adaptação, certo?
Aloísio:
Isso. O Cuca trouxe a comissão inteira dele, com preparador, dois auxiliares, fisioterapeuta, roupeiro... São dez ou 11 pessoas, além de Vagner Love, Urso e o Montillo, que é praticamente um brasileiro. Eu fico muito com a família do Vagner aqui, com os amigos dele. Sempre fazemos noite de jantar de comida brasileira...

UOL Esporte: E para sair? Como é a à noite na China?
Aloísio
: As baladas aqui são legais. Tentamos aproveitar quando estamos de folga e conseguimos curtir. A nossa cidade não tem muita balada, tem uma só que vamos para ficar mais tranquilos, tomar uma cervejinha... Mas igual ao Brasil não tem. Não é a mesma coisa.

Aloisio comemora na Liga Asiática, pelo Shandong Luneng FC - Masashi Hara/Getty Images - Masashi Hara/Getty Images
Aloisio comemora na Liga Asiática, pelo Shandong Luneng FC
Imagem: Masashi Hara/Getty Images
UOL Esporte: Mas dá para tentar alguma coisa com a mulher chinesa?
Aloísio
: Sem chance! Não tem como (risos). É complicado, pela língua e porque elas são muito envergonhadas. Os rapazes daqui são mais na dele, então eu também fico na minha. Até porque nem dá para conversar.

UOL Esporte: E os torcedores? Como é a relação com eles?
Aloísio:
Pô, eles têm vergonha, chegam daquele jeito meio desconfiados, mas a gente percebe que eles estão loucos para tirar uma foto. O torcedor apoia muito a gente aqui. Sempre que estou com Vagner e Montillo eles sempre pedem para tirar foto.

UOL Esporte: Eles gostaram da voadora? Essa ainda é a sua comemoração por aí?
Aloísio:
A voadora foi algo marcante na carreira, porque fiz isso no São Paulo, no Figuieirense... No primeiro jogo que fiz aqui, eles fizeram aquela vibração típica deles: “Oooooooo”, daquele jeito asiático, sabe? São coisas diferentes de asiáticos.  Vou continuar fazendo isso, nem tem como. Eu faço gol e meus companheiros já ficam pedindo para dar a voadora.

UOL Esporte: E seu apelido agora? Ainda é Boi Bandido?
Aloísio
: Aqui eu virei Boi Selvagem. Eles não tinham tradução para Boi Bandido, então eu virei o Boi Selvagem.

UOL Esporte: Você acompanha o Brasileirão?
Aloísio:
É difícil, por causa do fuso horário. Então a gente vê os gols, o replay das maiorias dos jogos. Mas eu sempre entro nos sites para saber o que está acontecendo. Acompanhamos bastante por aqui. E fico sempre torcendo pelos clubes que eu tive passagem. E também torço pelo São Paulo porque o Rogério merece um título no último ano de carreira.

Aloisio dá voadora em seu primeiro gol no futebol chinês - Reprodução/osports.cn - Reprodução/osports.cn
Aloisio dá voadora em seu primeiro gol no futebol chinês
Imagem: Reprodução/osports.cn

UOL Esporte: Você chegou agora ao seu 100º gol, é um dos artilheiros do time... Vive uma boa fase. Dá para sonhar com seleção se conseguir arrebentar em todo jogo?
Aloísio:
Não. Não tem como. É muito difícil e passa bem longe da minha cabeça. Se um dia eu pensar em seleção, eu vou ter de voltar ao Brasil ou jogar na Europa, em alto nível. Aqui na China vai ser impossível chegar à seleção.

UOL Esporte: Mas o nível aí é muito baixo?
Aloísio:
Está melhorando agora. Os times estão contratando bastante estrangeiros, o nível tá melhorando bastante. Não está tão abaixo do que é no Brasil. Driblar um zagueiro chinês está cada vez mais complicado.

UOL Esporte: Então você recomendaria a um colega jogar aí na China?
Aloísio:
Eu ia perguntar sobre o time, porque aqui temos alguns bons times e temos outros que não pagam. São coisas complicadas aqui da China. Se falar que joga no meu time, eu ia falar para vir de olhos fechados. São coisas isoladas (de não pagar salário), mas acontece. E nem sempre ficamos sabendo de tudo, porque nem entendo todo o noticiário.